Bloomberg Línea — Um dia depois de comunicar ao mercado que gostaria de estar mais presente na gestão da BRF (BRFS3), a Marfrig (MRFG3) anunciou hoje o nome dos seus candidatos a formarem o novo conselho de administração. Os dez da Marfrig representam uma mudança de 80% do quadro atual. Seriam mantidos apenas Augusto Marques da Cruz Filho, ex-GPA, e Flávia Maria Bittencourt, presidente da Adidas.
A relação traz mudanças estruturais importantes. A primeira é a substituição do atual presidente do conselho, o ex-ministro Pedro Parente. Ele chegou na empresa em 2018, onde atuou como CEO, antes de passar o bastão para o atual executivo, Lorival Luz. Parente chegou à BRF como “aquele que tiraria a empresa do buraco”, depois de uma gestão conturbada da equipe de Abílio Diniz e Tarpon.
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Outros dois nomes de peso que podem deixar o conselho da BRF são os também ex-ministros Roberto Rodrigues e Luiz Fernando Furlan. Ambos participaram da gestão do ex-presidente Lula, o primeiro na Agricultura e o segundo na extinta Pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Rodrigues é um dos mais respeitados nomes do agronegócio brasileiro e mundial. Já Furlan tem uma relação mais profunda com a BRF. Além de ex-ministro, sua família esteve à frente da Sadia praticamente desde a fundação. Furlan é neto de Attilio Fontana, fundador da Sadia. A empresa foi comprada pela Perdigão e, juntas, originaram a atual BRF. Mais do que sua substituição, sua saída simbolizaria o fim de uma era.
Na lista daqueles que têm grandes chances de assumir as novas cadeiras alguns nomes previsíveis. O candidato a presidente do conselho da BRF é Marcos Molina, fundador, ex-ceo e atual presidente do conselho de administração da Marfrig. Para a vice-presidência, o indicado é Sérgio Rial, atual presidente do conselho do Santander Brasil.
A relação de Rial e Molina não é recente. Os dois se aproximaram em 2005, quando a Marfrig comprou a Seara da Cargill. Na ocasião, Rial foi o vendedor. Em 2012, foi convidado por Molina para trabalhar com ele. O primeiro papel foi assumir a própria Seara, que ele havia vendido anos antes. Na sequência, virou CEO da própria Marfrig, substituindo ninguém menos do que o próprio Molina no comando da empresa, onde ficou até 2015 para se tornar CEO do Santander no Brasil, não antes sem vender, mais uma vez, a Seara, dessa vez para a concorrente JBS (JBSS3).
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Outro nome importante que aparece na lista é Marcia Aparecida Pascoal Marçal dos Santos. Também conselheira da Marfrig, a empresária é sócia e esposa de Marcos Molina. Considerada por muitos os olhos de Molina onde ele não pode estar, teve durante anos um papel ativo no dia a dia da Marfrig.
Pedro de Camargo Neto, um especialista em comércio exterior e contenciosos, é mais um nome de peso. Ele foi o responsável por conduzir o processo de disputa do algodão Brasil contra os Estados Unidos, de onde saiu vitorioso. Profundo conhecedor do agronegócio, Camargo Neto foi secretário de produção e comercialização do Ministério da Agricultura, presidente da Sociedade Rural Brasileira e também comandou a antiga Associação Brasileira das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Carne Suína (Abipecs), entidade que se fundiu com a sua par no segmento de aves para nascer a atual Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
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Os outros quatro nomes que formam os 10 da Marfrig são Deborah Stern Vieitas, conselheira do Santander e CEO da Amcham, Oscar de Paula Bernardes Neto, presidente do conselho Localiza, Altamir Batista Mateus da Silva, banqueiro com passagens pelo J.P. Morgan e Safra e Eduardo Augusto Rocha Pocetti, já conselheiro da Marfrig e também da Metal Leve.