Bloomberg — Muitos líderes ocidentais evitam declarar que o reconhecimento de repúblicas separatistas no leste da Ucrânia por Vladimir Putin equivale a uma invasão, mesmo diante da ordem do presidente russo para que suas tropas comecem a se deslocar para as áreas separatistas.
Em um discurso televisionado à nação nesta terça-feira (22), o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy disse que as ações de Putin simplesmente “legalizaram” as tropas que já estavam presentes nas repúblicas autoproclamadas desde o início do conflito com as forças separatistas, em 2014. A Rússia há muito tempo apoia os separatistas, mas se nega a fornecer armas ou ter soldados próprios na área. Não está claro o ritmo em que as tropas poderiam entrar agora ou em que número.
O presidente dos EUA, Joe Biden, ainda não fez uma declaração pública. Ele se reuniu com conselheiros e tem consultado aliados sobre os próximos passos. Ainda assim, seu vice-conselheiro de Segurança Nacional, Jon Finer, disse à CNN nesta terça-feira que “uma invasão é uma invasão e é isso o que está acontecendo”.
A questão é a incerteza sobre as intenções de Putin a partir de agora. Ele negou repetidamente que seu plano final seja uma grande invasão do país vizinho, mas os EUA e aliados afirmam que serviços de inteligência mostram cerca de 150.000 soldados e equipamentos que poderiam permitir uma invasão, incluindo possíveis ataques em várias cidades além da capital, Kiev. Se as tropas entrarem nas áreas separatistas, a dúvida é se ultrapassariam a linha entre os separatistas e as forças ucranianas.
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Embora o Ocidente tenha alertado que qualquer intervenção na Ucrânia desencadearia severas sanções econômicas contra a Rússia, as medidas até agora envolvem penalidades limitadas, mirando negócios e investimentos nas áreas separatistas.
Um marco foi a decisão do governo alemão na terça-feira de paralisar o já atrasado processo de certificação do gasoduto Nord Stream 2, que vem da Rússia.
O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu que seu governo implemente “sanções apropriadas e direcionadas contra os interesses russos”, disse o ministro das Finanças, Bruno Le Maire, a repórteres na terça-feira, sem entrar em detalhes.
No Reino Unido, o secretário de Saúde, Sajid Javid, disse à Sky News que “você pode concluir que a invasão da Ucrânia começou” com as ações de Putin na segunda-feira. O primeiro-ministro Boris Johnson inicialmente parecia mais cauteloso, mas depois disse ao parlamento que a “Câmara não deve ter dúvidas de que o posicionamento dessas forças em território soberano ucraniano equivale a uma nova invasão daquele país”.
Representantes dos países integrantes da União Europeia se uniram para condenar as últimas ações de Putin, porém em geral preferiram não usar a palavra “invasão” até o momento.
Mesmo os líderes dos países do Báltico, notáveis críticos da Rússia, estão adiando o emprego dessa linguagem.
“Ainda não é a invasão da qual nossos parceiros têm falado”, disse o ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, a repórteres nesta terça-feira. “Mas é uma escalada muito acentuada.”
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