Dólar vai a R$ 5,05: o que explica a queda da moeda em meio às tensões externas?

Sessão foi de alta para o Ibovespa, que recuperou os 112 mil pontos, e destoou dos mercados internacionais diante das tensões na Rússia

Moeda caiu 1,07% nesta terça, fechando a sessão negociada a R$ 5,052 na compra e na venda
22 de Fevereiro, 2022 | 06:24 PM
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Bloomberg Línea — Mesmo em um dia de maior aversão ao risco no exterior, com os mercados acompanhando de perto o desenrolar das tensões na Rússia, o dólar comercial fechou em queda da ordem de 1% nesta terça-feira (22), negociado a R$ 5,052 na compra e na venda.

De acordo com Alexsandro Nishimura, economista e sócio do escritório de assessores de investimento BRA, o movimento de valorização do real deve-se à continuidade do fluxo entrante de dinheiro externo, de olho no diferencial de juros que a alta da Selic pode proporcionar.

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A avaliação é compartilhada por Rob Correa, analista de investimentos CNPI, que também chama atenção para a entrada do investidor estrangeiro no país, atraído principalmente por uma taxa básica de juros mais elevada e por múltiplos de ações abaixo da média histórica, deixando as ações brasileiras descontadas e atrativas.

Já André Perfeito, economista-chefe da Necton, diz que algum tipo de correção deve acontecer nos próximos dias, especialmente “dados os suportes relevantes que estão sendo testados em termos gráficos”.

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“O real continua se apreciando contra o dólar e, apesar de vermos bons motivos para isso acontecer, na esteira do preço de commodities e de juros em alta, seria prudente registrar que o movimento está esticado”, diz.

Na avaliação de Correa, todo investidor deve ter ao menos uma parte do portfólio alocada no exterior, de forma a “dolarizar” uma parte do patrimônio. A sugestão do analista é fazer aportes mensais, de pequenos valores.

Ibovespa e destaques da Bolsa

Na Bolsa, o dia foi de alta para o Ibovespa (IBOV), que operou na contramão dos mercados internacionais e subiu 1,04%, retomando os 112 mil pontos, após três sessões consecutivas de queda.

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“O Brasil, por mais que tenha uma parceria estratégica com os Estados Unidos, também tem com a China e muito provavelmente vamos nos manter mais neutros nesse imbróglio de possível invasão da Rússia na Ucrânia. Os EUA e a Europa estão mais ligados a isso e, portanto, sofrem mais”, afirma Felipe Vella, analista de renda fixa da Ativa Investimentos.

Ele destaca ainda que o Brasil está “bem posicionado” por já ter iniciado o ciclo de alta dos juros e também, por estar recebendo um fluxo de capital “interessante” desde o ano passado.

Nesta terça, o principal índice de renda variável da Bolsa brasileira foi puxado pelo bom desempenho de bancos e papéis de varejistas – com exceção da Americanas (AMER3), cujos sites ainda estão fora do ar, que caiu 5,40% na B3, a R$ 29,79.

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A temporada de balanços do quarto trimestre de 2021 também fez preços nos ativos. As ações da Movida (MOVI3) subiram 8,85%, a R$ 17,09, após a companhia apresentar crescimento de 99,5% no lucro líquido ajustado, na base anual, para R$ 276,7 milhões no quarto trimestre – um recorde para o período.

Por outro lado, as units do Banco Inter (BIDI11) lideraram a ponta perdedora, com baixa de 9,62%, a R$ 23,85, pressionadas pela queda no lucro líquido contábil, de R$ 6,4 milhões no quarto trimestre, ante R$ 19,4 milhões um ano antes.

As empresas ligadas ao petróleo também recuaram nesta terça, mesmo em um dia de alta para a commodity. Os papéis da Petrobras (PETR3;PETR4) fecharam o pregão em baixa de 1,55% e 0,32%, enquanto 3R Petroleum (RRRP3) caiu 2,54% e Petrorio (PRIO3), 2,89%.

Confira como fecharam os mercados nesta terça-feira (22):

  • O Ibovespa (IBOV) teve ganhos de 1,04%, aos 112.891 pontos;
  • O dólar comercial caiu 1,07%, a R$ 5,052 na compra;
  • No mercado de juros futuros, os contratos dos DIs com vencimento em janeiro de 2023 tiveram alta de oito pontos-base, a 12,43%, enquanto o DI para janeiro de 2027 subiu quatro pontos-base, a 11,26%;
  • O Bitcoin (BTC) subia 1,66%, por volta das 18h15 (horário de Brasília), a US$ 37.691;

Rússia no radar

As atenções dos mercados recaíram sobre a Rússia nesta terça-feira (22), após o presidente Vladimir Putin ter reconhecido ontem (21) duas repúblicas separatistas no leste da Ucrânia e ordenado o envio de tropas a elas.

A decisão acontece em meio às preocupações de que a Rússia poderia estar planejando invadir a Ucrânia, algo que Putin negou repetidamente.

Neste contexto, o presidente dos Estados Unidos Joe Biden anunciou nesta tarde a primeira rodada de sanções contra a Rússia, incluindo à dívida soberana do país, a dois bancos e à elite russa.

O anúncio de Biden seguiu a sanções anunciadas anteriormente pela União Europeia e pelo Reino Unido, que estabeleceram um conjunto inicial de penalidades contra Moscou.

  • Nos EUA, o Dow Jones teve queda de 1,42%, o S&P 500 cedeu 1,02%, enquanto o índice da Nasdaq recuou 1,23%;
  • Na Europa, os índices fecharam mistos nesta terça. O Dax, da Alemanha, caiu 0,26%, enquanto o FTSE, de Londres, teve leva alta de 0,13%;
  • Entre as commodities, o barril do petróleo Brent para abril subiu 1,52%, a US$ 96,84 o barril.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.