Aposentadoria: como montar uma carteira diversificada de previdência

Além de adequar aplicações financeiras ao perfil, investidor também deve diversificar o portfólio para mitigar riscos e ter maiores retornos

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Bloomberg Línea — Investir para a aposentadoria costuma ser algo deixado de lado, principalmente quando se ainda é jovem. Mas montar um colchão para o futuro, quando os gastos costumam ser maiores e o orçamento, mais apertado, é importante e pode ser feito aos poucos, com pequenas quantias e respeitando o perfil de risco, dizem especialistas.

Pensando em como montar uma carteira diversificada de previdência privada, respeitando o chamado suitability (perfil do investidor), mitigação de riscos e maiores retornos no longo prazo, a Bloomberg Línea conversou com a SulAmérica (SULA11) e com a Icatu Vanguarda para entender como eles têm alocado o dinheiro de clientes com essa finalidade.

Para especialistas, a grande vantagem hoje no mercado de previdência privada, além dos benefícios fiscais, recai sobre a maior oferta de produtos, dado o aumento de plataformas participantes, bem como o aprimoramento da regulação, que impulsionou a entrada de gestores e fundos mais sofisticados neste mercado.

Samuel Torres, consultor financeiro da Onze, fintech de saúde financeira e previdência privada, reforça a importância de começar o quanto antes a poupar para a aposentadoria, dado que a pessoa se beneficia dos juros compostos – ainda mais agora, com a taxa Selic em dois dígitos.

E com aportes iniciais mais baixos para esses produtos no mercado, da ordem de R$ 100 a R$ 500, dependendo da plataforma, isso tende a facilitar a entrada do pequeno investidor, diz.

Carteira por perfil de risco

A queda da taxa Selic até o começo de 2021 contribuiu para uma maior diversificação dos portfólios de previdência, com investidores em busca de melhores retornos.

Com isso, aqueles considerados conservadores já ganham hoje uma fatia de maior risco nas recomendações da SulAmérica. Isso porque, ainda que tenha uma característica de aversão ao risco, esse investidor já aceita uma “pimentinha” de forma a ter um diferencial de rentabilidade – seja com uma parcela pequena em fundos multimercados ou em fundos de ações balanceados.

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A casa conta com quatro perfis de risco, incluindo, além do conservador, moderado e arrojado, o investidor com foco na preservação do patrimônio. Esse é o poupador que não quer tomar nenhum risco, é mais resistente à volatilidade das cotas e quer fugir do risco. Para esse perfil, 100% da carteira está alocada em produtos de renda fixa. Confira:

Carteira Preservação de Capital (SulAmérica)

Classe de ativos% alocado
Renda fixa pós-fixada80%
Renda fixa prefixada10%
Renda fixa inflação (como Tesouro IPCA+)10%

Carteira Conservadora (SulAmérica)

Classe de ativos% alocado
Renda fixa pós-fixada70%
Renda fixa prefixada10%
Renda fixa inflação10%
Fundos Multimercados7%
Fundos Balanceados (até 30% em renda variável)3%

Carteira Moderada (SulAmérica)

Classe de ativos% alocado
Renda fixa pós-fixada40%
Renda fixa prefixada10%
Renda fixa inflação15%
Fundos Multimercados25%
Fundos Balanceados (até 49% em renda variável)5%
Fundos Balanceados (até 70% em renda variável)5%

Carteira Arrojada (SulAmérica)

Classe de ativos% alocado
Renda fixa pós-fixada15%
Renda fixa prefixada5%
Renda fixa inflação20%
Fundos Multimercados35%
Fundos Balanceados (até 70% em renda variável)25%

Risco x Idade

Além da necessidade de adequação das carteiras ao perfil de risco do investidor, especialistas defendem ainda que haja uma combinação entre a idade do poupador e o nível de exposição ao risco.

Em outras palavras, um investidor jovem pode ter aversão ao risco e preferir aplicações mais conservadoras. Porém, se tiver apetite, pode apostar em produtos mais arrojados, dado que ainda possui um horizonte longo de contribuição.

Por outro lado, para uma pessoa que já está próxima da etapa de resgate e uso do montante investido, a recomendação é diminuir o risco, uma vez que terá menos tempo para recuperar possíveis perdas.

Marcelo Mello, VP da SulAmérica de Investimentos, Vida e Previdência, avalia que os perfis de risco moderado e agressivo deveriam ser voltados para o público ainda em fase de acumulação de capital. Aplicações mais arrojadas, por exemplo, podem fazer sentido para poupadores com idade até os 35, 40 anos, diz.

A partir dessa faixa etária, Mello sugere uma busca por produtos mais conservadores, dado que a pessoa começa a se preparar para a utilização da reserva.

A avaliação é compartilhada por Bruno Horovitz, relações com investidores da Icatu Vanguarda. “A pessoa já construiu uma reserva grande para o futuro e não pode se dar ao luxo de perder muito dinheiro quando está chegando na fase de retirada do montante, dado que não terá mais como contribuir.”

Dentre as estratégias de previdência mais populares na Icatu está a dos fundos data-alvo, cujas posições são ajustadas conforme o envelhecimento do cliente e proximidade da fase de resgate.

Neles, o investidor aplica em um fundo cujo prazo final é o período em que planeja se aposentar, com decaimento de risco ao longo do tempo. Quanto mais longe do objetivo, maior é o risco que pode assumir, e quanto mais próximo, mais conservadoras deverão ser as posições.

Confira, a seguir, como estão distribuídas as carteiras dos fundos data-alvo da Icatu com prazos em 2030 e 2050:

Carteira Icatu Vanguarda Minha aposentadoria 2030

Classe de ativos% alocado
Total Return Renda Fixa*25%
CDI (renda fixa, crédito e multimercado)20%
Bolsa Brasil + Internacional19%
Inflação longa (Tesouro IPCA+ com prazo acima de 5 anos)10%
Fundo imobiliário5%
Investimento exterior multiestratégia6%
Inflação curta (Tesouro IPCA+ com prazo de até 5 anos)15%

Carteira Icatu Vanguarda Minha aposentadoria 2050

Classe de ativos% alocado
Bolsa Brasil + Internacional65,3%
Inflação longa (Tesouro IPCA+ com prazo acima de 5 anos)19,4%
Fundo imobiliário5%
Inflação curta (Tesouro IPCA+ com prazo de até 5 anos)2,5%
Total Return Renda Fixa*7,8%
* Total Return é uma estratégia que tem como objetivo gerar retornos reais expressivos em janelas de médio prazo por meio da utilização de todos os instrumentos e ativos de renda fixa disponíveis, como títulos públicos, crédito privado, derivativos, etc.

Horovitz conta que os fundos data-alvo são fundos de fundos (FOFs), isto é, possuem cotas de outros fundos de investimento, diversificando entre estratégias de renda fixa e variável, sempre com foco no longo prazo. Atualmente, o mais longo deles tem como prazo 2060.

Segundo o executivo, esses produtos são boas opções para investidores com aportes programados, sejam eles mensais, trimestrais, semestrais ou anuais. Já para quem tem uma reserva financeira maior e quer investir de uma vez, os fundos de perfil de risco podem ser mais indicados, avalia.

Renda fixa volta a ganhar tração

Em meio aos movimentos de política monetária, as estratégias preferidas dos investidores foram mudando ao longo do tempo, de acordo com o nível da taxa de juros.

Em 2016, quando a taxa Selic estava em 14,25% ao ano, Mello, da SulAmérica, lembra que 91% dos produtos de previdência privada eram de renda fixa. Os 9% restantes estavam distribuídos entre multimercados e renda variável.

Em 2020, contudo, quando a taxa básica chegou aos 2% ao ano, o percentual de produtos de renda fixa caiu para 69%, enquanto o percentual em fundos multimercados ficou em mais de 30%, englobando estratégias mais sofisticadas.

Olhando para frente, Mello diz esperar uma estabilidade desses percentuais, dado o cenário atual de aumento dos juros, com os multimercados perdendo tração. Não devem contudo, sumir das carteiras, dado que contribuem para a diversificação, diz.

“Com a Selic mais elevada, a necessidade de o cliente diversificar mais com produtos sofisticados – e de maior risco – diminui em certa medida. Não que isso deveria ser feito, dado que é um produto de longo prazo, mas como a visão de poupador no Brasil ainda é muito ‘curtoprazista’, vamos ver um ano com maior direcionamento para estratégias de renda fixa na previdência”, completa.

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