Putin manda tropas para áreas separatistas e amplia tensão na Ucrânia

Rússia já havia acusado a Ucrânia de ter soldados próximo da região dos separatistas

Embaixada dos EUA em Kiev, na Ucrânia
Por Henry Meyer, Marc Champion e Tony Halpin
21 de Fevereiro, 2022 | 08:51 PM

Bloomberg — O presidente Vladimir Putin anunciou que está reconhecendo duas autoproclamadas repúblicas separatistas no leste da Ucrânia, numa dramática escalada no impasse da Rússia com o Ocidente, enquanto os EUA e seus aliados continuam alertando que em breve as tropas podem invadir o país vizinho.

Esses temores foram ampliados pelos detalhes dos decretos assinados por Putin, incluindo uma ordem para o Ministério da Defesa enviar o que ele chamou de “forças de manutenção da paz” para as regiões separatistas.

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Não havia detalhes até agora sobre quantas tropas poderiam entrar, ou quando, mas a Rússia já havia acusado a Ucrânia de ter um destacamento significativo de seus próprios soldados na linha de contato com os separatistas.

Embora a Rússia argumente que o reconhecimento de Putin das regiões separatistas dá uma base legal para a presença de suas tropas, a medida provavelmente alimentará as preocupações dos EUA e da Europa de que Moscou está se movendo para assumir o controle do território reconhecido internacionalmente como parte da Ucrânia. O movimento colocaria as forças russas mais perto de um confronto direto com soldados ucranianos.

“A questão agora é se os EUA e seus parceiros estão prontos para buscar o diálogo nessas novas condições”, disse Andrey Kortunov, chefe do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, fundado pelo Kremlin. “Podemos dizer que o pior não aconteceu – uma nova grande guerra ainda não começou, pelo menos por enquanto – mas após o reconhecimento, provavelmente veremos tropas russas enviadas para a fronteira com o resto da Ucrânia e isso será visto como um ato de agressão com todas as consequências”.

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Putin assinou pactos de ajuda e cooperação com os líderes separatistas em uma cerimônia do Kremlin após um discurso televisionado aos russos na segunda-feira. “Considero necessário tomar a decisão há muito atrasada de reconhecer a independência e a soberania da República Popular de Donetsk e da República Popular de Luhansk”, disse Putin.

Ele seguiu com uma exigência de que o governo em Kiev parasse imediatamente todas as ações militares ou assumisse total responsabilidade pela “possível continuação do derramamento de sangue”. A Ucrânia e o Ocidente acusam a Rússia de instigar a violência como parte da chamada operação de “bandeira falsa” para justificar a intervenção.

Europa e EUA condenam ação

Os estados da União Europeia e os EUA foram rápidos em condenar a ação de Putin e iniciar os esforços para impor sanções econômicas. Ainda não está claro o que seu anúncio significa para o risco de uma invasão russa na Ucrânia, sobre a qual os EUA e a OTAN alertam há meses. Eles acusam a Rússia de reunir mais de 150 mil soldados perto da Ucrânia em preparação para um possível ataque, algo que o Kremlin negou repetidamente. Putin disse em uma reunião de seu Conselho de Segurança na segunda-feira que a Rússia não estava considerando a questão de anexar os dois territórios.

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O decreto é o último passo na campanha de 20 anos de Putin para restaurar o domínio da Rússia sobre seus ex-vizinhos soviéticos e impedi-los de estreitar laços com o Ocidente, particularmente com a Organização do Tratado do Atlântico Norte. O líder russo criticou a expansão da OTAN para o leste e aumentou as apostas na crise ao exigir que a aliança militar exclua a Ucrânia de uma futura adesão e recue suas forças para posições que detinham em 1997.

A decisão do presidente russo de reconhecer os separatistas efetivamente cria um impasse em anos de esforços diplomáticos para implementar um acordo de paz para resolver um conflito que matou 14 mil desde que separatistas apoiados pela Rússia assumiram o controle das duas áreas em 2014. A medida também lança mais dúvidas sobre as esperanças levantadas no domingo de uma possível reunião de cúpula entre EUA e Rússia para aliviar as tensões.

A notícia sobre o decreto provocou reprovações em toda a UE, incluindo estados menores localizados no extremo leste do bloco. O Reino Unido deve impor sanções à Rússia nesta terça-feira, e a UE iniciará o processo de concordar com penalidades para a ação de Putin, disseram diplomatas familiarizados com as conversas.

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O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, chamou a decisão de Putin de “mau presságio” e “violação flagrante” da soberania e integridade da Ucrânia. “Eu não sei o que está em na mente dele”, disse ele em uma entrevista coletiva em Downing Street.

O presidente dos EUA, Joe Biden, conversou por telefone com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy logo após o anúncio de Putin, depois convocou uma ligação com o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Olaf Scholz, informou a Casa Branca.

O governo de Biden está “pronto para responder imediatamente” com uma ordem executiva que proibirá comércio, investimentos e financiamentos das regiões separatistas por cidadãos dos EUA, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, em comunicado. “Essas medidas são separadas e seriam adicionais”, disse.

As ações da Rússia e o rublo tiveram os piores desempenhos global na segunda-feira. O rublo caiu para 80 por dólar durante o discurso televisionado de Putin e as ações caíram até 18% nas negociações da noite. Mais cedo, o índice de ações MOEX Rússia fechou com queda de 11%, a maior desde a anexação da Crimeia pela Rússia em março de 2014.

--Com a assistência de Kitty Donaldson, Gregory L. White, Alberto Nardelli, Daryna Krasnolutska, Ilya Arkhipov, John Follain, Natalia Drozdiak e Justin Sink.

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