São Paulo — Os pássaros estão sendo culpados pelo encarecimento das passagens aéreas no Brasil, além de outros fatores (reajuste do querosene da aviação, carga tributária, dólar mais caro e efeitos da pandemia da covid). O CEO da Latam no Brasil, Jerome Cadier, disse que cada passageiro da companhia pagou R$ 5 a mais em seu bilhete por causa de “bird strikes” (choque entre aves e aviões), no ano passado.
“Como aviões são equipamentos muito caros, ano passado a Latam Brasil gastou mais de R$ 100 milhões em material, reparo e custo dos aviões no chão somente por causa destes impactos. Em uma conta simples, no ano passado transportamos 20 milhões de clientes. Ou seja, cada um destes clientes pagou R$ 5 a mais na sua passagem simplesmente por causa do quê? Bird strikes”, escreveu Cadier, em sua conta na rede social LinkedIn (leia íntegra da postagem).
O executivo acrescentou que 0,3% dos voos realizados em 2021 pela Latam registrou um caso de choque entre pássaros e aeronaves. Ele também forneceu outros dados do problema para a companhia.
“No ano passado, a Latam Airlines Brasil voou perto de 150 mil voos. Em 461 deles (0,3% dos voos) aconteceu um bird strike. Isto fez com que tivéssemos que colocar os aviões no chão para reparo em período equivalente a 1.200 horas. Isto atrapalhou a vida de 32 mil passageiros que tiveram os seus voos cancelados ou atrasados por causa do quê? Bird strikes”, postou o CEO da operação brasileira do grupo chileno, atualmente em recuperação judicial.
Para ilustrar os números, Cadier postou seis imagens de como ficou um motor de uma aeronave atingido por um pássaro no mês passado. “O perigo é real, mas raramente os eventos têm consequências muito graves porque as aeronaves são muito robustas, os pilotos estão preparados e sabem como reagir”, considerou o executivo.
Sobre a responsabilidade pelo problema, Cadier apontou para gestões municipais e dos aeroportos. “A gestão da fauna perto dos aeroportos não é simples nem fácil. Exige investimento grande e é de responsabilidade dos municípios e dos aeroportos - e não das companhias aéreas. Torço para que continuem os esforços de todos para que tenhamos menos impacto e custos para nossos clientes”, defendeu o CEO da Latam.
Veja mais: Gol e Latam registram incidentes em voos durante alta temporada
A postagem foi comentada por vários seguidores, que discordaram da análise do executivo. “Não concordo que isto explique o alto custo das passagens aqui no Brasil. Imagino que este problema ocorra também nos outros países, ou no Brasil temos mais incidentes com pássaros? As passagens no Brasil estão entre as mais caras do mundo e não acho que sejam os pássaros. Concordo que é justo ter lucro e o que me deixa surpreso é ver companhias aéreas perderem dinheiro e o passageiro pagar caro. Alguma coisa não bate”, comentou o CEO na WSA, Jordi Wiegerinkck.
Já a analista de transporte aéreo e engenheira civil Paola Cemin da Silva citou que a mitigação desse risco é de responsabilidade também das empresas aéreas. “De acordo com o Cenipa/Comaer no MCA 3-8/2017 - Manual de gerenciamento de risco de fauna: ‘1.5.5 Além de operadores de aeródromos, operadores de aeronaves e controladores de tráfego aéreo, doravante nomeados como stakeholders aeronáuticos, estão diretamente em contato com esta fonte de perigo, tendo responsabilidades na mitigação do risco de fauna’. Os pilotos e mecânicos de aeronaves têm um papel muito importante no reporte das ocorrências para fornecer dados ao setor, contribuindo com a eficiência do gerenciamento desse risco”, lembrou.
No último dia 4 de janeiro, a aeronave da Latam que fazia o voo LA3275 (Navegantes-São Paulo/Congonhas) pousou, por precaução, em Florianópolis após uma colisão com um pássaro.
(Atualiza às 11h dia 22 com detalhes sobre a composição do preço das passagens)
Leia também
Brasil importa 20 mi de autotestes de covid para redes de farmácias