Bloomberg Línea — Quando Marcos Molina assumiu uma posição relevante dentro da composição acionária da BRF (BRFS3) a pergunta que circulou no mercado era quando seus tentáculos começariam a entrar na gestão da empresa. A resposta veio hoje. A Marfrig (MRFG3) comunicou a seus acionistas que apresentará à BRF uma chapa com candidatos ao conselho da empresa na próxima assembleia geral de acionistas, marcada para o próximo dia 28 de março. Com isso, foi colocado em xeque o futuro do atual presidente do conselho da BRF, Pedro Parente, que assumiu o posto em 2020 e tem mandato até abril deste ano.
Na prática, a decisão de propor mudanças no conselho está relacionada ao desejo de Molina de influenciar mais diretamente na administração da empresa. O atual CEO, Lorival Luz, está na empresa desde 2017, quando assumiu a chefia financeira da BRF, tornou-se vice-presidente executivo global em 2018 e sucedeu Parente, quando este assumiu o conselho de administração. E os números, especialmente dos últimos três trimestres, podem sinalizar o desejo de Molina em mudanças (veja gráficos abaixo). O novo balanço trimestral será divulgado amanhã (22/02).
Porém, mais do que a frieza dos números, está a relevância que a Marfrig passou a ter na composição acionária da BRF. Após o follow-on que levantou R$ 5,4 bilhões, a participação da empresa de Marcos Molina passou de 31,66% para 33,25%, muito próximo do limite dos 33,33% para a “poison pill”. Pelo estatuto da empresa, o acionista que atingir esse patamar é obrigado a promover uma OPA, oferecendo aos minoritários a opção de venda das ações, incluindo um prêmio sobre o valor de face. Uma eventual mudança nessa regra só poderia partir de uma decisão do Conselho de Administração, onde Molina ainda não tem nenhum representante.
Pelas regras vigentes, a Marfrig poderia ter elevado sua participação para além dos 33,33% sem o pagamento do prêmio durante o follow-on. Contudo, antes da emissão da BRF, a Petros apresentou um parecer encontrando argumentos que permitiriam a cobrança do prêmio caso o limite de participação fosse alcançado, mesmo em um follow-on. Para não entrar em uma briga jurídica, Molina preferiu se manter abaixo dos 33,33%, mas agora quer mudanças.
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