‘Social’ perde espaço nas emissões globais de títulos ESG

Governos que emitiram títulos sociais para apoiar economias na pandemia agora voltam as atenções para metas climáticas de prazo longo

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Bloomberg — As emissões de dívidas atreladas a causas sociais, que dispararam com a chegada da pandemia, já estão perdendo fôlego. Outros tipos de títulos concorrem pela supremacia no mercado ético, que passa por uma rápida evolução.

Governos que emitiram títulos sociais para apoiar economias devastadas pela covid-19 agora estão voltando suas atenções para metas climáticas de prazo mais longo. Já as empresas estão interessadas em ter maior flexibilidade para gastar os recursos provenientes da venda de dívidas atreladas a questões ambientais, sociais e de governança (em inglês, environmental, social and governance ou ESG). A situação está limitando o fluxo de títulos sociais que geralmente financiam projetos específicos, como geração de empregos ou moradias populares.

Segundo dados compilados pela Bloomberg, desde o início do ano, as vendas de títulos sociais na Europa caíram 60% em relação ao mesmo período do ano passado para 10,9 bilhões de euros (US$ 12,3 bilhões) e o quadro é semelhante nos EUA. Já a emissão de dívidas ligadas ao tema de sustentabilidade dobrou no período para 16 bilhões de euros.

É um fenômeno global e deve continuar.

A Moody’s ESG Solutions projeta queda de 25% nas vendas mundiais de títulos sociais este ano para cerca de US$ 150 bilhões, mas também espera que os chamados green bonds embalem um recorde de US$ 1,35 trilhão nas emissões éticas como um todo.

“Estamos vendo o foco retornando ao verde porque alguns dos gastos relacionados à covid diminuíram”, disse Anne van Riel, responsável por mercados de capitais para finanças sustentáveis nas Américas do BNP Paribas, o banco líder na originação de títulos verdes em 2022.

“Este ano esperamos que as empresas, que emitiram menos bônus sociais, incorporem elementos sociais nas emissões de bônus de sustentabilidade.”

O mercado de títulos sociais ganhou impulso com a pandemia e o aumento da pressão por igualdade após os protestos do movimento #MeToo e o assassinato de George Floyd nos EUA. No auge das emissões em 2020, a União Europeia quebrou recordes com uma carteira de pedidos de 233 bilhões de euros para sua primeira emissão de papéis sociais para financiar a geração de empregos. Nos EUA, o Citigroup fez a maior operação privada da história com títulos sociais para financiar moradias populares.

A expectativa era que essas transações puxassem outras emissões, inclusive em mercados emergentes. As vendas dispararam no ano passado em países como Chile e Coreia do Sul. Mas Gana adiou uma oferta de US$ 2 bilhões em títulos para financiar programas de educação e saúde. Agências estatais como o Fundo de Amortização da Dívida Social da França (conhecido pela sigla CADES), ainda têm peso significativo nessas vendas, mas os governos de nações desenvolvidas praticamente não emitiram títulos sociais.

“Há enorme foco no meio ambiente com as mudanças climáticas, compromissos net zero, títulos verdes e etc. Mas não há de fato um foco no S de ESG”, disse David Zahn, responsável pela área de renda fixa sustentável na Franklin Templeton.

A falta de projetos específicos viáveis nos quais empregar os recursos dos títulos sociais é um obstáculo ao desenvolvimento desse mercado. Para algumas empresas, é difícil criar projetos direcionados a grupos minoritários que absorvam os recursos de emissões de títulos sociais puros com tamanho de referência, explicou van Riel, do BNP.

A estrutura dos títulos sociais também é mais desafiadora e há “ainda menos consistência nos indicadores-chave de desempenho e na prestação de contas”, disse Scott Freedman, gestor de fundos da Newton Investment Management, que supervisiona 105,4 bilhões de libras esterlinas (US$ 143 bilhões) em ativos, incluindo dívidas ESG.

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