Misoginia continua afetando mulheres no mercado de trabalho

Mulheres ainda precisam escolher entre a vida profissional e pessoal; são os homens que devem desafiar essa cultura

Precisamos repensar o conceito de masculinidade em nossa cultura
Por Kara Alaimo
20 de Fevereiro, 2022 | 12:58 PM

Bloomberg Opinion — Houve uma grande mudança na forma como as pessoas namoram e se casam nas últimas décadas. Certo estereótipo afirma que homens bem-sucedidos costumavam se casar com suas secretárias; agora as pessoas escolhem cônjuges com níveis de educação e salário semelhantes. O fenômeno se chama “acasalamento preferencial”. Contudo, mulheres inteligentes e bem-sucedidas ainda precisam pisar em ovos em suas relações românticas com homens.

Claro que nem todas as mulheres querem ter relacionamentos ou se casar. De acordo com uma pesquisa do centro de pesquisas Pew de 2020, apenas 38% das mulheres americanas solteiras buscam um relacionamento. Mas se as mulheres estão em busca de relacionamentos românticos e são super bem-sucedidas, geralmente precisam escolher entre o sucesso na carreira ou na relação. Para mudar essa parte ruim da cultura, precisamos repensar radicalmente nossas concepções de masculinidade.

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Parte do problema é que muitos homens não querem se relacionar com mulheres que eles consideram ser mais inteligentes. Um experimento em 2006 envolvendo estudantes heterossexuais de pós-graduação da Universidade de Columbia constatou que quando um homem acredita que uma mulher é mais inteligente do que ele, ele fica menos interessado em relacionar-se com ela (com um namorado assim, ninguém precisa de inimigos).

E as mulheres que são extremamente bem-sucedidas em suas carreiras afirmaram que acreditam que isso prejudica suas perspectivas românticas. Como Maureen Dowd escreveu em seu livro “Are Men Necessary? When Sexes Collide” (em tradução livre: “Os homens são necessários? Quando os sexos entram em atrito”), no dia em que uma de suas amigas ganhou o Pulitzer, esta telefonou para a autora “em lágrimas”, dizendo que, assim, ela “nunca arrumaria um namorado”. O juiz federal Frederic Block escreveu em seu livro que Sonia Sotomayor considerou recusar sua nomeação para a Suprema Corte porque sabia que isso prejudicaria sua vida amorosa. Obviamente, homens bem-sucedidos não tendem a ter esse problema.

Uma mulher também é menos propensa a se casar com um homem se ela tiver um salário mais alto do que ele. Uma análise em larga escala dos dados do censo por Marianne Bertrand e Emir Kamenica, da Universidade de Chicago, e Jessica Pan, da Universidade Nacional de Singapura, constatou que, em lugares em que mulheres têm maior probabilidade de ganhar mais que os homens, há menos casamentos.

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Se uma mulher em um cargo com um salário mais alto que o de seu esposo se casar, ela provavelmente tentará evitar que ele se sinta emasculado, segundo o estudo – e é provável que ela deixe de trabalhar. Se trabalhar, provavelmente vai ganhar menos do que poderia. E se ela ganhar mais do que o esposo, provavelmente tentará compensar fazendo ainda mais tarefas domésticas. Ela também provavelmente fingirá que ganha menos – um artigo divulgado pelo Census Bureau em 2018 descobriu que, quando as mulheres ganham mais que seus maridos, muitas vezes relatam uma renda mais baixa aos pesquisadores do censo.

Mas, apesar (ou talvez por causa?) de tudo isso, se uma mulher é o ganha-pão da família, ela e seu marido são mais propensos a serem infelizes, passar por conflitos no relacionamento ou se divorciar, segundo a análise de dados do censo. Quando as mulheres são bem-sucedidas de outra forma na carreira, isso também pode comprometer seus relacionamentos. Um estudo constatou que as mulheres que ganharam o Oscar de melhor atriz permaneceram em seus relacionamentos por 67% menos tempo que os homens que ganharam o prêmio de melhor ator. Até mesmo pesquisas da Suécia – país supostamente igualitário – constataram que ganhar uma eleição para um cargo público dobrava a chance de divórcio de uma mulher.

A interseção entre o sucesso das mulheres e as expectativas de masculinidade pode ser um dos motivos pelos quais não há mais mulheres em cargos de liderança. As mulheres que saem pelo mundo e fazem grandes coisas deveriam deixar suas famílias orgulhosas. Quando as mulheres ganham salários exorbitantes, suas famílias – incluindo os homens – se beneficiam desses recursos.

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Claro que existem homens extremamente compreensivos: o segundo-cavalheiro Doug Emhoff e a vice-presidente Kamala Harris começaram a namorar quando ela já era procuradora-geral da Califórnia, e ele interrompeu sua poderosa carreira de advogado para apoiar suas aspirações políticas. Meu próprio marido, um médico, faria o mesmo se eu quisesse concorrer em uma eleição.

Mas a lista desse tipo de homem não é longa. E aquelas comédias românticas de Hollywood sobre homens que buscam romanticamente mulheres CEOs? A inexistência desses filmes é um problema, pois os homens dizem em particular que se sentem pressionados a viver de acordo com as concepções de masculinidade de nossa sociedade, mesmo quando não gostam ou não concordam com elas.

A solução começa com o reconhecimento do problema. Uma vez que apreciamos o que as mulheres de sucesso enfrentam, podemos contar com os homens para tratá-las de maneira diferente e mudar nossos estereótipos culturais de masculinidade e força. Assim, mais homens podem mudar de ideia sobre relacionamentos com mulheres bem-sucedidas.

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Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Kara Alaimo é professora adjunta de relações públicas na Hofstra University e autora de “Pitch, Tweet ou Engage on the Street: How to Practice Global Public Relations and Strategic Communication”. Ela também trabalhou no governo Obama.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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