Crise imobiliária na China está ainda mais grave após um ano

Agravamento da crise de caixa coincide com o recuo das vendas de imóveis residenciais, que se tornaram fonte de fraqueza da economia chinesa

Vendas de imóveis residenciais continuam em queda e os custos elevados dos empréstimos afastam a possibilidade de refinanciamento no exterior
Por Sofia Horta e Costa
18 de Fevereiro, 2022 | 10:21 AM

Bloomberg — Um ano após a crise de endividamento do setor imobiliário da China desencadear a onda de calote das incorporadoras, o segmento ainda luta pela sobrevivência.

As vendas de imóveis residenciais continuam em queda e os custos elevados dos empréstimos afastam a possibilidade de refinanciamento no exterior para muitas dessas empresas.

Agências globais de classificação de risco desistiram de avaliar títulos e auditores desistiram de verificar a contabilidade de algumas empresas. Tudo isso intensifica as dúvidas sobre a transparência financeira do setor semanas antes da temporada de divulgação de balanços. Em Hong Kong, as ações de uma companhia imobiliária chinesa desabaram 81% de uma hora para outra, alimentando temores sobre chamadas de margem.

Yu Liang, presidente da China Vanke - uma das maiores incorporadoras do país – alertou seus funcionários para que se preparassem para uma batalha que decidirá se a companhia sobrevive ou não, segundo o jornal South China Morning Post, que citou um documento que circulou dentro da companhia no mês passado. “Não temos outras opções”, teria afirmado o executivo.

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O agravamento da crise de caixa coincide com o recuo das vendas de imóveis residenciais, que se tornaram fonte de fraqueza da economia chinesa. Tentar esfriar o mercado especulativo é uma estratégia arriscada, que pode ameaçar o plano de Pequim de priorizar a estabilidade econômica este ano.

Autoridades reguladoras ajustaram algumas regras para facilitar um pouso suave do setor imobiliário, inclusive incentivando fusões e aquisições. No entanto, o governo até agora se absteve de retirar restrições de forma significativa.

“Embora o governo esteja dando mais apoio, as medidas ainda são marginais e não resolveram a crise de liquidez”, disse Paul Lukaszewski, responsável pela área de dívida corporativa da região Ásia Pacífico da abrdn Plc, em Cingapura, que tem carteiras expostas às incorporadoras. “A turbulência do mercado e a incerteza afastaram os investidores tradicionais.”

A China Fortune Land Development deixou de honrar um pagamento de US$ 530 milhões que venceu em 28 de fevereiro de 2021 e se tornou a primeira incorporadora imobiliária a entrar em default desde que Pequim introduziu novos limites de financiamento no setor, em 2020. Desde então, pelo menos 11 incorporadoras ficaram inadimplentes, segundo levantamento da Standard Chartered.

Aparentemente, mais calotes estão a caminho. Empresas imobiliárias precisam encontrar quase US$ 100 bilhões para pagar dívidas este ano, enquanto seus fluxos de receita diminuem. As vendas das 100 maiores incorporadoras da China caíram cerca de 40% em janeiro em relação a um ano antes, após um recuo de 35% em dezembro, segundo dados preliminares da China Real Estate Information.

Auditores que se demitem agravam as dúvidas sobre a saúde financeira das empresas imobiliárias. Auditores da Hopson Development Holdings e da China Aoyuan Group pediram desligamento no final de janeiro, citando informações insuficientes e desacordo sobre honorários, respectivamente. Uma subsidiária da Shimao mudou de auditor pela primeira vez em 27 anos.

“Trocar de firma de contabilidade logo antes da divulgação dos resultados de final de ano gera dúvidas sobre a qualidade da governança de uma empresa”, afirmaram analistas da S&P Global Ratings em relatório de 16 de fevereiro.

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