TC anuncia expansão em meio à polêmica com Empiricus no Twitter

Enquanto entra no segmento de gestão de patrimônio, plataforma volta a ter seu nome envolvido em controvérsia nas redes sociais

Novata na Bolsa, com menos de sete meses de abertura de capital, TC já anunciou uma série de aquisições desde o IPO, mas ação acumula queda de 65% em relação à máxima histórica
17 de Fevereiro, 2022 | 08:19 AM

São Paulo — A plataforma de serviços para investidores TC (TRAD3) anunciou a criação de uma gestora de patrimônio para clientes de alta renda, marcando sua entrada no segmento de “multi family office”. É mais uma iniciativa que pode ajudar a destravar valor de sua ação, que acumula queda de 65% desde o pico de julho do ano passado, quando concluiu seu IPO (oferta inicial). Enquanto revela seu plano de expansão, a companhia tenta melhorar a percepção do mercado sobre as perspectivas de rentabilidade e se distanciar das polêmicas nas redes sociais, berço do antigo Traders Club. A última controvérsia com o nome do TC eclodiu no Twitter, na última sexta (11), e expôs um fundador da casa de análises Empiricus, ligada ao BTG Pactual, que havia recomendado “shortear” o papel (vender a descoberto, apostar na queda da cotação) em outubro.

Um dos contribuidores do TC, o influenciador financeiro Otavio Barros (ex-Faros Investimentos), conhecido como Tato, expôs, em um tuíte, trechos de uma mensagem direta (DM) recebida de um dos fundadores da Empiricus, Felipe Miranda, citando a existência de “informações não públicas” que a casa de análise supostamente teria sobre a companhia. Miranda não quis se pronunciar.

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Em comentário enviado à Bloomberg Línea, Barros disse que o objetivo do tuíte foi “mostrar como Miranda opera nos bastidores e suas táticas”. No tuíte, ele chegou a qualificar como “ameaçador” o tom do fundador da Empiricus na DM e insinuou a ocorrência de um suposto caso de “insider trading”, o uso indevido de informações privilegiadas para obter vantagens no mercado, uma prática proibida pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

“Fiquei bastante surpreso ao receber uma mensagem direta (DM) do fundador da Empiricus, Felipe Miranda, logo após a minha live, onde fiz questionamentos de forma absolutamente respeitosa sobre a parte técnica do short dele em TRAD3, ação que obviamente tenho na minha carteira. Questionamentos que, é importante destacar, continuam sem resposta. A live está disponível no meu Instagram (@tatobarros) para quem quiser assistir e foi feita de forma pública, às claras”, mencionou a nota de Barros enviada à Bloomberg Línea.

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O contribuidor do TC, que grava lives para a plataforma do TC, acrescentou ainda que Miranda o procurou, via DM, para propor um acordo de silêncio. “Me causou espanto ele ter proposto algum tipo de trégua ou acordo onde ele oferece não falar mais sobre o TC, em troca de eu não citá-los mais. Essa proposta de cara não me pareceu algo correto ou ético, uma vez que ele e a Empiricus têm um call aberto de venda e devem satisfação aos seus clientes e investidores dos fundos da Vitreo. É fundamental lembrar que estes clientes e investidores estão pagando uma taxa de aluguel médio superior a 60% ao ano”, relatou Barros.

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O influenciador disse também ter achado “suspeito” o fundador da Empiricus ter mencionado a existência de “informações não públicas” sobre o TC. “No mesmo trecho que destaquei, Felipe se recusa a fazer uma live aberta comigo, dizendo que seria desconfortável para ambos (ratifico que não seria para mim) e atribuindo esse suposto desconforto a assuntos ou informações não públicas, o que me soou bastante suspeito. Como não tenho nenhuma preocupação com qualquer coisa a que ele se refira, pedi para ele esclarecer o que quis dizer. Mais uma vez, sem resposta”, contou Barros.

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A postagem do contribuidor do TC se espalhou na FinTwit, comunidade que reúne no Twitter investidores, gestores, analistas, economistas, traders e influenciadores, reacendendo as rivalidades entre os apoiadores de TC e os da Empiricus. Até ontem, o tuíte de Barros teve mais de 13O comentários, mais de 70 compartilhamentos e mais de 890 curtidas, repercutindo em outras páginas e gerando comentários pró e contra as duas partes.

Outro lado

A Bloomberg Línea pediu à assessoria de imprensa do TC um comentário sobre a polêmica no Twitter. O posicionamento divulgado foi o seguinte: “A plataforma para investidores TC informa que não tem relação com a troca de mensagens e posts realizados entre Felipe Miranda, fundador da Empiricus, e Otávio Barros em redes sociais nos últimos dias. Barros é um dos mais de 50 contribuidores do TC e não possui vínculo empregatício com a companhia. Barros não é porta-voz do TC e suas postagens pessoais não representam as opiniões da empresa”.

Já Miranda não quis comentar. Uma fonte na Empiricus, que preferiu não se identificar, pois suas informações são privadas, disse que Miranda fazia referência a dois processos em andamento (nº 19957.006293/2021-09 e 19957.006779/2021-39), desde agosto passado, na CVM quando falou em “assuntos não públicos”. Afirmou ainda que a mensagem enviada a Tato foi em tom cordial, e não de ameaça, e que houve “vazamento seletivo” de trechos para criar a narrativa de ameaça.

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Na DM enviada a Barros, Miranda disse que “essa guerra em redes sociais é tóxica”, e que isso atrai um “barulho enorme, uma volatilidade bizarra para as ações e, assim, afastam todo investidor institucional”. O fundador da Empiricus também afirmou que não tem nada contra o TC e concluiu a mensagem escrevendo “Em missão de paz e estendendo a bandeira branca com toda a humildade do mundo, encerro com o desejo de boa noite e um abraço, se isso for possível”.

“Em relação aos dois citados processos, tratam-se de processos públicos em que a CVM avalia a procedência de denúncias. No caso do TC, todas as denúncias semelhantes feitas até hoje foram arquivadas. No mais, o TC reforça que responde apenas por porta-vozes da companhia, impossibilitando confirmar se as insinuações feitas por terceiros referem-se a esses dois processos em específico”, respondeu o TC, após ser questionado sobre o conteúdo desses processos.

A CVM não disponibiliza para o público em geral os autos de suas apurações, mas o site da autarquia confirma que os dois processos ainda estão em andamento, sem previsão de conclusão ou divulgação do seu conteúdo.

O relatório da Empiricus em outubro alertava o investidor sobre a tendência baixista da ação. Quando divulgou o relatório, TRAD3 custava R$ 6. Segundo analistas, a ação do TC não respondeu a uma série de anúncios de aquisições (como da Economatica, CriptoHub, RIWeb e Abalustre) desde a estreia na B3. Até ontem (fechou a R$ 5,08), TRAD3 já caiu 46,5% em relação ao preço fixado na oferta (R$ 9,50), aproximando-se de sua mínima histórica (R$ 4,16). Houve quem comprasse o papel na máxima histórica de R$ 14,15 na primeira semana de pregão. A correção negativa do “valuation” da companhia também foi vista em outras empresas do setor de tecnologia que abriram capital na B3, no ano passado.

Quando veio à tona o relatório da Empiricus recomendando a venda dos papéis do TC, prevendo uma desvalorização de pelos 50% no preço e tratando a companhia como “fake tech”, o TC reagiu, na época, criticando a seriedade técnica do relatório e acusando um suposto interesse da Empiricus em uma disputa comercial com TC por clientes, conforme noticiou o jornal Folha de S.Paulo no dia 26 de outubro (“Ações do TC desabam 10% após relatório da Empiricus”).

Alta renda

Em sua nova empreitada, entrando no negócio de gestão independente de recursos de terceiros, o TC diz que segue diversificando seu portfólio de produtos e serviços, a fim de melhorar sua geração de caixa. O executivo Fábio Levy (ex-BTG) foi nomeado diretor de Investimentos para comandar a gestora.

“Entramos no business de gestão de recursos com foco em um atendimento singular e sofisticado para clientes de alta renda, com total integração com a plataforma do TC, nossos serviços e equipe para entregar acesso aos melhores produtos financeiros tanto de mercados locais como internacionais, aumentando assim a sinergia com a base de clientes da companhia”, disse Pedro Albuquerque, CEO do TC, em nota sobre o negócio.

“Estou animado com esse novo desafio. Após 11 anos no BTG Pactual (BPAC11), tenho ampla experiência e conhecimento nesse perfil de cliente. No TC, meu foco estará no gerenciamento e relacionamento com os investidores da plataforma. Essa iniciativa é muito importante para o TC, visto que irá diversificar a receita da companhia com uma nova fonte de recursos”, afirmou Levy em comunicado.

No começo de janeiro, a Genial Investimentos divulgou um relatório sobre TRAD3 e listou os principais riscos do papel.

“Os principais riscos que enxergamos são: (i) redução do crescimento dos usuários em função do cenário econômico adverso para ativos de renda variável; (ii) potenciais erros ou demora na alocação de recursos obtidos no IPO com aquisições, em função da baixa experiência do time em M&A, e; (iii) aumento da competição de plataformas de investimentos, casas de research e corretoras, que vem ampliando o portfólio de ferramentas financeiras para melhorar a satisfação dos clientes muitas vezes a preços mais atrativos do que os produtos equivalentes do TC”, afirma o relatório da Genial, citando a Empiricus como “principal competidor” de TC.

Na avaliação da Genial Investimentos, TC é uma das empresas que se beneficiou da migração de investidores brasileiros para renda variável com a queda dos juros e inflação sob controle nos últimos três anos. “Monetizando com a venda de assinaturas, o TC deve ampliar a sua atuação para corretagem de ações, renda fixa e criptomoedas. Apesar de gostarmos das opcionalidades para o TC, acreditamos haver riscos de execução relevantes para manter o elevado ritmo de crescimento”, citou a área de análise da corretora, que tem recomendação de “manter” para o papel com preço alvo de R$ 4,7. Nessa quarta-feira, TRAD3 fechou cotada a R$ 5,08, subindo de 2,21%.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.