Bloomberg — A Nestlé alertou que a lucratividade pode cair pelo segundo ano em 2022, mostrando que mesmo a maior empresa de alimentos e bebidas do mundo não está imune à inflação dos custos que assola o setor.
Os custos de matéria-prima e transporte provavelmente aumentarão mais este ano do que em 2021, disse o CEO Mark Schneider a repórteres nesta quinta-feira (17), prevendo uma margem de lucro operacional subjacente de 17% a 17,5% este ano, em comparação com os 17,4% do ano passado.
“Não há nenhuma área da empresa isenta da inflação”, disse Schneider. A projeção deixa espaço para a possibilidade de alguma melhoria. Schneider disse que esse intervalo é conservador.
A Nestlé vem aumentando os preços no ritmo mais rápido em seis anos, à medida que as empresas de bens de consumo sofrem com a rapidez dos aumentos nos custos. A Unilever (ULEV34) afirmou que vai demorar dois anos até que sua margem retorne aos níveis de 2021. A Heineken (HEINY) disse na quarta-feira (16) que os orçamentos dos consumidores estão sendo corroídos pela pior inflação em uma década.
As ações sofriam poucas alterações às 10h30 em Zurique (6h30 no horário de Brasília), em uma recuperação da queda anterior de 1,6%.
A fabricante de Nespresso está em uma posição melhor do que seus pares, pois tem marcas fortes e vende produtos com prazo de validade longo, como café instantâneo, o que facilita o repasse de custos mais altos, segundo Andreas von Arx, analista da Baader Helvea.
“O guidance da margem para 2022 é indiscutivelmente fraco”, escreveu o analista da RBC Europe James Edwardes Jones. “Acreditamos que a Nestlé pode ser perdoada por esse guidance um pouco pessimista, considerando a incerteza predominante”.
As vendas da empresa aumentaram 7,5% organicamente em 2021 – o ritmo mais rápido em 13 anos e acima das expectativas dos analistas. A projeção é que o crescimento da receita desacelere para cerca de 5% em 2022, e Schneider disse que a empresa conseguirá atingir o guidance anterior do “Modelo Nestlé” nos próximos anos. Isso exigiu aumentos de 5% a 6% na receita anual. Schneider disse à Bloomberg TV que está otimista com a perspectiva de crescimento moderado da margem no médio prazo.
Entusiasmo nos EUA
Mais de um terço do faturamento da Nestlé é proveniente de produtos premium, que tiveram o bom crescimento de 12% no ano passado. Schneider disse que isso deve continuar, pois é mais fácil aumentar os preços nesse segmento, enquanto os produtos com preços médios enfrentam mais pressão. Os consumidores nos mercados em desenvolvimento começaram a migrar para marcas mais baratas no ano passado, acrescentou. Ainda assim, os dados recentes sobre os gastos do consumidor nos Estados Unidos são “animadores”.
Schneider também disse que a Nestlé está aberta a considerar novas aquisições depois de anunciar 85 compras e desinvestimentos desde que se tornou CEO em 2017. A empresa iniciou um programa de recompra de ações de 20 bilhões de francos (US$ 21,7 bilhões) este ano depois de vender parte de sua participação na fabricante francesa de cosméticos L’Oreal (OR) em dezembro por cerca de US$ 10 bilhões. Na época, a Nestlé disse que ajustaria a recompra se fizesse quaisquer aquisições consideráveis.
Em resposta a perguntas, Schneider disse que a Nestlé está aberta a formar parcerias com empresas de private equity para fazer negócios, como fez com sua joint venture de sorvetes Froneri, embora a empresa tenha recursos financeiros suficientes para adquirir empresas por conta própria.
“Uma das características da Nestlé é ser muito criativa quando se trata de fazer negócios”, disse Schneider.
Separadamente, a empresa está propondo adicionar o CFO da Apple (AAPL), Luca Maestri, e o diretor de marketing da Schneider Electric, Chris Leong, ao seu conselho de administração.
--Com a colaboração de Albertina Torsoli, Allegra Catelli e Francine Lacqua.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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