França retira soldados do Mali após quase uma década

Tropas se instalaram no país em 2013 para impedir avanço de jihadistas da Al Qaeda rumo à capital Bamako

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Bloomberg — A França e seus aliados concordaram em retirar suas forças do Mali depois que as relações com o governo do país da África Ocidental se deterioraram após um golpe militar.

Tropas francesas, europeias e canadenses estão planejando uma “retirada coordenada” do país devido a “múltiplas obstruções das autoridades provisórias do Mali”, disse o gabinete do presidente francês Emmanuel Macron em comunicado nesta quinta-feira (17).

“Não podemos continuar militarmente engajados com autoridades cuja estratégia e alvos ocultos não compartilhamos”, disse Macron a repórteres em entrevista em Paris.

Menos de dois meses antes de concorrer à reeleição e sob a pressão de rivais para trazer as tropas para casa, Macron está ansioso para encerrar a maior e mais cara operação militar da França.

As tropas francesas entraram no Mali em 2013 sob o comando do então presidente François Hollande para impedir que militantes ligados à Al-Qaeda avançassem em direção à capital, Bamako. Elas acabaram ficando no país enquanto a violência se alastrava.

No ano passado, Macron anunciou que a missão francesa no Sahel seria gradualmente substituída por uma nova operação multinacional europeia chamada Takuba, que foi totalmente implantada em abril de 2021. Essa medida fazia parte do esforço de Macron para uma política externa de segurança e defesa da Europa mais ambiciosa que pudesse operar independentemente dos Estados Unidos, incluindo um exército que pudesse ser enviado para missões de crise.

Como centro de uma insurgência que abrange vários países, o Mali está geograficamente melhor situado para a operação Takuba. Paris argumenta que a situação se tornou insustentável desde que a junta, que assumiu o poder após um golpe em maio, permitiu o envio de uma força privada russa, tentou adiar o retorno à democracia e revisou os acordos militares bilaterais.

Cúpula UE-África

Enquanto a operação Takuba acaba, a força da operação Barkhane, da França, permanecerá no Mali por cerca de seis meses para combater o terrorismo e garantir o fechamento de bases no local, disse uma autoridade francesa familiarizada com o Ministério da Defesa. A Barkhane também continuará apoiando a missão de paz das Nações Unidas conhecida como Minusma. Após a reorganização, a França planeja ter entre 2,5 mil e 3 mil soldados na região do Sahel.

A retirada do Mali foi anunciada após um jantar oferecido por Macron no Palácio do Eliseu em Paris para líderes europeus e representantes africanos da região. Muitos irão a Bruxelas para participar de uma cúpula UE-África nesta quinta-feira.

O Níger está disposto a receber tropas europeias que apoiariam as forças locais, disse Macron. Outros países da região, como Gana, Benin ou Costa do Marfim, estão prontos para criar novas parcerias, segundo as autoridades francesas.

Um total de 25 mil soldados estão no Sahel, incluindo 4,3 mil soldados franceses. 2,4 mil estão no Mali, de acordo com o gabinete de Macron. A retirada das tropas exigirá que os países da África Ocidental reforcem a segurança, disse o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara.

A saída das forças da operação Takuba “cria um vácuo”, disse Ouattara em entrevista na quarta-feira (16) à Radio France International. “Seremos obrigados a aumentar nosso contingente de defesa e a proteção de nossas fronteiras”.

À medida que a França recalibra seus esforços militares em sua ex-colônia, o país busca uma nova abordagem para seu relacionamento com a África. Durante a cúpula em Bruxelas, os participantes discutirão investimentos em tecnologias verdes, saúde e agricultura.

Os representantes do Mali não foram convidados para o jantar em Paris. O país foi suspenso pela União Africana, organização internacional que exigiu que a junta iniciasse uma transição democrática. Burkina Faso, que também foi suspenso pela União Africana após um golpe recente, também não foi convidado.

--Com a colaboração de Katarina Hoije e Leanne de Bassompierre.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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