Bloomberg — O presidente Vladimir Putin disse que espera uma solução diplomática para as tensões com os Estados Unidos e seus aliados e anunciou uma retirada parcial de milhares de tropas reunidas perto da fronteira ucraniana. Mas ele alertou que Moscou não vai esperar para sempre que o Ocidente atenda à sua exigência de que a Ucrânia nunca se junte à Otan.
“Queremos resolver essa questão agora ou em um futuro próximo, por meio de negociações, meios pacíficos”, disse Putin em uma coletiva de imprensa conjunta no Kremlin após três horas de conversas com o chanceler alemão Olaf Scholz, a mais recente de uma intensa uma série de esforços de líderes ocidentais para resolver o conflito em meio a advertências que a Rússia estava se preparando para invadir o país vizinho. “Esperamos que nossos parceiros ouçam nossas preocupações e as levem a sério”, disse Putin.
Scholz disse que é fundamental “garantir um desdobramento pacífico, sem conflito militar. Caso contrário, todos sabemos o que acontecerá”, fazendo referência às dolorosas sanções econômicas que os EUA e seus aliados ameaçaram impor à Rússia.
A reunião de Putin com Scholz ocorreu horas depois que a Rússia anunciou que estava retirando algumas de suas tropas de perto da Ucrânia. Autoridades ocidentais receberam cautelosamente a medida, mas disseram que precisavam de evidências de que a retirada estava realmente ocorrendo. O Kremlin negou consistentemente que planeja um ataque, mas Putin não descartou uma nova escalada se as demandas da Rússia não forem atendidas.
Ainda assim, os mercados financeiros se recuperaram com as notícias da retirada, já que os investidores tomaram a medida como um sinal de possível desescalada da Rússia em meio a um grande impulso diplomático após semanas de alertas dos EUA e da Europa sobre os riscos de um conflito.
Os EUA e a Otan disseram que a Rússia reuniu cerca de 130 mil soldados perto da fronteira com a Ucrânia em preparação para uma possível invasão. A Rússia rejeitou os avisos e os considerou uma “histeria”, mas continua realizando seus maiores exercícios em anos na vizinha Bielorrússia. Estes devem terminar em 20 de fevereiro, juntamente com os exercícios navais no Mar Negro.
O anúncio de uma retirada russa é “motivo para otimismo cauteloso”, disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, a repórteres em Bruxelas. “Até agora, não vimos nenhum sinal de desescalada no terreno” e a presença militar da Rússia continua sendo capaz de um ataque, disse.
Depois de alertar que uma invasão russa poderia ocorrer ainda nesta semana, os EUA evacuaram sua embaixada em Kiev e instaram os cidadãos americanos a deixar a Ucrânia.
Putin pediu aos EUA e seus aliados que ofereçam amplas garantias de segurança, incluindo a proibição de uma maior expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que incluiria a recusa de uma futura adesão à Ucrânia. Eles rejeitaram as exigências, mas ofereceram negociações sobre outras questões de segurança, incluindo restrições de mísseis e medidas para aumentar a confiança, propostas que o chanceler russo Sergei Lavrov chamou de “construtivas” em reunião com Putin na segunda-feira (14).
A Rússia está confiante de que os esforços diplomáticos destinados a resolver o impasse serão bem-sucedidos, disse Lavrov na terça-feira (15). “No geral, podemos pensar em uma solução boa”, disse ele a repórteres em Moscou.
Mas em uma decisão rapidamente criticada por Kiev e seus aliados ocidentais, a câmara do parlamento russo votou na terça-feira para apelar a Putin para reconhecer entidades separatistas na região de Donbas, no leste da Ucrânia. A Rússia emitiu mais de 700 mil passaportes para residentes nas autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk, embora apoie publicamente as negociações sobre a implementação de acordos de paz destinados a reintegrar as regiões à Ucrânia.
Scholz disse que o reconhecimento pela Rússia encerraria o processo de paz, “o que seria uma catástrofe política”.
Putin disse que o Kremlin continua comprometido com esses acordos, mas estudará o apelo em questão.
O Ministério da Defesa da Rússia disse que unidades dos distritos militares do oeste e do sul estão enviando equipamentos por transporte rodoviário e ferroviário após concluir seus exercícios e começarão a retornar às suas bases permanentes na terça-feira. Outras unidades militares continuam os exercícios em campos de treinamento na Rússia e “assim que as atividades de treinamento de combate forem concluídas, as tropas, como sempre, retornarão às suas bases”, disse o porta-voz do ministério, Igor Konashenkov, em vídeo publicado em seu site.
--Com a colaboração de Kitty Donaldson, Richard Bravo, Birgit Jennen e Patrick Donahue.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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