Bloomberg — O Brasil, maior produtor de café do mundo, tem estoques suficientes para garantir aos amantes da bebida sua dose diária, apesar das secas recentes, embora o envio da commodity para outros países continue sendo um desafio, segundo o chefe do grupo de exportadores do Brasil.
“O estoque não está tão alto, mas é o suficiente para atender à demanda das indústrias locais e globais”, disse Nicolas Rueda, presidente da Cecafé, em entrevista. Após uma safra abundante em 2020, “foi possível acumular muitos estoques”.
Os comentários de Rueda oferecem uma visão de um mercado sem dados transparentes e atualizados sobre quanto do café arábica preferido da Starbucks (SBUX) os produtores brasileiros possuem estocados, que, segundo monitoramento da bolsa ICE Futures U.S., está no nível mais baixo em 22 anos.
Preocupações com o estado da safra do Brasil após dois anos de seca e uma crise na cadeia de suprimentos causada pela pandemia levaram os futuros do café arábica em Nova York ao seu maior nível em uma década. Como muitas outras commodities, os preços cada vez mais altos do café estão contribuindo para um custo de vida maior em todo o mundo.
Embora os estoques monitorados pela Intercontinental Exchange – a ICE – sejam um importante indicador do equilíbrio entre oferta e demanda, eles representam apenas 1 milhão de sacas de 60 quilos de café dentre as 30 milhões estimadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos para estoques globais.
O último número da Conab é de março de 2020, estimando 13 milhões de sacas armazenadas, mas muita coisa aconteceu desde então. Então, a quantidade exata de café nos armazéns brasileiros é um mistério.
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Mas para Rueda, o maior problema continua sendo a exportação da commodity, não se há o suficiente para atender à demanda. Além da falta de contêineres que restringiu as exportações de café do Brasil no ano passado, o transporte terrestre também é um problema em destinos importantes como os EUA, onde há escassez de caminhoneiros.
“Todo o processo logístico está desequilibrado e levará muito tempo para se recuperar totalmente”, disse Rueda, que também é diretor para América do Sul e do Norte da Volcafé, uma das maiores empresas cafeeiras do mundo.
O Brasil exportou 2,8 milhões de sacas de café em janeiro – uma queda de 10% em relação ao ano anterior – e a expectativa é que os volumes continuem com tendência de queda nos próximos meses, segundo a HedgePoint Global Markets.
Em janeiro, os problemas de transporte marítimo melhoraram, já que havia mais navios disponíveis, mas os contêineres permaneceram escassos, disse Rueda.
Portanto, os exportadores têm recorrido cada vez mais ao envio de café em grandes sacos empilhados no porão de navios de carga fracionada, como no passado, antes da era da logística de contêineres. No ano passado, cinco dessas cargas partiram dos portos brasileiros e provavelmente mais algumas foram enviadas no mês passado, disse Rueda.
“Esta modalidade de frete veio para ficar”, disse Rueda.
Duas safras ruins consecutivas no país provavelmente manterão os estoques perto do nível mais baixo em décadas, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA. Isso deixaria pouco espaço para o país enfrentar mais problemas na produção. Qualquer geada durante o inverno pode piorar as perspectivas de uma oferta já limitada.
Até agora, as perspectivas para o café arábica melhoraram, pois o tempo chuvoso permitiu a recuperação dos cafezais, segundo Rueda.
Embora os benefícios das chuvas recentes fiquem mais evidentes na safra 2023/24, eles também favorecem a safra atual ao amenizar o impacto das secas e geadas recentes à medida que os frutos que contêm os grãos de café começam a se formar. Além disso, os produtores de grãos robusta devem entregar uma colheita recorde.
“Isso seria suficiente para saciar a sede do mercado”, disse Rueda.
--Com a colaboração de Marvin G. Perez.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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