São Paulo — O CEO do Banco do Brasil (BBAS3), Fausto Ribeiro, disse, nesta terça-feira (15), que o banco vai focar neste ano em linhas de crédito que ofereçam maiores margens financeiras, como cartões de crédito e CDC (crédito direto ao consumidor) para não correntista. Ele justificou que os índices de inadimplência estão sob controle, abaixo da média do setor financeiro, e que graças aos últimos investimentos realizados em tecnologia, o BB está preparado para “crescer no mar aberto”.
Em teleconferência com analistas para comentar o resultado financeiro do 4º trimestre, o executivo começou explicando o anúncio do “guidance” (projeção) para o aumento (de 11% a 15%) de margem financeira bruta e para o lucro líquido ajustado (R$ 23 bilhões a R$ 26 bilhões) neste ano.
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Em 2021, o BB reportou lucro ajustado recorde de R$ 21 bilhões, um aumento de 51,4%, sendo R$ 5,9 bilhões no 4º trimestre, um crescimento de 60,5% na comparação anual e de 15,4% em relação ao 3º.
“Temos projetado um crescimento da margem financeira para 2022. É um desafio e tanto para nós. Como a gente está buscando perseguir o resultado de R$ 23 a R$ 26 bilhões, que está no guindace? É um resultado bem desafiador, mas crescente. Se você pegar a série histórica de resultados do banco, você vê que o banco vem numa crescente em termos de resultado, de forma consistente, com um modelo de crédito nosso de originação de operações bem robusto, que nos traz um índice de inadimplência bem abaixo do setor financeiro”, comentou Ribeiro.
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Em 2021, a taxa de inadimplência para atrasos acima de 90 dias, conhecida como INAD 90, ficou abaixo da média do mercado e do ano anterior (1,90%). “Estamos com 1,75% de INAD 90 contra 2,30% do setor financeiro”, observou o CEO do BB.
Para justificar a projeção de aumento da margem financeira para os analistas de banco participantes da teleconferência, Ribeiro citou as apostas em produtos com potencial de oferecer melhor rentabilidade para o resultado financeiro e a perspectiva de redução dos custos de captação com o fim do ciclo de alta da taxa Selic (hoje em 10,75% ao ano), esperado pelo mercado, que está dividido se ficará acima ou abaixo dos 12%.
“Como pretendemos crescer essa margem financeira? Primeiro, uma composição mix em termos de foco de negócios um pouco diferente, dando prioridade a algumas linhas que apresentam maior margem financeira para o banco. Estamos falando aqui de explorar bastante questões de cartão de crédito, principalmente o rotativo, de trabalhar com o CDC para não-correntista, trabalhar no mar aberto”, afirmou o CEO.
Ele acrescentou que o investimento em tecnologia deve permitir menores receios com potenciais perdas em linhas de operações mais arriscadas. “O ano de 2021 foi marcante para nós porque conseguimos investir em soluções de tecnologia que vão nos dar segurança para que a gente possa crescer no mar aberto, de uma forma mais sustentável, sem tanto receio de fraude, porque esse mercado do mar aberto nos assustava no primeiro momento, mas com essas soluções de TI que nós adquirimos, estamos seguros que vamos entrar de forma consistente, com índice de qualidade elevado”.
Custo de captação
Também presente na teleconferência, junto a outros vice-presidentes do banco, Ricardo Forni, CFO do BB, citou que a redução dos custos de captação também contribui para o projetado aumento da margem financeira em 2022.
“A ideia é crescer em linhas que representam maior margem financeira para o banco e também reduzir nosso custo de captação. No decorrer do segundo semestre, houve uma elevação das condições da Selic. Isso afetou de alguma forma o nosso custo de captação, e a gente leva um tempo, qualquer banco, qualquer instituição financeira, para reprecificar seus ativos. A gente acredita que esse movimento deve diminuir daqui para frente, deve se estabilizar e a gente vai conseguir ter mais equilíbrio nessa equação, reprecificando nossos ativos mais rapidamente, gerando uma maior margem de contribuição para o resultado”, comentou Forni.
Outro indicador destacado foi o índice de cobertura, que fechou o ano em 325%, levemente abaixo dos 323% de setembro. Isso significa que o banco guarda R$ 3,25 para cada R$ 1 emprestado, como uma proteção no caso de um eventual calote.
“Temos um índice de cobertura que está em 325%. Isso nos dá de alguma forma, além de ser um índice robusto, se comparado com o mercado, margem para poder fazer um crescimento nesses ativos de maior rentabilidade, nos dá aquela gordura necessária para poder crescer. É dessa forma que estamos enxergando essa margem, esse índice de cobertura, nos dando dando portencial de fazer crescimento ao longo de 2022, e queimando um pouquinho dessa gordura em algum momento, mas mesmo assim o projetado nosso é ficar um pouco acima da média de mercado”, afirmou o CFO.
Selic
Ele também comentou sobre o impacto negativo do aumento da Selic na margem financeira no ano passado, mas espera um certo alívio neste ano. Em março do ano passado, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a Selic pela primeira vez, desde 2015, de 2% para 2,75% ao ano, iniciando um ciclo que deixou a taxa em 10,75% no fim de 2021, a fim de estancar a piora das expectativas do mercado para a inflação oficial. No Boletim Focus, divulgado ontem, o mercado elevou a previsão de Selic do ano para 12,25%.
“Em 2021, teve margem financeira onde a parte de captação foi um pouco detrator, pois ao longo do ano veio sendo consumida por conta da elevação da Selic e correndo atrás por conta da reprecificação da carteira. A reprecificação da carteira já está bastante adiantada. O ciclo de elevação da Selic já está no seu fim. Agora já tem todo o benefício da questão do barateamento relativo ao custo de captação oriundo da poupança, que é um pedaço expressivo da nossa captação junto com depósito judicial. A gente entende que essa parte de captação vai dar uma contribuição importante na margem para a gente atingir esse guidance de 11% a 15%”, comentou Forni.
Segundo o CFO, a margem de tesouraria do BB está se estabilizando. No último trimestre do ano, o resultado da tesouraria do BB trouxe uma receita de R$ 4,5 bilhões, aumento de 69% na comparação anual. “Esse é o o cenário que a gente enxerga para 2022. É um cenário benigno de margem, de tesouraria também foi um contribuidor importante de resultado no segundo semestre, no terceiro trimestre até foi mais destacado, mas a gente entende a margem de tesouraria se estabilizando num nível muito próximo do que foi no quarto trimestre”, afirmou.
Entre os segmentos que o BB espera dar maior atenção em 2022, segundo os executivos do banco, estão o agronegócio, explorando suas cadeias de negócios, como revendas de insumos, adubos, fertilizantes, máquinas e equipamentos, e as operações de atacados, como folha de pagamento das empresas, recebíveis e adiantamento de fornecedores.
Após a divulgação do resultado de 2021 e da teleconferência, as ações do BB registram forte alta (5,19%, a R$ 35,27, por volta das 13h20) na B3.
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