Bloomberg — A patinadora artística russa Kamila Valieva poderá continuar competindo nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, apesar de ter sido pega em um teste antidoping antes dos jogos, o que reavivou as antigas preocupações com o doping dos atletas de seu país.
O Tribunal Arbitral do Esporte, ou CAS, na sigla em inglês, disse nesta segunda-feira (14) que “se recusa a impor uma suspensão provisória à patinadora russa”, após uma reunião de quase seis horas na noite anterior. O Comitê Olímpico Internacional, a União Internacional de Patinação e a Agência Mundial Antidoping, que participaram da reunião junto com a patinadora de 15 anos e funcionários do Comitê Olímpico Russo, pediram o restabelecimento de uma suspensão anterior que forçaria a adolescente a se retirar dos próximos eventos.
Seu próximo evento é a competição feminina individual na terça-feira (15).
Em sua decisão de permitir que Valieva continue competindo, o CAS afirmou ter considerado “circunstâncias excepcionais”, incluindo seu status de “pessoa protegida” devido à sua idade segundo o Código Mundial Antidoping, e o “dano irreparável” que uma suspensão pode causar a ela. Além disso, Valieva não teve tempo suficiente para preparar sua defesa devido à notificação tardia de seu teste e nem teve resultado positivo nas Olimpíadas, disse o tribunal comunicado.
A Agência Mundial Antidoping rejeitou o julgamento em um comunicado, dizendo que, embora reconheça a decisão, ficou decepcionada que o CAS não tenha seguido os termos do Código Mundial Antidoping no caso de Valieva. O órgão também afirmou que seu departamento de investigação investigará a equipe de apoio de Valieva considerando seu resultado positivo, pois ela é menor de idade.
Enquanto isso, o Comitê Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos está “decepcionado com a mensagem que a decisão passa”, disse a CEO Sarah Hirshland em comunicado. “Este parece ser mais um capítulo no desrespeito sistemático e generalizado pelo jogo limpo por parte da Rússia”.
O COI respeitaria a decisão do tribunal sobre a participação de Valieva, disse o porta-voz Mark Adams em uma entrevista na segunda-feira em Pequim antes da divulgação do veredicto. Adams acrescentou que a decisão não decidirá se ela é culpada ou não de doping.
O cerne da controvérsia está na decisão de deixar Valieva competir nas Olimpíadas e no momento da divulgação de seu teste positivo, que foi de uma amostra coletada em 25 de dezembro. A agência antidoping russa suspendeu temporariamente Valieva depois de saber que ela havia testado positivo para trimetazidina – medicamento normalmente usado para tratar dor no peito e vertigem, mas que também pode aumentar a resistência – mas a reintegrou em 9 de fevereiro. O COI, a União Internacional de Patinação e a Agência Mundial Antidoping recorreram da decisão ao CAS.
Valieva estava entre os atletas do Comitê Olímico Russo que conquistaram o ouro em 7 de fevereiro no evento por equipes e impressionou o público com um salto quad – o primeiro de uma mulher em competição olímpica. A cerimônia de entrega das medalhas, que deveria acontecer no dia seguinte, foi adiada devido à investigação, e Adams disse que o resultado final dificilmente será decidido durante os jogos. Os EUA ficaram em segundo lugar, seguidos de Japão e Canadá.
“Fiquei surpresa ao ver que a decisão teve como base um argumento legal bastante complicado, que levou em conta mais do que apenas o fato de ela ter uma substância proibida em seu sistema”, disse por e-mail Susan Brownell, professora da Universidade de Missouri-St. Louis, que pesquisa esportes chineses e as Olimpíadas. “Eu apoio a decisão, esperando que, após uma investigação completa, os adultos responsáveis sejam punidos adequadamente e que o COI tente reprimir a Rússia com ainda mais veemência do que já faz”.
Atletas russos estão competindo em Pequim sob uma bandeira neutra e sob o nome ROC (a sigla em inglês para Comitê Olímpico Russo) como parte das penalidades impostas pela Agência Mundial Antidoping. Uma investigação independente comissionada pela agência em 2016 descobriu que autoridades esportivas russas supervisionaram um programa para manipular resultados de testes de doping de 2011 a 2015, inclusive durante os Jogos de Inverno de 2014 em Sochi, na Rússia.
--Com a colaboração de Amanda Wang.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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