Bloomberg — Bancos centrais cada vez mais agressivos e uma possível guerra capaz de acelerar uma espiral inflacionária mostram que os riscos para os mercados acionários estão se acumulando.
As bolsas globais tropeçaram diante dos sinais de que os bancos centrais vão apertar a política monetária de forma muito mais agressiva do que se esperava, interrompendo um movimento de ganhos nas ações que superou os sucessivos obstáculos trazidos pela pandemia. Agora os investidores de renda variável se veem diante da incerteza de um potencial conflito militar, embora a Rússia venha negando repetidamente que planeja invadir a Ucrânia.
A situação evolui rapidamente, mas alguns temas centrais já são visíveis. Primeiramente, a era de alta indiscriminada das ações, turbinadas por liquidez abundante, está chegando um fim. Em segundo lugar, os investidores talvez precisem se distanciar de ações de empresas de menor qualidade que são vulneráveis a um ambiente macroeconômico menos favorável.
Estas são as táticas de gestores de recursos e estrategistas para a nova era:
Aposte em qualidade
“Os investidores precisam se concentrar em aplicações de maior qualidade, em vez das mais especulativas que se beneficiaram de juros baixos e alta liquidez”, recomenda Carin Pai, vice-presidente executiva e responsável por gestão de carteiras na Fiduciary Trust International. Eles devem procurar empresas com “lucros mais estáveis e previsíveis”, afirma ela.
Risco da Ucrânia
A maioria dos estrategistas entende que o impacto de um potencial conflito será breve, mas espera volatilidade no curto prazo.
O UBS Global Wealth Management (UBS) aconselhou clientes a administrar riscos de baixa em seus papéis e a se preparar para uma recuperação do mercado no final do ano. “Setores como energia e finanças, ações com perfil de valor e commodities estão posicionados para se beneficiar de crescimento econômico robusto e estão relativamente isolados dos riscos primários do mercado”, escreveram em nota estrategistas do UBS liderados por Mark Haefele.
Cuidado com o risco de crédito
Buscar qualidade também significa escolher ações de empresas menos endividadas, com balanços patrimoniais mais fortes e fluxos de caixa em expansão, segundo Pai. Os níveis de endividamento ficam mais relevantes à medida que os juros sobem e os bancos centrais fecham as torneiras de liquidez.
Estrategistas do Bank of America (BAC) listam bancos europeus e montadoras de automóveis entre os mais vulneráveis em períodos de ampliação dos spreads de crédito. Fabricantes de produtos de higiene, redes de drogarias e supermercados e companhias de saúde tendem a entregar desempenho superior nesse ambiente, segundo eles.
Ávidos por rendimento, os investidores apostaram em empresas com graus variados de risco de crédito nos últimos anos, mas no novo contexto, “as pessoas começam a enxergar risco que não passava pela cabeça delas antes”, alerta Salman Baig, gestor de investimentos multimercado e vice-presidente sênior da Unigestion. “Se esses investidores saírem correndo, pode haver agravamento de uma queda em espiral.”
Longe dos EUA
Instituições com uma visão mais pessimista como o Morgan Stanley (MS) veem adiante um período de “inverno” para as ações dos EUA, mas permanecem com avaliação positiva da Europa. Otimistas como o JPMorgan Chase veem espaço para as bolsas subirem de modo geral, mas também acham que os mercados dos EUA podem “estacionar” em relação às bolsas da Zona do Euro e do Reino Unido.
Refúgio
Até os especialistas mais otimistas esperam retorno contido este ano, então onde buscar refúgio?
“Gostamos de ações de mercados emergentes”, incluindo China, diz Baig, da Unigestion.
Matérias-primas, indústria, bancos e energia são setores de melhor desempenho em um ambiente de elevação das expectativas de inflação e juros mais altos, afirmaram estrategistas do JPMorgan Asset Management (JPM). Mas o essencial é investir em empresas com lucros resilientes, acrescenta Hugh Gimber, estrategista global de mercado da instituição.
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