Covid em Hong Kong abre portas para China aumentar vigilância

Pior surto permite que o governo aumente a vigilância da população com um aplicativo de rastreamento de contatos

Consumidores escaneiam QR codes para o aplicativo LeaveHomeSafe Covid-19 antes de entrar em um mercado em Hong Kong
Por Kari Soo Lindberg
14 de Fevereiro, 2022 | 02:54 PM

Bloomberg — Os líderes de Hong Kong gastaram grande parte de seu capital político nos últimos dois anos erradicando a oposição em vez de vacinar os mais vulneráveis. Agora, à medida que os casos atingem novas máximas, as autoridades da cidade estão se alinhandom cada vez mais com a China continental.

No fim de semana, o secretário-chefe John Lee reuniu-se com autoridades chinesas na vizinha Shenzhen para buscar assistência a fim de garantir suprimentos suficientes de alimentos e construir um hospital improvisado para pacientes com covid, o mais recente sinal de como o centro financeiro outrora autônomo continua a ficar cada vez mais dependente de Pequim, à medida que segue a estratégia Covid Zero da China em vez de abrir fronteiras.

O pior surto de Hong Kong desde que o vírus surgiu há mais de dois anos também permite que o governo aumente a vigilância da população com um aplicativo de rastreamento de contatos.

QR code para o aplicativo de rastreamento de contato LeaveHomeSafe Covid-19 em Hong Kong (Paul Yeung/Bloomberg)

A partir de 24 de fevereiro, apenas pessoas com pelo menos uma dose contra Covid poderão entrar nos comércios da cidade, incluindo supermercados. Para garantir o cumprimento, moradores devem scanear um QR code em seu smartphone toda vez que entram em um shopping, cortam o cabelo ou vão à igreja, um desdobramento que a Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse ser aparentemente para “matar dois coelhos com uma cajadada só”.

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Desde que a China impôs a lei de segurança nacional a Hong Kong em junho de 2020, as autoridades tentaram processar cerca de 100 jornalistas, ativistas e parlamentares pró-democracia, entre outros, que foram acusados com base na lei. Agora, o aumento da vigilância digital dará às autoridades mais ferramentas para acessar informações sobre o paradeiro dos cidadãos, aumentando a preocupação em um momento em que gritar em protesto pode resultar em uma sentença de prisão por vários anos.

Um editorial no South China Morning Post no sábado elogiou o aplicativo de saúde da China como “altamente eficaz” na contenção de surtos e disse que Hong Kong precisa levar em conta “todas as ferramentas” para ter sucesso em sua batalha. Ao contrário do aplicativo da China continental, o LeaveHomeSafe de Hong Kong não transmite dados de rastreamento em tempo real para o governo -- questão sensível em uma cidade onde manifestantes pró-democracia usavam máscaras, destruíam câmeras de vigilância, derrubavam postes de luz inteligentes e usavam guarda-chuvas para evitar a detecção pelas autoridades.

“O operador do local não poderá ler os dados pessoais, mas o governo pode”, disse David Webb, investidor ativista e fundador do Webb-Site.com. “Poderia então ver, por exemplo, que você (um jornalista) chegou a um restaurante quase ao mesmo tempo que X (uma fonte).”

Consumidores escaneiam QR codes para o aplicativo LeaveHomeSafe Covid-19 antes de entrar em um mercado em Hong Kong (Chan Long Hei/Bloomberg)

Ada Chung, a Comissária de Privacidade para Dados Pessoais, disse em 10 de fevereiro que adicionar uma função de rastreamento ao aplicativo LeaveHomeSafe não violaria as leis de proteção de dados.

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