A riqueza oculta por trás do lixo eletrônico da América Latina

Estima-se que 13 países latino-americanos geraram mais de 1,3 milhão de megatoneladas de lixo eletrônico apenas em 2019

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Bloomberg Línea — A América Latina está deixando de ganhar vários milhões de dólares devido à má gestão do lixo eletrônico e ao descarte de matérias-primas secundárias utilizáveis, segundo relatório divulgado pelo Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa – Unitar, na sigla em inglês.

O Unitar indica que o lixo eletrônico gerado em 2019 continha 7 mil quilos de ouro, 310 quilos de metais de terras raras, 519 milhões de quilos de ferro, 54 milhões de quilos de cobre e 91 milhões de quilos de alumínio, segundo o relatório.

Isso representa um valor total de aproximadamente US$ 1,7 bilhão em matérias-primas secundárias, mas o problema é que “mais de 97% do lixo eletrônico da região não é coletado nem enviado a instalações específicas para um manejo ambientalmente adequado” .

“A maior parte do lixo eletrônico acaba em aterros sanitários e o setor informal acaba coletando algumas partes mais valiosas”, indica o relatório, que leva em conta dados de países como Argentina, Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela.

Mas, assim como seu valor é desperdiçado, as substâncias perigosas presentes no lixo eletrônico também são mal geridas na região.

Entre elas estão no mínimo 2,2 mil quilos de mercúrio, 600 quilos de cádmio, 4,4 milhões de quilos de chumbo, 4 milhões de quilos de retardantes de chama bromados e 5,6 megatoneladas de equivalentes de gases de efeito estufa (devido aos gases refrigerantes).

“Provavelmente, os resíduos não são tratados, gerando diversos riscos para a estabilidade de um ambiente saudável”, alerta.

Estima-se que 13 países latino-americanos geraram mais de 1,3 milhão de megatoneladas de lixo eletrônico apenas em 2019, sendo os maiores contribuintes a Argentina, o Peru e o Chile.

O relatório mostra que a geração de lixo eletrônico na região aumentou 49% entre 2010 e 2019, período em que a média por habitante passou de 4,7 quilos para 6,7.

Além disso, desde 2010 “a geração de resíduos eletrônicos plásticos contendo poluentes orgânicos persistentes aumentou 63%, chegando a 0,38 megatons em 2019″, indica.

Segundo o relatório, a maior quantidade de lixo eletrônico gerado por habitante foi registrada na Costa Rica (13,2 kg/habitante), e a menor, na Nicarágua (2,5 kg/ habitante). E também acrescenta que “aparelhos de pequeno porte, dispositivos de troca de temperatura e aparelhos de grande porte apresentam o maior percentual de geração de resíduos eletrônicos, representando 75% do total da região”.

O Unitar explica que “o financiamento adequado, a supervisão dos sistemas e a cooperação de todas as partes interessadas são essenciais para garantir que as políticas de gestão de resíduos eletrônicos estabelecidas sejam mantidas”.

Por isso, urge prevenir mais o descarte de lixo eletrônico, ter mais consciência, fazer mais coletas, poluir menos, pagar bem funcionários e catadores, trabalhar com mais segurança e educar mais.

--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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