Bloomberg Línea — O boom nos setores de tecnologia e saúde, que foi impulsionado pela pandemia, acelerou as operações de fusões e aquisições acima de R$ 50 milhões no ano passado, segundo levantamento da RGS Partners, boutique de M&A especializada em médias empresas.
No ano passado, o país teve 280 transações com este perfil, mais de 50% acima das 186 operações do ano anterior. As fusões e aquisições totalizaram pelo menos R$ 300 bilhões, volume 38% maior do que os R$ 219 bilhões de 2020, de acordo com o levantamento.
Entre os fatores que aqueceram essas transações, estão a transformação digital em função da pandemia, além da urgência em otimizar processos, somados a uma maior capitalização e ao aumento de liquidez gerado pela queda de juros.
A maior transação em 2021 foi a fusão entre NotreDame Intermédica (GNDI3) e a Hapvida (HAPV3), que atingiu R$ 53,5 bilhões. Em seguida, vem a compra pela Energisa (ENGI11) da Rede Energia, avaliada em R$ 28,3 bilhões, e a compra do BIG pelo Carrefour (CRFB3) por R$ 10,8 bilhões.
Venture capital
O estudo aponta a Vale (VALE3) como uma das maiores compradoras em termos de volume. A mineradora desembolsou nos últimos dez anos R$ 71,9 bilhões para a compra de outras companhias. Em número de transações, o destaque segue com os fundos de venture capital. Kaszek, Monashees e Softbank respondem, respectivamente, por 44, 34 e 33 transações.
Veja mais: Os principais investidores nas startups da América Latina em janeiro
No estudo, a RGS Partners destaca o forte movimento registrado no segundo semestre do ano passado. Entre julho e dezembro, ocorreram 116 transações - mais que o dobro das 53 do segundo semestre do ano anterior. O volume financeiro somou R$ 180 bilhões - oito vezes maior que os R$ 22 bilhões do mesmo período de 2020.
“O mercado de fusões e aquisições vive hoje seu melhor momento e os números compilados apontam justamente nessa direção. Tivemos um cenário macroeconômico que não apenas permitiu, mas estimulou que corporações fechassem negócios para acelerar seu crescimento, simplificar processo e ampliar suas capacidades”, disse Guilherme Stuart, sócio-fundador da RGS Partners.
O estudo mostra que, entre 2011 e 2021, o mercado de M&A movimentou mais de R$ 1,7 trilhão, distribuídos em mais de 1.700 transações.
Para 2022, Stuart espera que as fusões e aquisições continuem em ritmo semelhante apesar da alta da taxa básica de juros. Isso porque, disse ele, o ambiente competitivo deve estimular as empresas a adaptarem seus modelos de negócio para continuarem crescendo.
Setores mais aquecidos
No ano passado, o setor de tecnologia contou 83 transações, liderando de longe a maioria dos negócios de fusões e aquisições. Já empresas de saúde responderam por 48 transações e as de serviços de utilidade pública por outras 29 operações. Em termos de volume de transações, a vertical de saúde movimentou R$ 77 bilhões, enquanto a de utilidade pública totalizou R$ 51 bilhões e a de tecnologia, R$ 44 bilhões.
“As grandes corporações, ao entenderem que existe agora um caminho de capital disponível para que as startups cheguem até um IPO, têm se movimentado e comprado essas jovens empresas de base tecnológica, evitando assim uma concorrência futura”, disse o executivo.
No acumulado entre 2011 e 2021, o setor de varejo e consumo foi o que mais transações registrou, com 303 transações ou 17% do total. Em seguida, aparecem os setores de tecnologia, com 234 (13%); e serviços de utilidade pública, com 195 (11%) dos negócios. Em relação aos volumes financeiros, serviços de utilidade pública responderam por R$ 245 bilhões (14%); varejo e consumo, por R$ 203 bilhões (12%); e saúde, por R$ 200 bilhões (11%).
De acordo com o relatório, 74% das transações registradas na década foram realizadas por compradores estratégicos. Os demais 26% dos acordos foram liderados por investidores financeiros como fundos de private equity e de venture capital.
Entre todas as 1.737 transações mapeadas no período, 1.126 (65%) delas se deram entre players nacionais, que somadas foram responsáveis por 75% do volume transacionado (R$ 1,3 bilhão).
Leia também