Banco ABC aumenta base de clientes e lucro cresce 78% no ano

Instituição, que iniciou novo ciclo de investimentos, reportou o segundo trimestre consecutivo com lucro acima da marca de R$ 150 mi

ABC Brasil, controlado pelo Arab Banking Corporation, iniciou operações no Brasil em 1989 e tem aumentado seu lucro trimestral com aposta no segmento de clientes de perfil "middle" (empresa com faturamento anual entre R$ 30 milhões e R$ 300 milhões)
11 de Fevereiro, 2022 | 02:33 PM

São Paulo — Expandindo em 32% sua base de clientes, o Banco ABC Brasil (ABCB4) fez seu lucro crescer 77,7% em 2021, somando R$ 572,2 milhões, e espera manter essa trajetória positiva neste ano com seu novo ciclo de investimentos, que prevê contratação de pessoal, melhorias tecnológicas e análise de oportunidades de aquisição, sem perder de vista a disciplina com despesas e rentabilidade.

O 4º trimestre trouxe um lucro R$ 162 milhões, alta de 52,8% na base anual. Foi a 2ª vez, em sua história, que a instituição, controlado pelo Arab Banking Corporation, reportou um lucro trimestral acima da marca R$ 150 milhões, repetindo o feito do 3º trimestre (R$ 151,5 milhões).

Foi um bom ano, cuja tônica foi o aumento significativo da base de clientes, além do aumento da margem com clientes e da receita de serviços”, avaliou o CFO do ABC, Sergio Borejo, ao comentar o resultado com Bloomberg Línea.

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Dois fatores foram apontados como decisivos para o crescimento de 23% na margem com clientes em 2021, atingindo um spread com clientes acima de 4% no segundo semestre do ano passado:

  • Mudanças no mix de produtos: incremento na oferta de transações estruturadas para os clientes, principalmente de derivativos e câmbio – o que contribuiu para a expansão da margem – bem como uma maior rentabilidade em “cash management”
  • Crescimento do segmento middle: manteve a expansão do segmento middle, com um crescimento de 64% no número de clientes em 12 meses, atingindo 7,9% da carteira de crédito expandida, um crescimento de 170 pontos base em relação a 2020

Para o ABC, o “middle” é o cliente pessoa jurídica com faturamento anual entre R$ 30 milhões e R$ 300 milhões, um segmento que só recentemente ganhou maior relevância na composição da receita do ABC, na comparação com os clientes do segmento “corporate” (faturamento anual entre R$ 300 milhões e R$ 4 bilhões) e CIB (corporate investment bank, com receita superior a R$ 4 bilhões). No fim de dezembro, a instituição tinha cerca de 1.700 clientes de perfil “middle”, acima dos 1.457 do grupo “corporate” e 331 do CIB.

O banco encerrou 2021 com 3.490 clientes totais, sendo 2.322 clientes com exposição de crédito. O crescimento de 32% dessa base no período de 12 meses veio da adição de 852 novos clientes, sendo mais 375 clientes com exposição de crédito.

ROAE e Selic

Em 2021, o ROAE (Retorno Anualizado sobre o Patrimônio Líquido) do ABC foi de 12,8%, um crescimento de 0,50 ponto percentual em relação a 2020. No quarto trimestre, o ROAE anualizado foi de 14,1%, o sexto trimestre consecutivo de expansão.

Segundo o CFO do ABC, cada aumento da taxa Selic em 1 ponto percentual representa um incremento de 0,40 ponto em seu indicador de rentabilidade, devido ao impacto da correção do seu patrimônio remunerado pela taxa do CDI.

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O banco trabalha atualmente com uma projeção de Selic a 12% para o fim do ciclo de alta de juros (hoje em 10,75% ao ano). Borejo espera a continuidade do aumento do ROE nos próximos trimestres.

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Ele ressalta, no entanto, para o impacto negativo da inflação nas despesas do banco devido à correção dos preços dos aluguéis e ao dissídio de pessoal. Em fato relevante, a instituição divulgou também “guidances” para 2022:

  • Crescimento de carteira de crédito expandida: 12% a 16%
  • Crescimento da carteira de crédito expandida do segmento middle: 40% a 50%
  • Crescimento de despesas (pessoal, outras administrativas e PLR): 30% a 40%
  • Índice de eficiência (despesas/receitas): 36% a 39%

Borejo explicou que o aumento de despesas pode ser dividido em três fatores: 1/3 é o efeito da inflação, outro 1/3 é o gasto com expansão comercial (como a contratação de gerentes de relacionamento e outros profissionais para aumentar sua base de clientes) e mais 1/3 é com investimentos em inovação, como a contratação de profissionais de tecnologia.

O CFO do ABC também espera um aumento do risco de crédito devido ao clima de cautela com o cenário macroeconômico principalmente no Brasil (juros, inflação, disputa presidencial). “Fizemos provisão genérica para devedores duvidosos para eventuais ciclos adversos”, afirmou Borejo, em referência ao segmento middle.

Presente na entrevista, o diretor de relações com investidores do ABC, Ricardo Moura, falou sobre o novo ciclo de investimentos do banco, iniciado no quarto trimestre de 2022. Ele lembrou que o primeiro ciclo começou há três anos com a aposta no segmento de cliente middle e na comercializadora de energi do banco. “Com o 2º ciclo, o objetivo é conseguir diversificar as receitas, acelerar o crescimento e expandir a rentabilidade”, disse.

Indagado se esse novo ciclo inclui uma estratégia de M&A (fusões e aquisições), Moura respondeu que o ABC tem trilhado o caminho do crescimento orgânico, mas que está atento às oportunidades de investimento. “Somos muito disciplinados em fazer parcerias ou aquisições. Temos de ver se faz sentido, qual o retorno que traz”.

Em outro fato relevante do dia, o ABC divulgou que vai implementar um novo sistema de incentivo de longo prazo (ILP) aos seus administradores, após aprovação do assunto pelo conselho de administração no último dia 9. O ILP consiste em programas direcionados aos membros do comitê executivo, diretores e profissionais-chave da companhia e inclui uma estrutura de remuneração variável baseada na outorga faseada de ações preferenciais atreladas à rentabilidade do ABC Brasil, períodos mínimos de permanência do colaborador com o banco, prazos para efetiva atribuição das ações, bem como outras condições típicas de mercado para a permanência nesse tipo de programa.

Repercussão

As ações do ABC reagiram à divulgação do resultado com forte alta na B3. Por volta das 14h, o papel estava subindo 4,62%, a R$ 16,75, após uma máxima de R$ 16,91.

Em comentário sobre os números, intitulado “Tendências Positivas, Apesar da Surpresa Negativa”, os analistas Gustavo Schroden (Bradesco BBI) e Maria Clara Negrão (Ágora Investimentos) mantiveram a recomendação de compra para o ABC Brasil, citando que o “banco apresentou tendências positivas no quarto trimestre, apesar da decepção no lucro líquido”.

" O lucro líquido do ABC aumentou +6,9% na variação trimestral (+11% na variação anual), com expansão robusta da carteira e índices de cobertura confortáveis, uma vez que os NPLs (empréstimos inadimplentes) permanecem saudáveis. Por outro lado, as receitas de tarifas foram fracas devido a uma base de comportação mais dura em relação ao 3T21, enquanto o maior opex (despesas operacionais) se deve à continuidade da expansão dos negócios em outros segmentos. Por fim, reconhecemos a orientação ambiciosa da empresa para 2022, com uma expansão ainda mais robusta no segmento de PMEs, o que nos deixa confortáveis em relação a rentabilidade futura”, escreveram em nota enviada aos clientes.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.