Bloomberg — Pressionadas por Pequim, as maiores gestoras de dívidas de recebimento duvidoso da China estão se movimentando para ajudar incorporadoras imobiliárias e contribuir aos esforços governamentais para conter as consequências de uma série de calotes. A informação é de pessoas a par do assunto, que pediram anonimato.
Autoridades reguladoras orientaram gestoras estatais — incluindo China Huarong Asset Management e China Cinda Asset Management — a participar da reestruturação de incorporadoras fragilizadas, adquirir projetos imobiliários paralisados e comprar empréstimos problemáticos, afirmaram as fontes.
A Huarong é uma das instituições financeiras em negociação com a incorporadora Shimao Group Holdings, acrescentaram as pessoas entrevistadas. A Cinda participa da proposta de reestruturação da China Evergrande Group. Pela proposta, um grupo de investidores deve assumir propriedades que a gigante teria dificuldade em vender, segundo reportagem veiculada pela Bloomberg no final do mês passado.
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As autoridades pedem que as gestoras cumpram regulamentos de gestão de risco, mas deixaram claro que lucrar nas transações com essas incorporadoras é preocupação secundária, informaram as fontes.
As gestoras de créditos inadimplentes têm autorização para pagar preços acima dos praticados no mercado pela dívida das incorporadoras, segundo um dos entrevistados. Ele acrescentou que os reguladores estão fazendo estudos preliminares para ampliar o poder de compra dessas gestoras por meio de recursos adicionais, mas nenhuma decisão foi tomada ainda.
Não está claro o que esse apoio pode significar para os detentores dos títulos das incorporadoras. Esses papéis vêm perdendo valor desde meados de 2021, em meio a uma crise de liquidez em todo o setor. Injeções de capital das gestoras de dívidas inadimplentes serão usadas prioritariamente para concluir projetos imobiliários inacabados, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto. A quantia que sobrará para os credores dependerá dos preços que as gestoras estão dispostas a pagar pelos ativos da incorporadora em questão.
O governo chinês age para conter o contágio no setor imobiliário após a venda de imóveis residenciais despencar. Incorporadoras como a Evergrande deixaram de honrar obrigações atreladas a mais de US$ 7 bilhões em títulos offshore no ano passado. Cidadãos comuns protestaram após comprarem moradias que não foram construídas e contratarem produtos de investimento que deram errado. O tumulto força o governo do presidente Xi Jinping a garantir a estabilidade social antes da transição de liderança do Partido Comunista este ano.
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A desaceleração da segunda maior economia do mundo — arrastada pelo setor imobiliário — forçou autoridades a implementar políticas de flexibilização. O banco central baixou juros no mês passado e prometeu usar mais ferramentas de política monetária. Reguladores do setor financeiro flexibilizaram um limite de empréstimos para moradias populares voltadas para aluguel.
Segundo os entrevistados, o governo chinês recrutou as gestoras de dívidas inadimplentes para acelerar a venda de ativos por incorporadoras que lutam para encontrar compradores, aproveitando a experiência dessas gestoras em reestruturações complexas de passivos.
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