As vacinas contra covid são seguras para crianças pequenas?

Espera-se que a FDA americana se posicione com clareza quanto à segurança e a eficácia da vacina da Pfizer para crianças e 2 a 4 anos

Por

Bloomberg Opinion — Um comitê consultivo se reunirá na próxima semana para discutir se a Food and Drug Administration dos Estados Unidos deve autorizar a vacina contra covid-19 da Pfizer para crianças menores de 5 anos. Mais especificamente, eles se reunirão para discutir dados - dados que ninguém além da Pfizer e da FDA tiveram acesso – sobre as duas primeiras doses do que provavelmente será uma série de três doses para as crianças.

Confuso com esta estratégia? Assim como alguns especialistas em doenças infecciosas, pediatras e pais.

As vacinas para as crianças menores foram adiadas muitas vezes, mais recentemente porque os dados do teste da Pfizer não tiveram um bom resultado. Duas doses da vacina induziram uma forte resposta de anticorpos em crianças de 6 meses a 2 anos, mas não atingiram a barreira que a agência havia estabelecido para crianças de 2 a 4 anos.

Veja mais: Covid: um em cada 10 pais em Hong Kong quer vacinar os filhos

A Pfizer está testando uma terceira dose, mas esses dados não estarão disponíveis até março ou abril. Enquanto isso, a FDA pressionou a empresa a começar a fornecer informações, de forma que o órgão possa considerar a aplicação das duas primeiras doses nos bracinhos dos pequenos.

Os pais de crianças em idade pré-escolar ficaram com poucas informações e muita incerteza. Se a FDA agora achar prudente autorizar as vacinas para crianças menores de 5 anos, precisará explicar claramente como elas funcionam e por que são importantes.

Especialistas em saúde pública e doenças infecciosas sugeriram vários cenários nos quais faria sentido autorizar a vacina para crianças pequenas. Talvez porque tantas outras crianças tenham sido infectadas durante a onda ômicron, a Pfizer agora tem dados que mostram que as crianças vacinadas em seu estudo estavam protegidas contra doenças graves ou hospitalização. Talvez a FDA esteja levando em consideração o que agora se sabe sobre o declínio da imunidade – que níveis mais baixos de anticorpos vários meses após uma segunda injeção da Pfizer ainda oferecem uma cobertura razoável. Ou pode ser que, com a ômicron atingindo as crianças mais extensivamente, a agência esteja simplesmente apostando em uma terceira dose que ofereça a proteção necessária.

Todas essas possibilidades podem ser razões justas para autorizar as vacinas e esperar que os pais sejam motivados a vacinar seus filhos. Mas todas são palpites.

A especulação pode fazer sentido no contexto do debate científico, diz Kasisomayajula “Vish” Viswanath, professor de comunicação em saúde da Escola Chan de Saúde Pública T.H. de Harvard. “Mas para um pai? Apenas responda a pergunta de forma direta: o que devo fazer hoje pela minha família?”

Há um fator que deixa tudo ainda mais incerto: as informações que temos não vieram de publicações revisadas por pares, mas por meio de comunicados de imprensa e Twitter. Levará mais uma semana até que o público tenha acesso aos documentos que o comitê consultivo da FDA considerará.

A menos que os reguladores tenham algum novo sinal de que as vacinas previnem doenças graves ou transmissão do vírus, eles podem acabar com uma questão incomum para as famílias: confie que, embora não tenhamos dados para mostrar que as vacinas funcionam em crianças de 2 a 4 anos, supomos que elas funcionarão após uma terceira dose, então comece com as duas primeiras por precaução.

Transmitir a mensagem correta sobre as vacinas para todas as crianças é fundamental. Em janeiro, apenas 33% das crianças americanas de 5 a 11 anos haviam recebido sua primeira dose, de acordo com a Kaiser Family Foundation. A pesquisa da KFF também descobriu que apenas 31% dos pais planejavam vacinar seus filhos com menos de 5 anos imediatamente. Há uma preocupação compreensível de que a relutância em torno da vacina contra covid para crianças possa levar à hesitação em relação a outras vacinas infantis.

A abordagem da FDA pode dificultar o trabalho dos pediatras quando os pais perguntarem sobre os riscos para seus bebês – de infecção, hospitalização ou morte. Os pais também se preocupam com coisas mais cotidianas, como se é seguro permitir brincadeiras em lugares fechados com outras crianças e festas de aniversário depois que as crianças tiverem recebido as duas doses.

As respostas a essas perguntas sempre dependerão da tolerância de um indivíduo ao risco, e nenhum novo dado da Pfizer pode mudar isso. Mas os especialistas em saúde pública precisam pelo menos tornar a mensagem sobre eficácia clara e simples.

O que os pais mais se preocupam é com a segurança, mostra a pesquisa da KFF. E a partir dos dados disponíveis até agora, as vacinas da Pfizer parecem seguras na população com menos de 5 anos. Claro, as vacinas também têm um bom histórico de segurança em crianças mais velhas e adultos. Mark Sawyer, especialista em doenças infecciosas do Rady Children’s Hospital em San Diego, me disse que está “1.000% confortável” dando a vacina da Pfizer a seus netos de 1,5 e 2,5 anos. Sawyer está no painel consultivo de vacinas da FDA que avaliará os dados da Pfizer.

Argumentar que as vacinas funcionam em crianças pequenas será mais difícil. Isso, aponta Sawyer, depende de quantas pessoas contraem o vírus e quais cepas estão circulando – fatores que estão fora do controle dos reguladores. Mas a FDA pode deixar a mensagem o mais simples possível, certificando-se de que qualquer decisão de permitir as vacinas para as crianças mais novas seja fortemente apoiada por dados.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.

Lisa Jarvis, ex-editora executiva do Chemical & Engineering News, escreve sobre biotecnologia, descoberta de medicamentos e indústria farmacêutica para a Bloomberg Opinion.

– Este texto foi traduzido por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também