Protesto de caminhoneiros canadenses congestiona ponte nos EUA

Outro ponto de fronteira entre os dois países já havia sido interditado; reivindicações incluem o fim das restrições relacionadas à pandemia

Fronteira entre Detroit (EUA) e Windsor (Canadá) ficou bloqueada nesta terça-feira (8)
Por Brian Platt
08 de Fevereiro, 2022 | 06:04 PM

Bloomberg — Os protestos contra a obrigatoriedade da vacina e as restrições devido à covid-19 se ampliaram em todo o Canadá, com caminhoneiros impedindo o tráfego comercial em passagens críticas de fronteira, incluindo a Ambassador Bridge em Detroit.

A estrutura quase centenária que conecta a cidade a Windsor, em Ontário, foi fechada em ambas as direções na segunda-feira (7). A travessia terrestre é o elo mais importante para mercadorias que circulam entre o Canadá e os Estados Unidos e uma via crucial para fornecedores e fabricantes de autopeças. Cerca de 1,4 milhão de caminhões entraram nos EUA por Detroit no ano passado, quase todos pela ponte.

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Outra passagem de fronteira em Coutts, na província de Alberta, que já havia sido parcialmente bloqueada por caminhoneiros, também ficou completamente congestionada por um tempo, disse a agência de fronteira canadense. É a principal rota dos veículos comerciais da província com destino aos EUA e um dos postos de fronteira mais movimentados do oeste do Canadá.

Os bloqueios representam uma escalada potencialmente dramática para os protestos que começaram no final de janeiro, quando um comboio de caminhoneiros chegou a Ottawa, paralisando a capital do Canadá. O primeiro-ministro Justin Trudeau alertou em um discurso ao Parlamento que os manifestantes ameaçavam prejudicar a economia e minar a democracia.

“Esta pandemia foi péssima para todos os canadenses”, disse o primeiro-ministro aos legisladores em um debate de emergência na noite de segunda-feira. “Todos estão cansados da covid, mas esses protestos não são a solução”.

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Enquanto isso, representantes de governo e policiais lutam para criar maneiras de conter as manifestações, muitas vezes brigando por jurisdição. Há cada vez mais atenção das mídias sociais à intenção dos caminhoneiros, que foram defendidos na Fox News e repetidamente endossados por Donald Trump, de começar a estabelecer bloqueios nos EUA.

Estado de emergência

A polícia de Windsor disse que a ponte reabriu ao tráfego com destino aos EUA na manhã de terça-feira (8), embora pareça ainda estar bloqueada no outro sentido. A agência de fronteira do Canadá ainda listou a ponte como fechada em ambas as direções às 9h25, horário de Nova York (11h25 de Brasília).

Na capital do Canadá, a polícia começou a tentar cortar o abastecimento do comboio de caminhoneiros, mas até agora não conseguiu conter as manifestações, levando a cidade de Ottawa a declarar estado de emergência. Os manifestantes, que atraíram a atenção global, dizem que não sairão até que todas as restrições de saúde devido à covid sejam encerradas.

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Os cidadãos de Ottawa também foram aos tribunais, vencendo uma importante batalha legal na segunda-feira, quando um juiz do Tribunal Superior de Ontário ordenou uma suspensão de 10 dias para as ensurdecedoras de buzinas de caminhão que traumatizaram os moradores do centro da cidade.

O primeiro-ministro canadense estava longe dos holofotes durante o protesto depois de testar positivo para covid há uma semana e entrar em isolamento. Na sexta-feira (4), ele disse que acionar os militares “não estava nos planos”.

Primeiro-ministro afirmou que o grupo desejava minar a democracia

Mas a administração de Trudeau deixou claro na segunda-feira que não cabe ao governo federal policiar Ottawa, embora tenham começado a acionar a Polícia Montada Real Canadense para ajudar a lidar com a ocupação sem precedentes de uma grande parte do centro da cidade.

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Em seu discurso ao Legislativo, Trudeau adotou uma linha dura contra os protestos e rejeitou os argumentos dos conservadores da oposição de que a colossal quantidade de caminhões estacionados nas principais vias públicas de Ottawa é um retrato de um país amargamente dividido por causa da pandemia.

“Esta é a história de um país que passou pela pandemia unido, e algumas pessoas gritando e ostentando suásticas não definem os canadenses”, disse Trudeau, referindo-se às imagens dos primeiros dias do protesto, há duas semanas, que incluiu placas e bandeiras adornadas com símbolos nazistas.

Trudeau criticou os manifestantes por “tentarem bloquear nossa economia, nossa democracia e a vida cotidiana de nossos cidadãos”.

Resultado das eleições

Trudeau acusou os manifestantes de tentarem reverter o resultado da eleição de setembro do ano passado, que levou seus liberais de volta ao poder para um terceiro mandato, mas sem maioria parlamentar.

“Perguntamos aos canadenses como eles queriam continuar lutando contra essa pandemia, e sua resposta foi clara”, disse Trudeau. “Os canadenses escolheram as vacinas e a ciência”.

A líder conservadora interina Candice Bergen – que assumiu o comando do partido depois que Erin O’Toole foi deposto na semana passada – questionou Trudeau sobre este ter inflamado o protesto demonizando pessoas que se opõem a vacinas e mandatos de vacinas.

“Estamos em um ponto de crise não apenas com o que está acontecendo lá fora, mas com o país em geral”, disse Bergen na noite de segunda-feira. “E boa parte disso são as coisas que ele disse e fez”.

Mas Trudeau novamente insistiu que os canadenses estão unidos. Ele também elogiou os legisladores conservadores que pediram que os manifestantes deixassem as ruas de Ottawa e implorou que outros fizessem o mesmo.

“Vi membros da oposição pedirem o fim dos bloqueios”, disse Trudeau. “Eu agradeço. Este é um momento de colocar os interesses nacionais à frente dos interesses partidários”.

--Com a colaboração de Danielle Bochove.

--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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