Bloomberg Opinion — Algumas semanas atrás, tentei pedir um chai latte em uma das minhas cafeterias favoritas do Upper West Side, em Nova York. “Ah, não, nosso chai acabou ontem... você sabe, problemas na cadeia de suprimentos”, o barista me disse.
Os problemas da cadeia de suprimentos se tornaram o bicho-papão todo-poderoso em 2021 ao lado da covid, e agora seu parceiro no crime, a inflação, é o que causa ansiedade. O Índice de Preços ao Consumidor subiu para 7% em dezembro de 2021, o mais alto desde o início dos anos 80. Mas o consumidor típico deve se preocupar com a inflação? Embora não valha a pena entrar em pânico, é aconselhável entender como seu orçamento pode mudar.
A inflação é uma ocorrência normal em que o preço dos bens e serviços sobe e o poder de compra do dinheiro cai – seu dólar não comprará tanto hoje quanto comprava há uma década ou mesmo um ano. A inflação é a razão pela qual é fundamental investir em vez de guardar seu dinheiro debaixo do colchão. Deixar todo o seu dinheiro em espécie significa essencialmente perder valor para a inflação todos os anos. Isso é o básico das finanças pessoais.
Mas a ansiedade pode ser maior para aqueles que nunca vivenciaram uma inflação significativa, mas se lembram de uma recessão. Uma preocupação predominante, além de não conseguir nossos chai lattes, é que os preços mais altos estão aqui para ficar por um tempo – devido a problemas na cadeia de suprimentos e à escassez de mão de obra, aumentando os custos para as empresas, que são repassados aos consumidores.
A inflação sustentada pode levar a um aumento nas taxas de juros, o que pode dificultar financeiramente a compra de uma casa ou carro. Alternativamente, isso pode significar que algumas pessoas estão comprando itens como imóveis e carros usados no topo de uma bolha de mercados frenéticos.
É fundamental para aqueles que planejam comprar uma casa em breve avaliar se a nova casa em potencial está supervalorizada. Também é importante manter as emoções sob controle em um mercado competitivo e não assumir um financiamento oneroso demais em termos de parcelas mensais, especialmente se você estiver pagando mais por outros bens. O medo é acabar metendo os pés pelas mãos e descobrir que você deve mais do que a casa vale no futuro.
Mas mais do que um aumento geral dos preços e das taxas de juros, o que realmente deve nos preocupar é se a inflação desencadear uma recessão. Já houve momentos em que a inflação baixa foi precursora de recessões no passado. É difícil usar a história como um parâmetro aqui porque as circunstâncias que podem causar inflação e recessão variam muito. Mas uma pergunta a fazer é: o que o Federal Reserve fará para minimizar o impacto da alta inflação e evitar uma possível recessão nos Estados Unidos?
No final da década de 1970, o Fed começou a aumentar as taxas de juros para conter rapidamente a inflação, embora isso tenha levado à recessão de 1981-1982. As taxas de juros atuais foram reduzidas em 2020 por causa da pandemia, mas o Fed está sinalizando um aumento nas taxas em breve. O desemprego do início dos anos 80 atingiu um pico em torno de 11%, no entanto, consideravelmente mais alto do que estamos agora nos EUA, em 3,9%, que, segundo indicação do Fed, torna mais confortável aumentar as taxas.
O sussurro de uma recessão faz com que a geração dos millennials se preocupem com o colapso do mercado de ações e que investir, portanto, seria tarefa tola. Não é, mas é importante se preparar para perdas. Depois de experimentar a mais longa corrida de otimistas no mercado moderno, isso não será fácil.
Concentre-se em examinar o que você precisa para sobreviver a uma possível recessão. A sua carteira de investimento está equilibrada de uma forma alinhada com os seus objetivos de investimento atuais? Você deveria falar com um planejador financeiro certificado para um possível ajuste? Se entrarmos em uma correção de mercado sustentada, talvez seja melhor nem rever seu portfólio para não ficar tentado a vender movido pelo pânico.
O objetivo aqui não é causar um alarme indevido. A economia é cíclica. Há expansão e contração. O ideal é considerar como ajustar suas finanças pessoais para lidar com a inflação ou uma possível recessão. O custo dos bens necessários provavelmente continuará a aumentar por um período, o que significa tentar encaixar uma conta maior de supermercado e custos de transporte em seu orçamento atual. Isso pode significar cortar os excessos de seu orçamento ou passar a consumir produtos de baixo custo por um tempo.
Uma das minhas técnicas favoritas para ter a sensação de controle e conter a ansiedade é criar um orçamento básico. Dessa forma, sei o mínimo que minha família precisa por mês para atender a necessidades como moradia, transporte, alimentação, serviços públicos, pagamentos de seguro e assim por diante. Esse número também informa como construo meu fundo de emergência. Proporciona tranquilidade em um momento de crise percebida ou real. Para mim, foi uma ferramenta útil no início da pandemia, quando minha renda sofreu um grande impacto por vários meses. Meu marido e eu fomos capazes de mudar imediatamente para o orçamento básico por um tempo para minimizar o uso de nossas economias.
Dinheiro, ansiedade e o pânico em potencial sobre o desconhecido farão com que todos nós ajamos irracionalmente de algumas maneiras. Depois de lidar com dois anos de uma pandemia global, é exaustivo pensar que podemos ter que sustentar mais um desastre – mas ser proativo e tomar medidas para segurar as finanças domésticas agora pode ajudar a compensar parte do medo.
Erin Lowry é a autora de “Broke Millennial,” “Broke Millennial Takes On Investing” e “Broke Millennial Talks Money: Stories, Scripts and Advice to Navigate Awkward Financial Conversations.”
Os editoriais são escritos pela diretoria editorial da Bloomberg Opinion
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.
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