Bloomberg — Hong Kong registrou um número recorde de infecções por coronavírus, com casos dobrando a cada três dias, pressionando o governo a aumentar as restrições para manter seu objetivo de eliminar o vírus.
A cidade anunciou 607 casos de transmissão local nesta segunda-feira (7). Apenas 150 infecções podem estar relacionadas, sugerindo um número significativo de cadeias silenciosas de transmissão comunitária, e as autoridades atribuíram o aumento às aglomerações durante o feriado do Ano Novo Lunar da semana passada. Cerca de 600 casos positivos preliminares foram detectados.
A explosão de casos atingiu um nível dificilmente atingido por outras cidades. A China continental, que implanta bloqueios e testagem em massa em uma escala que Hong Kong não consegue igualar, não passou por um aumento dessa magnitude desde que a infecção começou em Wuhan no início de 2020. No mesmo ano, Melbourne, na Austrália, conteve um surto que atingiu índices semelhantes com um lockdown rigoroso que confinou os moradores em suas casas por três meses. Todos os dias, 1,2 mil empregos eram perdidos em todo o estado de Victoria – e na época, a variante era menos transmissível que a ômicron.
A busca de Hong Kong pela covid zero gerou sobrecarga para a infraestrutura de saúde com a pressão das medidas rigorosas de rastreamento e isolamento que enviaram milhares de pessoas para quarentena ou hospital. O governo já sinalizou que pode reforçar as medidas de distanciamento social e reduziu os critérios para liberar pacientes de internações obrigatórias para aliviar a carga sobre as instalações de saúde.
Na segunda-feira, as autoridades disseram que alguns contatos próximos poderão ficar em quarentena em casa por 14 dias, desde que tenham alojamento adequado, e os membros da família de contatos próximos poderão ficar em quarentena por quatro dias. Penny’s Bay, o principal centro de quarentena, começará a partir da terça-feira (8) a receber pacientes de covid de baixo risco, incluindo jovens e que apresentam sintomas leves.
“Neste ritmo, teremos mais de 10 mil casos por dia após apenas 15 dias”, disse Leung Chi-chiu, ex-presidente do comitê consultivo da Associação Médica de Hong Kong sobre doenças transmissíveis. Ele sugeriu uma reversão às medidas de controle mais rígidas para reduzir o contato social em 70%.
“Se a resposta da comunidade ficar aquém do necessário, talvez precisemos considerar o fechamento temporário de todas as lojas não essenciais por uma a duas semanas como último recurso”, disse Leung.
A líder do Poder Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, deve discutir outras medidas durante uma reunião do Conselho Executivo na terça-feira. A mídia local informou que várias possíveis restrições podem ser consideradas, incluindo limitar o número de clientes autorizados a jantar em restaurantes, fechar alguns negócios – como salões de beleza e centros educacionais – e impor restrições a locais religiosos.
O governo também pode reduzir o limite de reuniões públicas para duas pessoas retornando a uma das medidas mais rígidas de Hong Kong de 2020.
A cidade deve abrir mais centros de vacinação e testes e limitar o número de aglomerações – incluindo em restaurantes, shoppings e supermercados – a duas pessoas que tomaram pelo menos uma dose da vacina, disse Ivan Hung, da Universidade de Hong Kong. Ele também sugeriu que os contatos próximos realizassem cinco dias de quarentena em casa e um relaxamento adicional dos critérios para alta hospitalar.
“Com essas medidas, ainda podemos controlar a onda atual, mas levará de oito a 12 semanas”, disse Hung.
Fique em casa
A cidade tem dificuldades para aumentar a taxa de vacinação, que é uma das mais baixas do mundo desenvolvido. O governo já alertou que ampliará a bolha de vacinação, que deve começar em 24 de fevereiro e exigirá a vacinação de residentes em asilos.
Cerca de 80% da população com 12 anos ou mais recebeu pelo menos uma dose, em comparação com a meta de 90% estabelecida pelo governo para que o relaxamento das medidas seja considerado.
As autoridades de saúde de Hong Kong previram um aumento exponencial nos casos após o feriado do Ano Novo Lunar da semana passada, que normalmente gera aglomerações de amigos e familiares em ambientes fechados. A secretária de Alimentação e Saúde, Sophia Chan, reforçou no domingo (6) um apelo para que os moradores fiquem em casa.
“Precisamos da cooperação ativa do público para ficarem em casa para combatermos a epidemia, reduzirmos significativamente o fluxo de pessoas, e as medidas do governo podem impedir a propagação”, escreveu ela em uma publicação. A situação atual é a pior desde que a pandemia começou há dois anos, disse.
--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
- Covid: Austrália reabre fronteiras para estrangeiros após dois anos
- China quer financiar projetos da Argentina por US$ 23,7 bilhões
- Retorno à vida normal após a ômicron exigirá vigilância
© 2022 Bloomberg L.P.