Acordo entre aéreas Frontier-Spirit expande oferta de descontos nos EUA

Com a pandemia, operadoras têm ampliado presença no segmento low-cost em meio à menor demanda por viagens a negócios e para o exterior

Acordo ocorre no momento em que a recuperação do setor se baseia nos mercados domésticos e nos viajantes de lazer
Por Mary Schlangenstein
07 de Fevereiro, 2022 | 07:05 PM
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Bloomberg — A compra planejada de US$ 2,9 bilhões da Spirit Airlines Inc. (SAVE) pela Frontier Group Holdings Inc. (ULCC) posiciona Bill Franke, o autoproclamado pai do ultradesconto, para expandir sua rede global de operadoras aéreas que oferecem tarifas baratas, mantendo o foco no baixo custo.

O acordo ocorre no momento em que a recuperação do setor após a pandemia de covid-19 se baseia nos mercados domésticos e nos viajantes de lazer – o foco das companhias aéreas “low-cost”.

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As grandes operadoras estão se movendo mais fortemente para esse território, uma vez que as viagens de negócios e para o exterior permanecem mornas.

Essa é uma situação competitiva familiar para Franke, sócio-gerente da empresa de private equity Indigo Partners, e a fusão Frontier-Spirit deve adicionar ainda mais força para ajudar a enfrentar o desafio.

A companhia aérea combinada – o nome ainda não foi decidido – passará a JetBlue Airways Corp. (JBLU) e a Alaska Air Group Inc. (ALK) para se tornar a quinta maior companhia aérea dos Estados Unidos em capacidade. Também ultrapassaria a JetBlue em valor de mercado, mas ainda ficaria atrás da Alaska.

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“Este é um sinal de rivalidade feroz nos mercados doméstico e internacional de curta distância dos EUA”, disse o analista da Bloomberg Intelligence, François Duflot, em nota aos assinantes. “Com mais de 280 aeronaves Airbus em serviço e mais de 350 encomendadas, esta combinação ultrapassa a Alaska e a JetBlue e pode desenvolver novas redes.”

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Sob o acordo, os investidores da Spirit receberiam 1,9126 em ações da Frontier e US$ 2,13 em dinheiro por cada ação da Spirit, de acordo com um comunicado divulgado nesta segunda-feira (7). O acordo implica um valor de US$ 25,83 por ação para a Spirit, 19% acima de seu preço de fechamento em 4 de fevereiro.

Assumindo dívida líquida e passivos de arrendamento operacional, o valor total é elevado a US$ 6,6 bilhões. Os acionistas da Frontier deteriam 51,5% da empresa combinada e nomeariam sete dos doze diretores.

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“Os consumidores ao longo do surto mais recente mostraram ser muito mais flexíveis e resilientes”, disse o CEO da Spirit, Ted Christie, em entrevista. “Eles já estão voltando e se preparando para a primavera e o verão deste ano.”

As ações da Spirit saltavam 16%, para US$ 25,27, às 13h34 (horário de Nova York), depois de avançarem 17%, no maior ganho intradiário desde novembro de 2020. Os papéis da Frontier, por sua vez, subiam 2,8%, para US$ 12,74.

Franke, que é presidente da Frontier, tem seu DNA em ambos os lados do acordo. Há cerca de 15 anos, ele liderou a conversão da Spirit para se tornar uma empresa de ultradesconto. E em 2013, ele usou os recursos da venda da participação de 17% da Indigo na Spirit para comprar a Frontier da falência e converteu essa operadora para o modelo de custo ultra-baixo, que oferece tarifas básicas enquanto cobra por itens como café, garrafas de água, bagagem de mão e cartões de embarque impressos.

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O executivo de 84 anos está se programado para ser presidente da companhia aérea combinada e liderar um comitê que determinará a nova equipe de gerenciamento, marca e sede. As companhias aéreas planejam manter seus funcionários existentes e adicionar 10.000 empregos até 2026.

Franke disse que a possibilidade de fusão não começou com ele. Era “um ponto de vista mútuo do que estava acontecendo na indústria”, disse ele em entrevista. Segundo Christie, as conversas começaram no segundo semestre do ano passado.

A Indigo de Franke também possui companhias aéreas de baixo custo, incluindo a Wizz Air Holdings Plc, da Hungria, a JetSmart Airlines SpA, do Chile, e a Volaris, do México. Segundo ele, focar em grandes descontos permite evitar o que ele chama de “o caminho para o inferno” para uma companhia aérea: custos crescentes.

A Frontier e a Spirit, sediadas em Denver (EUA), com sede em Miramar, Flórida, têm culturas complementares e ambas operam frotas Airbus SE, proporcionando eficiência ao treinamento e manutenção de aeronaves. Quando o acordo for concluído, as empresas esperam recolher US$ 100 milhões em economia de custos e US$ 400 milhões em receita adicional anualmente.

A combinação ofereceria mais de 1.000 voos diários nos EUA, Caribe e América Latina. Enquanto a rede da Spirit é geralmente mais forte no leste dos EUA, a da Frontier tem mais atuação no oeste do país. Analistas estimam que a nova companhia aérea operaria entre 6,5% e 7,5% da capacidade do setor.

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Para especialistas, a combinação das empresas pode representar uma ameaça competitiva para a JetBlue e para a Allegiant Travel Co., dado que suas rotas se sobrepõem amplamente no Caribe e no nordeste e sudeste dos EUA.

Das 2.832 rotas operadas pela Spirit e Frontier, 18% se sobrepõem, de acordo com dados da Cirium. A Frontier tinha, em novembro, uma tarifa média doméstica de ida de US$ 73 mais impostos e taxas, enquanto a da Spirit era de US$ 109, de acordo com Cirium.

Os executivos da Spirit e da Frontier ignoraram perguntas, durante uma teleconferência com analistas, sobre se a combinação terá dificuldades para obter a aprovação antitruste. O governo Biden, que busca aumentar a concorrência no setor aéreo, entrou com um processo para bloquear uma proposta de aliança operacional entre a JetBlue e a American Airlines Group Inc. (AAL).

A concentração de 80% do mercado pelas quatro maiores companhias aéreas dos EUA é o que “torna essa fusão tão valiosa para os consumidores”, disse o CEO da Frontier, Barry Biffle, em entrevista. “Oferecemos uma verdadeira concorrência com tarifas ultrabaixas. É exatamente isso que a administração está procurando.”

A expectativa é de que a operação, ainda sujeita às aprovações tradicionais, seja concluída no segundo semestre.

-- Com o auxílio de Siddharth Philip e Justin Bachman.

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