Executivos do agronegócio acreditam mais no setor do que no Brasil

CEOs de empresas do agro se mostram mais otimistas com o crescimento dos seus negócios do que com o avanço do PIB nacional

Ministro da Economia, Paulo Guedes, durante do lançamento do último Plano Safra
04 de Fevereiro, 2022 | 05:58 PM

Bloomberg Línea — Pergunte a um executivo do agronegócio se a empresa dele vai crescer nos próximos 12 meses. A resposta será quase que imediata e sem deixar dúvidas: sim. Agora, pergunte se o Brasil vai crescer. Uma boa parte dirá que não e aqueles que disserem que sim já não demonstrarão uma confiança tão grande.

Traduzindo esse sentimento em números, 74% dos CEO’s de empresas do agronegócio disseram estar extremamente ou muito confiantes que a receita de suas empresas crescerá nos próximos 12 meses. Quando questionados sobre suas expectativas em relação ao crescimento da economia brasileira, 57% desse mesmo grupo diz acreditar em uma aceleração, enquanto 13% apostam na estabilidade e 30% em uma retração.

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Na prática, o agronegócio está mais confiante no resultado que ele pode entregar do que naquilo que os demais setores da economia. “O agronegócio é muito importante para o Brasil e vem aumentando ano a ano sua representatividade no PIB brasileiro, gerando riquezas e atraindo investimentos em toda a cadeia, principalmente em tecnologia. O otimismo é mais do que justificado pelos resultados que esta indústria vem obtendo nos últimos anos”, afirma Maurício Moraes, sócio da PwC Brasil. Os dados fazem parte da 25ª edição da Pesquisa Global com CEOs, conduzida globalmente pela PwC.

Muito da confiança dos CEOs do agronegócio em relação ao crescimento de suas empresas se deve a uma expectativa positiva em relação ao mercado externo. “Os produtos do agronegócio sempre foram e continuarão sendo exportados e os preços ainda sinalizam que continuarão em patamares elevados”, afirma Moraes. Contudo, o peso dos principais clientes das empresas brasileiras no mercado internacional se diferencia quando se trata de companhias ligadas à cadeia do agronegócio e de outros segmentos econômicos. O Mercosul, por exemplo, tem um peso menor para as empresas do agro do que para outros setores.

Maiores ameaças

Sofrendo há pelo menos dois anos com as consequências das mudanças climáticas, o agronegócio enxerga exatamente esse ponto como a maior ameaça ao desenvolvimento do setor. Essa percepção parte exatamente dos CEOs das empresas ligadas às cadeias agropecuárias e é maior do que qualquer outro quesito da pesquisa (veja abaixo). No que se refere às instabilidades macroeconômicas, elas preocupam muitos mais outros setores do que o agro. Enquanto as mudanças climáticas aparecem como a maior preocupação para um em cada dois executivos do agronegócio, ela inquieta apenas um em cada três líderes de outros segmentos da economia.

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“O que ouvimos de muitos dos nossos clientes é que enquanto os preços estiverem compensando as quebras de safra, o problema não é tão grande. Mas se as commodities agrícolas forem influenciadas futuramente pela queda de alguma outra commodity, como o petróleo, por exemplo, aí o setor talvez tenha algum problema”, afirma Moraes.

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Com o clima sendo uma das maiores ameaças ao desenvolvimento do agronegócio, medidas para neutralizar ou compensar as emissões de carbono estão bastante adiantadas entre as empresas do setor, segundo a pesquisa. Enquanto 27% das empresas brasileiras dizem já ter assumido compromissos para neutralizar aquilo que emitem, no agronegócio, esse percentual chega a 37%. No outro extremo, 38% das empresas nacionais dizem ainda não ter assumido qualquer compromisso e apenas 20% das ligadas ao agronegócio ainda se encontram nessa situação.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.