Bloomberg — A Tesla (TSLA) está iniciando seu nono recall de veículos nos Estados Unidos em cerca de três meses, no que foi um surto de correções relacionadas à segurança que coincidiu com o maior escrutínio dos órgãos reguladores à montadora.
O último recall está relacionado a um erro de software que pode impedir o acionamento exigido por normas federais da campainha que lembra os motoristas de apertar o cinto de segurança. A Tesla resolverá o problema com uma atualização over-the-air para mais de 817 mil veículos.
Os recalls que a Tesla fez nos últimos meses foram para resolver problemas de hardware e software. Em outubro e novembro, campanhas de segurança separadas estiveram relacionadas a problemas de suspensão que afetaram alguns veículos Model 3 e Y. Em dezembro, dois recalls anunciados concomitantemente resolveriam problemas nos cabos da câmera de visão traseira potencialmente danificados e as travas do porta-malas com defeito.
Outras correções tiveram a ver com o controverso recurso Full-Self Driving da Tesla, produto que a empresa vende há anos e permitiu que alguns consumidores fizessem testes beta antes de fazer jus ao seu nome. A Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário dos EUA questionou o lançamento do recurso pela Tesla em outubro, quando o órgão também questionou a empresa sobre como ela realizou uma atualização de software do Autopilot, conjunto separado de recursos de assistência ao motorista.
“A Tesla tem um pé na fabricação de automóveis, o que é difícil, e ela não é experientes e provavelmente ainda não é boa nisso”, disse Kevin Tynan, analista da Bloomberg Intelligence. “O outro pé está na tecnologia, onde isso é o que acontece quando você pressiona e o ambiente regulatório ainda não está completamente em vigor”.
Os recalls ocorreram no contexto de tensões entre o CEO da Tesla, Elon Musk, e o presidente Joe Biden. Musk – a pessoa mais rica do mundo, segundo o Bloomberg Billionaires Index – se irritou com a relutância de Biden em dar crédito à Tesla por impulsionar a mudança da indústria automobilística para veículos elétricos.
A Tesla, que desfez seu departamento de relações com a mídia, não quis comentar.
O problema do cinto de segurança que desencadeou o último recall da Tesla foi alertado à empresa em 6 de janeiro por um instituto de testes e pesquisa na Coreia do Sul, de acordo com uma notificação no site da NHTSA. A empresa não tem conhecimento de acidentes, ferimentos ou mortes relacionadas ao problema.
Podem ocorrer mais recalls. A NHTSA disse nesta quarta-feira (3) que está analisando as reclamações sobre o sistema de prevenção de colisão frontal em Teslas que levam os carros a frear repentinamente em altas velocidades.
Em agosto, a agência instaurou uma investigação de defeitos do Tesla Autopilot após diversas colisões com carros de polícia e caminhões de bombeiros. Semanas depois, a empresa realizou uma atualização over-the-air para seus veículos que visava melhorar a forma como o piloto automático lida com acidentes. Em outubro, a NHTSA pediu à montadora que justificasse a mudança de software sem fazer um recall.
No início a semana, a Tesla desativou uma configuração do recurso Full-Self Driving que permitia que seus veículos passassem lentamente por cruzamentos quando não houvesse pedestres ou outros carros presentes. Os defensores de carros autônomos que depuseram em uma audiência na Câmara na quarta-feira (2) tentaram se distanciar da Tesla e do recurso, dizendo aos legisladores que os carros da empresa não se qualificam como totalmente autônomos segundo diretrizes adotadas pelos órgãos reguladores federais.
“A Tesla está claramente enfrentando uma supervisão regulatória mais rigorosa nos últimos meses”, disse Michael Brooks, CEO interino e conselheiro-chefe do Center for Auto Safety, em e-mail. “A NHTSA precisa dar um passo adiante e buscar a penalidade máxima disponível para o atraso contínuo da Tesla e suas tentativas contínuas de burlar as normas destinadas a proteger os americanos de recursos não provados e possivelmente perigosos de veículos”.
--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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