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Retorno à vida normal após a ômicron exigirá vigilância

Volta ao normal deve ser possível quando as hospitalizações por covid-19 caírem de milhares para centenas por dia

Olhar para frente com otimismo cauteloso
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — Pela primeira vez em muito tempo, há boas notícias sobre a covid-19. A onda ômicron atingiu o pico nos Estados Unidos e em muitos estados já está recuando. Um respiro do SARS-CoV-2 seria muito bem-vindo. E se eventualmente surgirem novas variantes, talvez seja possível conviver com elas – ou seja, sem fechar comércio, sempre usando máscaras e distanciamento social.

Um retorno ao normal – esse objetivo modesto, mas indescritível – deve ser possível quando as hospitalizações por covid-19 caírem de milhares a cada dia para se aproximar das centenas associadas a uma temporada ruim de gripe. Para que esse retorno se concretize, será necessário monitoramento cuidadoso, melhor coleta de dados e um esforço nacional para evitar outra crise.

Cinco coisas em particular precisam ser monitoradas:

1. Surtos de casos e mortes por Covid em qualquer lugar do mundo. Trabalhando com a Organização Mundial da Saúde, os EUA devem ajudar outros países a ficar de olho nos surtos de covid-19 (assim como surtos de outras doenças respiratórias contagiosas) e relatar dados de forma rápida e pública, como fazem os Centros de Controle e Prevenção de Doenças nos Estados Unidos.

2. Alterações genômicas no coronavírus. Para detectar a chegada de novas variantes, o CDC deve melhorar seus esforços para analisar o código genético do vírus encontrado em pessoas com resultado positivo. A agência realiza esses testes em certas áreas, mas ainda precisa construir um sistema suficientemente extenso e geograficamente representativo, para que os EUA conte com outros países para notícias sobre variantes emergentes. Todos os pacientes que apresentam infecções graves capazes de driblar as vacinas devem ter seus vírus analisados.

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3. Eficácia da vacina. Trabalhando com fabricantes de vacinas e cientistas independentes, a Food and Drug Administration e o CDC precisam monitorar em conjunto os americanos quanto à diminuição da imunidade, especialmente à medida que surgem novas variantes. Espera-se que todas as vacinas existentes percam parte de sua eficácia com o tempo. É crucial avaliar continuamente sua eficácia e ter reforços disponíveis conforme necessário.

4. Presença da covid no esgoto. Medir o nível de coronavírus em sistemas públicos de águas residuais pode fornecer um alerta precoce de surtos de Covid e também indicar quando as infecções estão diminuindo. O CDC criou o Sistema Nacional de Vigilância de Águas Residuais em 2020 para trabalhar com departamentos de saúde estaduais e locais para testar águas residuais. No processo, ele precisa fortalecer os padrões para testes de esgoto e garantir que as medições de vários sistemas sejam comparáveis.

5. Disponibilidade de leitos hospitalares e funcionários. Informações precisas e oportunas dos estados sobre a capacidade hospitalar também podem indicar quando as infecções virais estão aumentando. O CDC já compila esses dados, mas as estatísticas em nível estadual nem sempre estão atualizadas ou consistentes. Refinar esse sistema pode ajudar a garantir que os hospitais do país estejam preparados para lidar com um surto.

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Todas essas informações devem ser carregadas em bancos de dados públicos. Também é necessário ter uma noção clara do quanto os americanos estão dispostos a conviver com a covid. Ezekiel Emanuel, da Universidade da Pensilvânia, sugere estabelecer um limite de risco para covid, gripe e outros vírus, que juntos cheguem até cerca de 35.000 hospitalizações e 3.000 mortes em uma semana. Além desses níveis – ou referências semelhantes – as autoridades eleitas podem considerar reimpor a obrigatoriedade de uso de máscaras e outras restrições para proteger os sistemas de saúde da sobrecarga.

É claro que a covid sozinha causou cerca de quatro vezes mais hospitalizações e cinco vezes mais mortes na semana passada. Mas os números estão caindo e, com sorte, a onda ômicron terá recuado na primavera. É hora de olhar para frente com otimismo cauteloso e adotar medidas sensatas para acabar com a crise permanente.

Os editoriais são escritos pela diretoria editorial da Bloomberg Opinion

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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