O momento mais político dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 está chegando.
A cerimônia de abertura, que começa nesta sexta-feira (4), às 9h, horário de Brasília (20h em Pequim), dará ao presidente Xi Jinping sua melhor chance de usar os jogos para polir a imagem de seu país. Quase imediatamente depois, as competições assumirão os holofotes, mas por algumas horas, a China terá a atenção de uma audiência mundial para si mesma.
“As Olimpíadas podem ser úteis para reforçar a imagem da China porque atraem a atenção de espectadores que não necessariamente prestam muita atenção à política global e à política externa, área nas quais a cobertura do comportamento da China tem sido muito mais crítica”, disse Sheena Greitens, professor adjunta da Universidade do Texas em Austin, cuja pesquisa se concentra no leste da Ásia.
Mesmo com a vantagem da empolgação e entusiasmo geral dos espectadores, Pequim tem uma batalha árdua. Relatos de abusos de direitos humanos na região de Xinjiang do país, a supressão da dissidência em Hong Kong e a agitação sobre Taiwan levaram as opiniões sobre a China a mínimos históricos no Ocidente, alimentando a oposição à sua ascensão como potência global.
As redes de TV ocidentais, incluindo a NBC e a BBC, foram pressionadas a abordar o histórico de direitos humanos da China durante as transmissões ao vivo da cerimônia de abertura, e alguns atletas podem não participar como forma de protesto. Contra esse pano de fundo, a pompa é uma das maneiras pelas quais Pequim pode fazer seu apelo.
No verão passado, Xi disse a altos funcionários que o país precisava de uma imagem mais “confiável, amável e respeitável” internacionalmente. Para mostrar isso durante a cerimônia de abertura, Pequim chamou Zhang Yimou, o diretor de cinema mais conhecido da China. Zhang, cujos filmes incluem “Heróis” e “O Clã das Adagas Voadoras” também dirigiu o concurso de abertura de 2008, um espetáculo de quatro horas que envolveu um elenco de 15.000 pessoas.
A cerimônia de abertura deste ano também acontecerá no Estádio Nacional de Pequim, conhecido como Ninho de Pássaro, que sediou o evento em 2008. Por outro lado, será “simples, seguro e esplêndido”, disseram os organizadores, pouco mais de uma hora e meia com apenas 3.000 participantes. Cerca de 90% serão estudantes.
“A China procurará usar os Jogos para apresentar uma visão positiva da cultura chinesa como algo apolítico”, disse Greitens, da Universidade do Texas.
Internamente, Pequim fará seu apelo a um público exausto pelas rígidas restrições da covid e preocupado com a piora da economia. O mercado imobiliário, onde muitos chineses têm a maior parte de sua riqueza pessoal, está em queda, justamente em um momento em que Xi se prepara para um congresso do Partido Comunista no final deste ano, onde espera-se que ele garanta um terceiro mandato que desafia os precedentes.
A cerimônia de abertura exibirá tecnologias como 5G e inteligência artificial, de acordo com a agência oficial de notícias Xinhua. Cathy Wu, professora assistente da Old Dominion University cuja pesquisa se concentra na política externa chinesa, vê isso como uma tentativa de demonstrar que a China continua alcançando avanços e progredindo. “É como enviar uma mensagem ao público doméstico da China de que estamos indo bem”, disse ela.
Os desafios gerais da China serão ressaltados pela multidão esparsa na cerimônia de abertura. A participação é limitada como precaução contra o Covid, e um boicote diplomático liderado pelos EUA aos jogos convenceu muitos líderes mundiais a ficarem longe. Haverá 21 líderes mundiais em Pequim para as festividades deste ano, em comparação com 68 em 2008, e dos presentes, apenas um – o Grão-Duque Henri de Luxemburgo – representa uma “democracia plena”.
No final, pode haver poucas mentes verdadeiramente abertas na plateia, observou Jules Boykoff, professor da Pacific University em Oregon e autor de vários livros sobre as Olimpíadas. “Os impulsionadores olímpicos estarão prontos para elogiar a cerimônia quase independentemente do que realmente acontecer”, disse ele. “Os críticos estarão farejando oportunidades para plataforma suas críticas.”
No longo prazo, os dados são confusos sobre como as Olimpíadas podem afetar a imagem de um país. Os ativistas também reconhecem o poder das Olimpíadas para divulgar suas causas. Pesquisas do Anholt-Ipsos Nation Brands Index, Gallup e BBC sugerem que as percepções que se têm da China podem ter se alterado após os jogos de 2008.
“O efeito dos Jogos Olímpicos na imagem nacional é complicado e imprevisível”, disse Susan Brownell, professora da Universidade de Missouri em St. Louis e autora de “Training the Body for China: Sports in the Moral Order of the People’s Republic” .” “O soft power não necessariamente vêm junto com a realização dos Jogos Olímpicos.”
– Com a colaboração de Colum Murphy.
– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.
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