Bloomberg — Com um tom visto como levemente mais dovish, o Banco Central sinalizou um ritmo menor de alta para o próximo encontro, em março, após elevar a Selic em 1,5 ponto percentual, para 10,75%. O movimento, apesar de amplamente esperado, trouxe uma justificativa vista por parte dos analistas como menos dura do que a comunicação adotada até agora pela autoridade monetária.
Segundo o Copom, a sinalização de uma alta menor à frente reflete o atual estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante - 2022 e “em grau maior” 2023.
Ainda assim, o Copom repetiu que vê como apropriado que o ciclo de aperto monetário “avance significativamente em território contracionista” e que irá “perseverar” nessa estratégia até que se consolide a ancoragem das expectativas.
A curva de juros já precifica uma desaceleração para 1pp, mas parte dos analistas já admite que o aumento poderia até ser menor, em meio ao crescimento fraco do PIB, incertezas ligadas à Covid e os efeitos defasados do aperto monetário -- citado pelo BC. Alguns economistas esperam inclusive o fim do ciclo já no próximo encontro.
Em reação à indicação de desaceleração do aperto, os contratos curtos de juros futuros devem ter ajuste de baixa. Dólar, por outro lado, pode abrir mais pressionado.
Veja o que dizem os analistas:
Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú
- “Ainda esperamos um aumento de 1,0 p.p. na próxima reunião do comitê, em março, mas não podemos descartar um movimento final adicional, menor, na reunião de maio”
Cassiana Fernandez, Vinicius Moreira, economistas do JPMorgan
- Não houve menção ao momento de término do ciclo nem ao ritmo a ser implementado em março e além
- Banco mantém expectativa de alta final de 100pb em março, com taxa terminal de 11,75%
- Como o horizonte relevante para a decisão do BC deve se mover completamente para 2023 em maio, banco acha mais provável um fim de ciclo em março
- “No entanto, reconhecemos que o balanço de riscos está inclinado para uma taxa terminal ligeiramente mais alta, dados os riscos fiscais remanescentes e as pressões inflacionárias”
Luiz Fernando Figueiredo, sócio fundador da Mauá Capital, ex-diretor do BC
- “Copom foi bem em linha com expectativa do mercado e deixou claro que vai reduzir o passo na próxima reunião”
- Espera redução do ritmo para alta de 1pp em março; se houver outra elevação depois de março, será “por ajuste fino”
- “BC aponta que, embora os resultados fiscais tenham surpreendido positivamente, o aumento da preocupação com o arcabouço fiscal gera uma assimetria de risco para cima na inflação”
Claudio Ferraz, economista-chefe Brasil do BTG Pactual:
- BTG mantém projeções de Selic com 1pp em março e mais 0,50 pp, encerrando ciclo de alta a 12,25%
- “Para dinâmica de encerramento de ciclo, faz sentido essa escadinha final: até para tatear projeções, elementos de risco”
- “Para mercados, nível de precificação quanto à próxima reunião de março talvez cause algumas correções: uma comunicação tão explícita sobre a desaceleração do ritmo não era predominante, mas a precificação também não era desprezível”
Tatiana Nogueira, economista da XP:
- Para próxima reunião, “acreditamos que seja entre 75 bps e 100 bps, estamos ainda refletindo sobre isso”
- “A gente já está num estágio de ciclo muito apertado e o banco central vai esperar efeitos cumulativos ao longo do horizonte relevante. Eles devem parar em março”
- “BC não tem que elevar muito mais os juros do que já está na conta para levar a inflação à meta”
Olga Yangol, chefe de pesquisa e estratégia de EM do Credit Agricole:
- “A comunicação é suficientemente aberta, na minha opinião, mas o mercado pode ler como dovish na margem, já que BC está sinalizando que o ciclo de aperto está próximo do fim”
- “O real já perdeu força nesta quarta-feira depois de um forte rali no acumulado do ano, então a barra já está alta para uma surpresa positiva para a moeda”
Sergio Goldenstein, estrategista-chefe da Renascença e ex-chefe do Demab do BC
- “BC foi além, ao já indicar que antevê como adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste”
- “Consideramos acertada essa indicação, não só devido ao estágio avançado do ciclo de aperto monetário como também em função de fatores como o comportamento mais tranquilo das expectativas de inflação e das implícitas, a trajetória mais benigna do real, a projeção para o IPCA de 2023 na meta e os efeitos defasados da política monetária”
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- Copom veio levemente mais dovish que o esperado;
- Goldman espera alta de 1 pp em março;
- Um aumento mais moderado da taxa em março seria justificado pelo PIB fraco, cenário incerto da Covid, efeitos defasados do recente aperto monetário e real melhor ancorado;
- BC está começando a dar mais peso à inflação de 2023;
David Beker, chefe de economia no Brasil e estratégia para América Latina do BofA
- BC foi mais dovish do que o mercado esperava, mas em linha com a visão do BofA de que o fim do ciclo de aperto está próximo;
- BC mencionou o estágio do ciclo e os efeitos cumulativo;
- Prevê uma última alta de 0,50 pp em março;
Roberto Secemski, economista para Brasil do Barclays
- “Decisão veio em linha com nossa expectativa, abrindo a porta para uma alta menor em março, considerando a fase do ciclo de aperto e o fato de que os efeitos cumulativos das altas anteriores ainda não foram sentidos pela economia”;
- “De qualquer forma, não houve indicação clara no final do ciclo em si, com alguma ênfase em riscos ascendentes e leituras adversas no núcleo de inflação”;
Gustavo Brotto, CIO da Greenbay Investimentos
- “Parte mais importante do comunicado é a sinalização de desaceleração do ritmo de ajuste para a próxima reunião; curva de juros deve ceder com essa sinalização”;
- “Horizonte relevante, conforme esperado, leva em consideração o ano de 2023 em maior grau do que 2022″;
- “Acreditamos que o próximo Copom deverá encerrar o ciclo de aperto monetário atual”;
Pedro Dreux, sócio e gestor da Occam Brasil
- “Decisão bem esperada, mas a sinalização dos próximos passos foi mais branda do que o mercado previa”;
- “Quando o BC não qualifica como moderada a redução do ritmo de ajuste, a sinalização para o Copom de março é que a desaceleração deve ser para 100 bps ou menos”;
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados
- Vê como provável alta de 1 pp na próxima reunião e talvez mais 0, 50 pp na seguinte;
- “Escalonando, mas ainda assim chegando aos 12,25%”;
- “Câmbio está melhorando, mas [quadro de] commodities está complicado”;
Gustavo Ribeiro, economista-chefe da Asa Investments
- Destaque para as projeções condicionais substancialmente revisadas para cima em 2022 e continuando ao redor da meta em 2023, a despeito do real mais apreciado, e a sinalização prospectiva de redução de passo na próxima reunião;
- “Imaginávamos que BC manteria flexibilidade, não sinalizando próximo passo; aumenta a chance do BC ter que continuar o ciclo para além da reunião de março”;
Rafael Ihara, economista-chefe da Meraki
- “Decisão veio em linha com o esperado; dúvida era apenas a sinalização para a próxima reunião e BC optou por fazer uma sinalização explícita de redução no ritmo de ajuste”;
- “Acreditamos que o próximo movimento será uma alta de 100 bps e uma última elevação de 50 bps em maio, quando o BC já estará olhando apenas para a inflação de 2023, que, em seus modelos, está na meta”;
João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos
- “Copom foi dovish no comunicado, quer esperar para ver os efeitos da alta de juros”;
- “Comitê permanece preocupado com inflação, principalmente com itens subjacentes”;
- “Esperamos que o ciclo de alta se encerre em março com uma alta de 100 bps”;
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital
- Mercado deve reagir de forma até positiva por conta do reajuste do tom do BC sobre os próximos passos da política monetária, com alguma correção da curva de juro;
- “Por conta da queda esperada na taxa de juros e pelo movimento de aperto monetário nos países desenvolvidos, esperamos que o dólar vá no sentido oposto e abra para cima”;
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[Atualiza com mais comentários de analistas -- 8h49, 03/02/2021]
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