Dirigentes do Fed sinalizam ritmo mais gradual para alta do juro

Seis integrantes do alto escalão falaram em público nesta semana e nenhum apoiou a ideia de acréscimo de 0,50 ponto percentual em março

"Eles não querem dar a impressão de que estão em pânico ou apressados", disse Julia Coronado, fundadora da firma de pesquisas MacroPolicy Perspectives
Por Steve Matthews
02 de Fevereiro, 2022 | 03:06 PM

Bloomberg — Representantes do banco central dos Estados Unidos têm um recado para os investidores que agora esperam elevações maiores na taxa básica de juros neste ano: é melhor ir mais devagar.

Seis integrantes do alto escalão do Federal Reserve falaram em público nesta semana. Nenhum apoiou a ideia de um acréscimo de 0,50 ponto percentual na taxa em março. O comandante do escritório regional do Fed em St. Louis, James Bullard, conhecido pela preferência por mais agressividade na política monetária, disse que cinco aumentos nos juros — um a mais do que um por trimestre — “não são muito má aposta”.

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Idealmente, o Fed prefere se movimentar em ritmo gradual, disse a comandante do Fed de Kansas City, Esther George, de perfil semelhante ao de Bullard. As sugestões das autoridades de movimentos paulatinos contrastam com as previsões de Wall Street de até sete elevações nos juros em 2022 ou mesmo um ajuste de 0,50 ponto durante o ciclo.

Com a inflação perto do maior nível em 40 anos, o presidente do Fed, Jerome Powell, informou na semana passada que o Comitê Federal de Mercado Aberto pretende aumentar os juros na reunião de 15 e 16 de março. Ele não descartou um acréscimo de 0,50 ponto percentual e se recusou a revelar o ritmo de acréscimos adicionais, abrindo espaço para o Fed se mover rapidamente se necessário.

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No entanto, quando compartilharam suas opiniões pessoais, os colegas de Powell expressaram forte preferência por não se mover com pressa.

“Eles querem ser capitães que não balançam o barco”, disse Julia Coronado, fundadora da firma de pesquisas MacroPolicy Perspectives. “Eles não querem dar a impressão de que estão em pânico ou apressados. Ninguém quer causar volatilidade desnecessária” nos mercados, disse ela.

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Investidores passaram a esperar um ritmo maior de aumentos de juros desde os comentários de Powell. Agora a aposta é de aproximadamente cinco acréscimos este ano, comparado à projeção de três elevações sinalizadas pelas autoridades em dezembro. Economistas de Wall Street estão divididos sobre o número de movimentações do Fed no esforço para conter a inflação, projetando até sete acréscimos e o risco de uma alta de 0,50 ponto que seria a primeira dessa magnitude desde 2000.

Em Washington, Powell aguarda que o Senado confirme sua nomeação a um segundo mandato de quatro anos na presidência do Fed, tendo Lael Brainard como vice-presidente. Os integrantes do alto escalão que falaram nos últimos dias são responsáveis por escritórios regionais e três deles atualmente participam da votação sobre a política monetária.

“Eles estão freando um pouco e sinalizando que as expectativas para os juros devem se estabilizar em torno da atual taxa implícita”, disse Aneta Markowska, economista-chefe de finanças dos EUA na Jefferies. “Eles estão dizendo que é um patamar suficiente.”

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“O mercado parece ter interpretado os comentários de Jerome Powell na entrevista coletiva após a reunião de política monetária como evidência de que o banco central está admitindo que está atrás da curva e precisará recuperar o atraso subindo os juros de forma agressiva neste ano. Isso pode estar errado e ser o resultado que Powell almejava”, afirmaram Tom Orlik e Anna Wong, economistas da Bloomberg.

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