Rio Tinto: CEO diz ter vergonha por assédio, racismo e bullying

Ao todo, 21 mulheres relataram estupro ou tentativa de estupro ou agressão sexual em instalações da empresa nos últimos cinco anos

Operação de mina de cobre da Rio Tinto em Oyu Tolgoi na Mongólia
Por James Thornhill
01 de Fevereiro, 2022 | 01:44 PM

Bloomberg — Mais de um quarto das funcionárias da Rio Tinto (RIO) sofreu assédio sexual e práticas de bullying vitimaram quase metade de todos os colaboradores, de acordo com um novo relatório que coloca em xeque a governança da gigante da mineração.

Ao todo, 21 mulheres relataram estupro ou tentativa de estupro ou agressão sexual em instalações da empresa nos últimos cinco anos. Estudo encontrou racismo generalizado em operações na Austrália e na África do Sul. O relatório foi encomendado pela própria companhia. Mais de 10.000 funcionários foram entrevistados sobre a cultura da organização com sede em Londres.

“As conclusões deste relatório são profundamente perturbadoras para mim e devem ser para todos que as lêem”, disse Jakob Stausholm, CEO da Rio Tinto, em um comunicado. “Sinto vergonha e enorme pesar ao saber até que ponto o bullying, o assédio sexual e o racismo acontecem na Rio Tinto.”

Essas revelações chegam menos de dois anos após a mineradora ter se desculpado pela destruição de sítios arqueológicos de aborígenes na Austrália. As novas informações sobre a extensão da cultura tóxica no ambiente de trabalho podem desencadear novos questionamentos por parte dos investidores. Em 2020, explosões em uma mina de minério de ferro destruíram registros humanos de mais de 40.000 anos, levando a protestos exigindo mudanças radicais e a saída de altos executivos, incluindo o antecessor de Stausholm.

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As mulheres representam cerca de 20% da força de trabalho na Rio Tinto 

Denúncias

A análise por agentes externos foi iniciada no ano passado após uma série de denúncias de má conduta em minas remotas no oeste da Austrália. As conclusões também podem abalar as campanhas do setor de mineração que proclamam ambições de alcançar metas de diversidade e melhor equilíbrio de gênero entre uma mão-de-obra historicamente masculina.

A Rio Tinto promoveu Stausholm em uma tentativa de melhorar sua reputação. A empresa informou que implementaria todas as 26 recomendações apresentadas pela equipe que elaborou o estudo, liderada por Elizabeth Broderick, que já foi comissária de Discriminação Sexual do governo australiano. As medidas incluem reforçar a segurança dos alojamentos e criar um ambiente onde as pessoas se sintam seguras para denunciar comportamento inaceitável.

O estudo considerou instalações da Rio Tinto em países como Canadá, EUA, Mongólia e Singapura, mas a atenção se concentra na Austrália, onde ficam as minas de minério de ferro que geram a maior parte dos lucros da empresa. Entre os 45 mil empregados e prestadores de serviços da companhia, quase metade atua na Austrália. As mulheres representam cerca de 20% do quadro de pessoal, segundo o último relatório anual disponível.

Alguns dos maiores fundos de investimento do país, incluindo AustralianSuper e Health Employees Superannuation Trust, estão adotando tolerância zero em relação a erros na cultura corporativa. Esses dois fundos participaram do grupo que pediu a demissão de executivos da Rio Tinto após a destruição do patrimônio histórico.

Minas em locais afastados podem ser especialmente perigosas para mulheres. Nesses ambientes, os colaboradores — a grande maioria homens — vivem em alojamentos onde há pouca separação entre vida pessoal e trabalho. No entanto, os responsáveis pelo estudo também ouviram queixas em Cingapura, onde o trabalho acontece predominantemente em escritórios.

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