Bloomberg — O México se tornou a segunda grande economia latino-americana a entrar em recessão no ano passado, após as interrupções na cadeia de suprimentos e a falta de estímulo fiscal prejudicarem a atividade econômica.
O Produto Interno Bruto do país caiu 0,1% no quarto trimestre em relação ao período anterior – valor abaixo da estimativa mediana de queda de 0,3% de uma pesquisa da Bloomberg, segundo dados preliminares divulgados pelo instituto de estatísticas do México nesta segunda-feira (31). No terceiro trimestre, já havia ocorrido uma retração de 0,4%.
As duas maiores economias da América Latina agora estão paralisadas, com o Brasil encolhendo no segundo e terceiro trimestres de 2021. Economistas normalmente descrevem um país em recessão quando registra dois trimestres consecutivos de contração econômica.
O México, um dos maiores exportadores do mundo, foi assolado pelos problemas de abastecimento global, mesmo com o aumento da demanda por seus produtos nos Estados Unidos, seu principal parceiro comercial. A ausência de estímulos governamentais e a crescente postura hawkish do banco central em resposta à inflação acima da meta amorteceu ainda mais o crescimento, com uma contração trimestral de 0,7% do setor de serviços que representou o maior problema para a economia.
“A alta inflação e a queda do PIB no segundo semestre de 2021 sugerem que a economia mexicana está passando por uma estagflação, uma situação não vista no México desde a década de 1980″, disse Gabriela Siller, diretora de análise econômica do Banco BASE.
O que diz a Bloomberg Economics
“Os resultados sugerem que a agenda do governo não está ajudando, mas o presidente Andrés Manuel Lopez Obrador pode argumentar que precisa de mais e optar arriscar antes de considerar uma alternativa. A queda na atividade econômica também aumenta as restrições à política monetária e torna mais custoso para o banco central continuar subindo as taxas de juros. No entanto, com a inflação e as expectativas de inflação acima da meta e subindo ainda mais, as autoridades não têm outra opção a não ser continuar apertando a economia”.
-- Felipe Hernandez, economista da América Latina
Embora a economia mexicana tenha se recuperado rapidamente após o segundo trimestre de 2020, quando o país instituiu suas medidas mais rígidas de lockdown para conter a covid-19, a recuperação vem perdendo força, pressionando o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador. Em termos anuais, a economia cresceu 1% entre outubro e dezembro – índice abaixo da expansão de 1,5% esperada pelos economistas. O presidente mexicano recusou-se repetidamente a implementar grandes estímulos fiscais como fizeram outros países para proteger sua atividade econômica contra a crise causada pela pandemia.
O peso caiu a 20,85 em relação ao dólar antes de se recuperar ligeiramente após o anúncio feito nesta segunda-feira.
O governo mexicano rejeitou a ideia de que o México está em recessão, e o vice-ministro das Finanças, Gabriel Yorio, afirmou que outras variáveis, como o desemprego, também deveriam ser levadas em consideração antes que os dados fossem divulgados. “O emprego está crescendo e o uso da capacidade produtiva do país está aumentando. Muitos dos que perderam seus empregos estão voltando ao trabalho”, disse ele na sexta-feira (28).
Gabriel Lozano, economista-chefe para México e América Central do JPMorgan Chase (JPM), descreveu a recuperação mexicana como se tivesse o formato da letra “W”. “E estamos na secunda curva descendente”.
Impacto sobre as taxas
A atual recessão representa um problema para o banco central com uma nova presidente – Victoria Rodriguez Ceja – que assumiu o comando este mês.
O banco optou por um aumento de 50 pontos-base na taxa de juros em sua última decisão – tomada em dezembro – sendo este um movimento mais agressivo do que em reuniões anteriores. Mas manter o ritmo dos ajustes na reunião do Banxico em 10 de fevereiro pode prejudicar uma economia que tem crescimento esperado de apenas 2,5% em 2022.
“Apesar da desaceleração da economia, esperamos que o Banxico priorize o combate à alta inflação e promulgue outro aumento de 50 pontos-base na próxima semana”, escreveu Nikhil Sanghani, economista da América Latina da Capital Economics, em nota aos clientes.
--Com a colaboração de Rafael Gayol.
--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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