Bloomberg — O Brasil precisa de um grande plano de investimentos em infraestrutura semelhante ao patrocinado pelo governo Joe Biden para tirar a economia da recessão em meio a um cenário internacional cada vez mais adverso, de acordo o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, assessor econômico próximo ao candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva.
Mantega afirmou que um aperto monetário agressivo pelo Federal Reserve dos Estados Unidos, juntamente com um crescimento chinês mais lento, tornará a recuperação no Brasil muito mais difícil nos próximos anos. Tal combinação é potencialmente “mortal” para a economia, disse.
Ao assumir o ministério em 2006 sob o primeiro mandato de Lula, Mantega impulsionou uma série de políticas fiscais anticíclicas para sustentar a maior economia da América Latina, enquanto o mundo sofria o impacto da crise financeira global. Agora, ele olha para os EUA e a Itália como exemplos de como o investimento público deve ser novamente o motor do crescimento.
“O setor privado não consegue encontrar uma saída para a crise”, disse Mantega, em entrevista por meio de videoconferência de São Paulo, acrescentando que é um dos vários economistas que debatem ideias econômicas com Lula. “Você tem que fazer o que Biden está fazendo, o que Mario Draghi está fazendo na Itália. Quando em guerra, você tem que ter um orçamento de guerra.”
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O combate à pobreza, acrescentou, exigirá ações ainda mais fortes do governo, pois o investimento leva tempo para ter impacto no bem-estar da população.
Priorizar o investimento público marcaria um afastamento das políticas liberais que o ministro da Economia, Paulo Guedes, busca implementar no governo de Jair Bolsonaro. Embora registre seus melhores números fiscais em anos sob Guedes, o Brasil ainda se recupera dos efeitos da pandemia do novo coronavírus. A economia voltou a entrar em recessão e a inflação está acima de 10%. Segundo o Ministério do Trabalho, o país perdeu 265.811 empregos formais em dezembro, mas criou 2,7 milhões em 2021.
Mantega disse que Lula, se eleito em outubro, não pretende impor um programa econômico elaborado exclusivamente pelo PT. “Lula terá muitas alianças políticas, você não pode governar sozinho”, afirmou. “Depois que o grupo de partidos estiver confirmado, você vai começar a discutir um programa que tem que ser aceito por todos, não pode ser um programa imposto pelo PT”.
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Mantega, o ministro da Fazenda mais longevo do Brasil, reconheceu alguns erros na política econômica da ex-presidente Dilma Rousseff, inclusive quando esteve à frente da equipe econômica. Ele citou como exemplo a intervenção do governo no setor de energia para baixar os preços da eletricidade em 2012. “Isso não funcionou. As ações da Eletrobras (ELET3) caíram e você tinha muitos investidores na Eletrobras. Na verdade, acho que cometemos um erro lá.”
Mantega descartou fazer parte do gabinete econômico de Lula em um eventual novo governo.
“Não pretendo voltar”, disse. “A economia tem ciclos; você fica com a parte boa, mas se a economia não funciona, a culpa é do ministro. Fiquei no governo por 12 anos seguidos. Já dei a minha parte”.
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