Consultorias iniciam segunda onda de cortes na produção de soja

AgResource atualizou estimativa para a produção no Brasil com corte de mais 4,5% do número anunciado no início de janeiro

Estimativa era para mais uma safra recorde, mas consultorias começam a rever seus números e perdas devem se acentuar com estiagem
31 de Janeiro, 2022 | 02:44 PM

Bloomberg Línea — A expectativa de produção da safra de soja no Brasil tem gerado divergências entre o que as consultorias privadas esperam que o país colha neste ano e os números oficiais dos órgãos governamentais. Para a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o Brasil vai produzir neste ano 140,5 milhões de toneladas do grão, enquanto o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) projeta uma produção de 139 milhões de toneladas.

O número da Conab foi atualizado no início de janeiro e tende a ser revisado em fevereiro, diante da piora do quadro de estiagem que se apresenta na região Sul, em especial no Rio Grande do Sul. De qualquer forma, o último dado da entidade é superior à estimativa das principais consultorias do mercado. A subsidiária brasileira da consultoria americana AgResource previu no início de janeiro que o Brasil colherá 131,04 milhões de toneladas de soja.

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Hoje, a empresa divulgou uma atualização de sua estimativa, indicando que a produção nacional será de 125,04 milhões de toneladas, 4,5% menor do que o número de janeiro e 11% abaixo do que a estimativa oficial do governo, por enquanto. “Apesar do baixo volume de chuvas recentemente, o calor continua e os estragos nas lavouras em função do estágio fenológico das culturas já estavam consolidados”, comenta o diretor da AgResource Brasil, Raphael Mandarino. Para ele, a falta de chuvas já tem causado perdas de produtividade em outras regiões, como em Mato Grosso do Sul.

A revisão da AgResource deve ser apenas a primeira a acontecer. Nos próximos dias, outras consultorias privadas tendem a ajustar também seus números, o que vai começar a influenciar nos preços da soja no mercado. O sentimento é que o mercado já havia precificado os contratos em Chicago considerando uma safra no Brasil entre 130 milhões e 135 milhões de toneladas. “Agora, o mercado irá precificar os números abaixo dos 130 milhões de toneladas, trazendo as cotações para patamares superiores”, afirma Mandarino.

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Queda nas exportações

Com uma produção de soja menor no Brasil, a expectativa das empresas é que a disponibilidade do grão para exportação seja menor, o que vai fazer com que os embarques deste ano também fiquem abaixo do esperado. Na semana passada, a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), também revisou para baixo sua estimativa para a safra de soja no país e passou a considerar uma colheita de 135,8 milhões de toneladas.

Diante desse novo cenário, a entidade que representa empresas como ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus, Amaggi, Cofco, considera que o país não vai exportar o que vinha sendo esperado para o ano. A Abiove reduziu sua expectativa para as exportações deste ano para 86,9 milhões de toneladas. O novo número é praticamente igual aos 86,1 milhões exportados no ano passado e 4,6% a menos do que havia sido projetado inicialmente.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.