Bloomberg — Estimar a quantidade de café que o Brasil fornecerá está se mostrando uma tarefa difícil até mesmo para os meteorologistas mais experientes após seca prolongada, várias geadas e agora inundações danificam as árvores do maior produtor mundial.
Poucas safras são tão observadas quanto o café no Brasil, que responde por mais de 45% da produção global de grãos arábica, valorizados por torrefadores de alto nível por seu sabor mais suave. Os traders se apegam a todas as estimativas de analistas que percorrem o país visitando fazendas para examinar a saúde de suas árvores. Mas este ano, muitos observadores que normalmente veriam a produção pessoalmente, cheirariam, provariam e sentiriam os grãos estão confiando em números de segunda mão, ou se valendo de informações sobre o clima e as tendências passadas.
A safra deste ano é especialmente importante, pois é a maior em um ciclo de dois anos para as árvores de arábica e segue a colheita fraca do ano passado, que elevou os preços futuros ao maior patamar em uma década. Uma ampla gama de estimativas e grande volatilidade apenas aumentam as oscilações de preços em um mercado já conhecido por suas oscilações.
Seca e chuva
Enquanto no ano passado o problema era a seca, as chuvas trazem uma nova ameaça. Partes dos estados do Paraná e de São Paulo sofrerão inundações nos próximos dias, aumentando o estresse nas árvores, dizem analistas. Isso manteve os preços futuros perto da máxima de uma década alcançada em dezembro.
“Avaliar a safra está ficando mais difícil do que nunca”, disse Hernando de la Roche, vice-presidente sênior da StoneX Financial Inc. em Miami. “E para os agricultores e aqueles que vão inspecionar os campos, as próximas inundações não ajudarão.”
O trabalho dos analistas foi prejudicado pela pandemia, que tornou a locomoção pelo país mais difícil e perigosa. StoneX e Rabobank estão agendando viagens nas próximas semanas para avaliar os campos e as plantações novamente.
O adido do Departamento de Agricultura dos EUA não realizou as viagens de campo anuais regulares, citando protocolos de distanciamento social pela covid. A agência disse que seus números, que são amplamente seguidos, foram baseados em fatores como dados históricos, padrões climáticos observados e números de safras de outras fontes.
O Brasil pode produzir 61,4 milhões de sacas de arábica e grãos robusta na temporada 2022-2023, segundo a média de nove estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg. Embora seja superior aos 52,8 milhões do ano passado, caiu de 65,2 milhões de sacas no último ciclo de alto rendimento em 2020-21.
Esse ponto médio abrange uma ampla faixa de 53 milhões a 66 milhões de sacas de 60 quilos. Para o arábica, é ainda maior, de 31 milhões para 46 milhões, uma diferença superior à produção anual na Colômbia, o segundo maior exportador de arábica.
As previsões costumam ser um alvo em movimento. Em março, a Volcafe, unidade de café da ED&F Man, estimou a safra de arábica para 2022-23 em 53 milhões de sacas, antes que o clima extremo prejudicasse as perspectivas. Depois que mais visitas de campo revelaram novas evidências de danos, a empresa cortou sua previsão cinco vezes, para 37,5 milhões de sacas em um relatório recente.
Mesmo para a safra de robusta, mais barata do país, uma safra recorde esperada não é definitiva, com as árvores também apresentando estresse, disse Judy Ganes, presidente da J. Ganes Consulting, que viajou ao país várias vezes. “As pessoas estão muito otimistas. Os problemas são maiores do que eles pensam.”
Fazendas nas mesmas regiões, ou mesmo lotes dentro da mesma fazenda, apresentam desenvolvimentos de flores diferentes, o que levará a um número variado de grãos nas árvores, prejudicando a previsão de produção, disse Jorge Cuevas, diretor de café da Sustainable Harvest, importadora do Óregon. Mais clareza surgirá por volta de abril e maio, quando mais café fluir para as usinas, disse ele.
“Fazer previsão para safra de 2022 no Brasil tornou-se um exercício de futilidade”, disse.
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