A bolsa brasileira e o câmbio devem continuar sustentados pelo capital externo, atraído por preços relativos baixos e juros perto dos 10%, segundo Eduardo Miszputen, chefe de tesouraria do Citi no Brasil.
O Ibovespa e o real ficaram mais baratos em termos relativos depois que sofreram mais que seus pares externos no semestre passado e agora são visados quando os investidores globais estão realocando recursos, disse Miszputen, em entrevista. Ele trabalhou no Citi em Singapura antes de assumir a tesouraria do banco no Brasil.
“A bolsa está relativamente barata em dólar e temos visto entrada de estrangeiros.”
O real registra valorização de mais de 5% e tem o segundo melhor desempenho entre as moedas emergentes este ano, recuperando parte da perda de 11% do segundo semestre de 2021, quando foi a terceira pior entre 24 divisas monitoradas pela Bloomberg. Estrangeiros venderam US$ 9,2 bilhões em derivativos negociados na B3 nas últimas três semanas, levando suas posições ao ponto de maior otimismo visto nos últimos quatro anos.
O Ibovespa já subiu 12% em dólar e recebeu mais de R$ 20 bilhões em investimentos estrangeiros em 2022, após liderar as perdas entre os índices globais de ações no semestre passado.
Segundo o executivo do Citi, o estrangeiro vem mostrando apetite maior que o investidor local porque tende a olhar os fundamentos e a valorização dos ativos relativamente a outros países. “Comparado com outras bolsas, o Ibovespa está em nível interessante.”
A alta de juros também favorece a entrada de capitais, com a Selic já perto dos 10% depois de ter permanecido em um piso histórico de 2% até menos de um ano atrás. Nas próximas reuniões do Copom, o juro deve chegar 12% ou 12,5%, o que já está implícito nas curvas e atrai capital, disse o executivo do Citi.
“Quando se olha emergentes como México, Índia ou China, quem paga 10% de juros?”, afirmou Miszputen.
“Os juros internacionais estão ainda baixos e o Brasil se destaca, atraindo os investidores. Devemos ver por algum tempo a bolsa e câmbio com desempenho melhor que outros emergentes.”
Volatilidade à frente
Enquanto o momento de otimismo com a realocação de investimentos deve prosseguir, riscos externos e internos podem trazer volatilidade nos próximos meses, segundo o executivo do Citi.
“Juros mais altos do Fed podem levar à migração para os EUA de recursos dos emergentes”, disse Miszputen. Ele cita ainda o crescimento da China e seu efeito nas commodities, além de questões geopolíticas como fatores que podem gerar volatilidade.
No Brasil, o tema das eleições começa a ganhar importância, embora só deva ter impacto significativo nos preços mais para a metade do ano, afirmou Miszputen. Ele vê com preocupação o risco de deterioração fiscal ainda neste governo, mas considera que o foco do mercado será nos planos econômicos do próximo presidente.
Outro ponto decisivo para os ativos brasileiros é o debate sobre quando o BC vai reverter o atual aperto monetário. Com a inflação projetada na casa de 5% este ano e 3,5% em 2023, será improvável ver a Selic na casa de 12% por muito tempo, disse o executivo.
“A grande discussão é quando o BC vai começar a reposicionar o juro para um nível mais baixo. Isso vai definir o apetite do mercado.”
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