Bloomberg — Investidores apostando que as ações de mercados emergentes terão performance superior às dos EUA em 2022 já tropeçaram no primeiro obstáculo.
Tradicionalmente, a quarta semana de janeiro é quando o mercado pune os investidores que acreditam que a tendência vista nos primeiros dias do ano vai continuar. E 2022 não parece uma exceção. As ações de países em desenvolvimento tiveram sua pior semana desde agosto, após a melhor exibição em relação ao índice S&P 500 (SPX) desde 1990 nas três semanas anteriores.
Planos de aperto agressivo no Federal Reserve e tensões geopolíticas sobre a Ucrânia eclipsaram ganhos robustos e avaliações baratas, e levantam dúvidas sobre se os países em desenvolvimento poderão encerrar sua década perdida em relação às ações dos EUA. Com a divulgação dos índices dos gerentes de compras de Rússia, Índia e Brasil nesta semana, os investidores estão procurando evidências de uma recuperação econômica mais rápida entre os emergentes.
Bênção ou Maldição?
“Não acredito que as ações de mercados emergentes serão capazes de superar os mercados desenvolvidos este ano”, disse Leonardo Pellandini, estrategista do Banco Julius Baer. “Precisaremos que a inflação comece a se desgastar, que o diferencial de crescimento econômico em relação aos mercados desenvolvidos se amplie e de mais certeza na China em relação às suas políticas e regulamentações.”
O sinal hawkish do Fed na semana passada “continuará sendo um grande obstáculo para o desempenho dos mercados emergentes”, disse ele.
Fluxos de janeiro
A relação entre o MSCI Emerging Markets Index (EEM) e o benchmark dos EUA saltou 9,5% este ano até 21 de janeiro, mesmo com a queda das ações de tecnologia listadas em Nova York. A última vez que os mercados emergentes mostraram ganhos relativos nessa escala foi em 2001, quando iniciaram um rali de seis anos.
Os investidores despejaram US$ 8,2 bilhões em ações de mercados emergentes na semana até 26 de janeiro, segundo dados da EPFR Global citados pelo Bank of America Corp. (BAC).
Os ganhos ainda podem ser retomados com previsões de lucros perto de recorde e o desconto na avaliação das ações dos EUA em impressionantes 39%. Mas o período antes dos aumentos das taxas do Fed e do aperto quantitativo será turbulento, e os mercados emergentes podem estar muito longe de encontrar um equilíbrio.
Os ganhos nos primeiros dias do ano foram prejudicados no passado pelo colapso das pontocom, o taper tantrum, a desaceleração da China em 2015 e a guerra comercial entre EUA e China em 2018. No ano passado, o otimismo dos investidores sobre o trade de reflação nas três primeiras semanas se dissiparam à medida que a pandemia se intensificou e o crescimento desacelerou.
Caça a oportunidades
Certamente, os mercados emergentes ainda oferecem bolsões de oportunidades.
As ações da América Latina estão em alta à medida que os riscos políticos da região diminuem, enquanto os aumentos agressivos das taxas de juros locais estimulam as apostas em uma desaceleração da inflação. Um aumento nos preços do petróleo melhorou as perspectivas para as ações de energia. A postura acomodatícia da China está aumentando o otimismo nos ativos do país.
“As ações dos EUA pareciam muito caras em relação às ações de mercados emergentes na virada do ano”, disse Mitul Kotecha, estrategista-chefe de mercados emergentes para Ásia e Europa da TD Securities. “Embora parte disso tenha sido corrigido nas últimas semanas, há espaço para uma correção adicional nos próximos meses.”
Mas prever o desempenho das ações de mercados emergentes é um assunto complicado, e apenas uma narrativa de melhoria dos dados econômicos pode compensar a tradicional queda da quarta semana.
Wei Li, estrategista-chefe global de investimentos da BlackRock Inc. (BLK), permanece neutro em relação às ações de mercados em desenvolvimento, preferindo seus pares de países desenvolvidos. Os mercados emergentes enfrentam “dinâmicas de reinício mais desafiadoras”, disse ela.
Aqui estão alguns dos principais eventos e dados a serem observados nos mercados emergentes esta semana:
- A Índia apresentará o orçamento anual na terça-feira. O país, em meio a uma terceira onda da pandemia, enfrenta uma escolha difícil entre cortar déficits ou aliviar o desemprego;
- Índia, Brasil, México e Indonésia divulgarão os índices dos gerentes de compras de janeiro;
- A Rússia divulgará seu PMI de manufatura em meio às expectativas de um quarto mês consecutivo de expansão. Os dados de inflação semanais darão uma indicação sobre se os aumentos agressivos das taxas começaram a funcionar;
- A Turquia publicará os números da inflação de janeiro. A política monetária frouxa alimentou os preços ao consumidor e os economistas esperam que o último relatório não mostre trégua, com a inflação anual atingindo 47,55%.
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