Bloomberg — O preço das licenças de carbono na União Europeia subiu quase 150% no ano passado para o maior nível histórico. Para alguns dos hedgefunds que lucraram com a valorização, esse recorde será quebrado novamente em 2022.
Fundos como Andurand Capital Management, Northlander Commodity Advisors e Clean Energy Transition esperam que o preço dessas licenças ultrapasse a marca de 100 euros à medida que os países do bloco queimam mais carvão para manter as luzes acesas em meio à disparada da cotação do gás natural, que também é usado para gerar eletricidade. As previsões foram feitas antes que movimentações de tropas da Rússia perto da Ucrânia aumentassem tensões geopolíticas e preocupações sobre o fornecimento de gás.
É um momento crítico para o sistema europeu que impõe um preço às emissões de carbono por cerca de 10 mil usinas elétricas e instalações industriais. O sistema está funcionando como planejado, elevando o custo da utilização do carvão. Mas a Europa vem enfrentando uma crise de energia ao longo do último ano.
O preço do gás natural quadruplicou diante das restrições de oferta. A escassez é tão grande que, mesmo com preços de carbono mais altos, sai mais barato queimar carvão e pagar pelas licenças para gerar poluição.
“Ainda temos uma escassez fundamental de licenças para emissão de carbono de agora até 2030”, disse Ulf Ek, diretor de investimentos da Northlander, que obteve um ganho de quase 150% com apostas em carbono no ano passado. “Os preços precisam continuar subindo para a distância entre oferta e demanda ser superada”.
Os contratos futuros de carbono acumulam alta de quase 10% em janeiro, mas o diretor da Northlander ainda acha o avanço pequeno. Segundo ele, o movimento sugere que o mercado espera que empreendimentos altamente poluentes encerrem suas atividades em vez de pagar mais pela energia necessária para continuar operando.
No entanto, Ek entende que qualquer queda na produção industrial será ofuscada por emissões mais altas de usinas movidas a carvão, empurrando as licenças de carbono para 140 euros, ou quase 75% acima do patamar visto no início do ano.
Esse preço recorde certamente direcionaria investimentos para usinas que utilizam combustíveis mais limpos, como o gás, disse Casey Dwyer, gestor de portfólio da Andurand, que obteve ganho de 87% no último ano em um fundo que negocia carbono. A Andurand administra cerca de US$ 950 milhões em ativos.
“Qual é o preço do carbono que incentiva a construção de novas instalações movidas a gás em detrimento do carvão? Segundo nossos cálculos, 120 euros”, disse Dwyer. Para ele, o carbono pode atingir essa cotação neste ano, representando avanço de quase 50% em relação a 2021.
A capacidade de longo prazo de incentivar a descarbonização é fundamental para o futuro desse mercado como pilar da política climática. Diante da inflação desenfreada nos custos de energia, políticos em países como Polônia e Hungria pedem intervenção governamental para conter saltos nos preços. A Comissão Europeia não se mostrou receptiva a esses apelos.
As apostas no aumento dos preços impulsionam o retorno gerado com esses contratos, mas nem todo mundo espera uma reprise do que ocorreu no ano passado. Analistas da BloombergNEF estimam o preço médio do carbono ao redor de 80 euros. O Morgan Stanley (MS) acha que a cotação só ultrapassará a barreira dos 100 euros em 2024.
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