Bloomberg — Nos Estados Unidos, os gastos do consumidor ajustados à inflação caíram no mês passado com o maior índice desde fevereiro, sugerindo que os americanos moderaram seus gastos em meio à última onda de covid-19 e à inflação mais rápida em quase 40 anos.
As compras de bens e serviços, ajustadas pelas mudanças nos preços, caíram 1% em relação a novembro, informou o Departamento de Comércio nesta sexta-feira (28).
O indicador de preços de gastos de consumo pessoal, que o Federal Reserve usa para sua meta de inflação, subiu 0,4% em relação ao mês anterior e 5,8% em relação a dezembro de 2020, o maior salto desde 1982. Não ajustado pela inflação, os gastos caíram 0,6%, enquanto a renda subiu 0,3%.
Em outro sinal de pressões inflacionárias em toda a economia, um relatório separado do Departamento do Trabalho na sexta-feira (28) mostrou que os custos de emprego nos EUA aumentaram em um ritmo robusto pelo segundo trimestre consecutivo, destacando os rápidos aumentos de salários observados no segundo semestre do ano, à medida que as empresas competiam por um oferta limitada de trabalhadores.
Os dados surgem depois que o Fed, buscando domar a inflação e preservar a recuperação, endossou a elevação das taxas de juros em março e abriu a porta para aumentos mais frequentes, e potencialmente maiores do que o previsto, após sua reunião de política na quarta-feira (26), que durou dois dias.
Um aumento nas infecções por coronavírus devido à variante ômicron provavelmente diminuiu os gastos em dezembro, à medida que mais americanos ficaram em casa, e os preços altos provavelmente também foram um fator de dissuasão. Esse impacto pode se estender para o início do primeiro trimestre, já que a atividade econômica permanece moderada, embora a maioria dos analistas espere que a desaceleração seja de curta duração.
Riscos de inflação
“Existe o risco de que a alta inflação que estamos vendo seja prolongada, existe o risco de que ela suba ainda mais”, disse o presidente Jerome Powell durante uma entrevista coletiva na quarta-feira (26). “Temos que estar em uma posição com nossa política monetária para abordar todos esses resultados plausíveis.”
As previsões medianas em uma pesquisa da Bloomberg com economistas apontavam para uma redução de 1,1% nos gastos ajustados à inflação e um aumento de 5,8% no índice de preços em relação ao ano anterior.
Um relatório separado na quinta-feira (27) mostrou que os gastos pessoais cresceram 3,3% nos últimos três meses de 2021, liderados por um aumento nos gastos com serviços. Os dados de sexta-feira (28) para dezembro sugerem que os gastos do consumidor se concentraram no início do quarto trimestre.
Os gastos com bens ajustados pela inflação caíram 3,1%, enquanto os gastos com serviços aumentaram 0,1%, segundo dados de sexta-feira (28).
O relatório também mostrou que a renda pessoal aumentou em dezembro em um ritmo mais lento do que no mês anterior, que foi de 0,5%.
A taxa de poupança - ou poupança pessoal como proporção da renda disponível - subiu para 7,9%, o segundo aumento consecutivo após cair durante grande parte do ano.
Os salários avançaram 0,7% em dezembro após um aumento de 0,6% no mês anterior, uma vez que as empresas continuam aumentando os salários para atrair trabalhadores em meio à baixa oferta de mão de obra.
Apesar dos consideráveis aumentos salariais em termos nominais, a inflação está corroendo a renda. A renda pessoal disponível, ou renda após impostos ajustada pela inflação, caiu 0,2% no mês passado, a quinta queda consecutiva.
O núcleo do índice de preços, que exclui alimentos e energia, subiu 4,9% em relação ao ano anterior, o maior desde 1983. As pressões sobre os preços devem permanecer elevadas nos próximos meses antes de esfriar ainda este ano.
– Com a colaboração de Kristy Scheuble.
– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, localization specialist da Bloomberg Línea.
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