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Ideias Bloomberg Línea

Qual a maturidade digital da sua empresa?

Nunca podemos esquecer que o principal insumo da tecnologia é “brain power”

Tempo de leitura: 2 minutos

Bloomberg Línea Ideias — Você já deve ter ouvido falar sobre Machine Learning, Metaverso, IoT ou NFT. Em tecnologia, notamos com frequência ciclos de “hype”, normalmente sucedidos por gap de expectativas versus realidade prática de suas aplicações.

A Gartner inclusive criou uma simplificação deste padrão com o “gartner hype cycle”:

Gartner_Felipe_Paiva

Além de todos os modismos atuais, precisamos entender qual é a importância da transformação digital na economia. Mas afinal, o que ela significa?

Podemos datar o início da “digitalização” em 1958 com a criação do primeiro microchip. Ao longo de décadas, o mundo foi sendo transferido do analógico para o digital.

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Porém, a “transformação digital” é um processo muito mais amplo que a digitalização. Ela aplica tecnologias digitais para criar ou transformar produtos, atividades e negócios. Um exemplo de fácil entendimento é o marketing digital: transformamos blocos de propaganda numa página de revista em um leilão de palavras-chaves na página do Google. Neste novo formato virtual, seu anúncio consegue ser infinitamente melhor direcionado para seu público-alvo, com custo muito menor e mais flexível ao longo do tempo.

Marc Andreessen tem uma frase famosa: “software está engolindo o mundo”, mas eu complementaria num sentido mais amplo que “código está engolindo o mundo”.

Existe uma crescente ansiedade com essa famigerada “transformação digital”. Mudanças abruptas na economia nos últimos dois anos, fruto da covid-19, aceleraram esse processo e muitas empresas sentiram-se despreparadas para esta nova realidade.

Os primeiros projetos de DX (Digital Transformation) começaram a ganhar relevância na década passada. O mercado estimado de DX em cinco anos é de US$ 2 trilhões! No entanto, uma pergunta antecessora à corrida pela transformação digital é: qual é a maturidade digital de sua empresa?

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Alguns exemplos práticos: noto que diversas empresas correm para contratar cientistas de dados na esperança que eles terão insights geniais com algoritmos de redes neurais, quando na realidade a empresa precisa estruturar melhor sua coleta de dados e a aplicação de estatística básica já traria grandes avanços dentro da organização. Ou então equipes de desenvolvimento que discutem estruturas complexas de microsserviços, mas o site da empresa tem falhas básicas de UX.

Neste sentido, muitas empresas estão com pressa para essa transformação digital, quando na verdade precisam antes trabalhar na construção dos “blocos básicos” para que ela ocorra sustentavelmente. Um estudo recente da McKinsey indica que empresas brasileiras enfrentam grandes desafios em quatro práticas comuns da transformação digital:

  1. Apenas 10% possuem um roadmap específico e alinhado de iniciativas para a estratégia digital;
  2. Captura de dados de maneira estruturada com visão 360º para analytics. Apenas 12% das empresas executam bem esta prática;
  3. Quantidade necessária de talentos capacitados para o modelo de negócios digital. Em 2020, o World Economic Forum (WEF) publicou um relatório sobre o futuro do trabalho que reforça esse ponto: cerca de 97 milhões de novas posições surgirão nos próximos anos devido à nova divisão de tarefas entre seres humanos e máquinas. Ao mesmo passo que cerca de 85 milhões de posições sumirão pela maior influência do computador em nosso dia a dia. Uma pesquisa recente da Gartner também aborda este tema: cerca de 1/3 dos skills solicitados para uma função em 2017 não são mais necessários em 2021;
  4. Mentalidade baseada em dados com desenvolvimento de uma cultura de tomada de decisão objetiva. Mitigar o famoso “achismo” nas decisões estratégicas e operacionais da empresa.

Portanto, notamos que a primeira, e principal, mudança para uma transformação digital bem sucedida é a transformação cultural da empresa.

Um caso emblemático no Brasil é o Magalu. Em 2015 a empresa era avaliada em cerca de R$ 300 milhões. Eles começaram a investir fortemente em transformação digital. Eu me recordo do release de resultados do 4º trimestre de 2018 em que eles citaram “enquanto os concorrentes abrem lojas, o Magalu abre APIs”. O mindset digital estava latente e em poucos anos eles colheram os frutos. Mesmo após toda a correção atual, a empresa é uma das maiores varejistas do mundo e está avaliada em mais de R$ 40 bilhões.

É necessário que a liderança busque, além de qualquer metodologia ou novo software, um conjunto de valores que permitam o desenvolvimento digital no ambiente de trabalho. Com a cultura correta, a empresa atrairá os talentos corretos que permitirão essa mudança.

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Nunca podemos esquecer que o principal insumo da tecnologia é “brain power”.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião dos conselhos editoriais da Bloomberg Línea, da Falic Media ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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Felipe Paiva

Felipe Paiva, engenheiro formado em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da USP, é fundador e CEO da Let's Code