Bloomberg — Agora que começou a contagem regressiva para a Copa do Mundo de 2022 no Catar, uma coisa é certa: o espetáculo global de futebol deste ano será diferente de tudo.
Pela primeira vez nos 92 anos de história do torneio, ele será realizado em novembro e dezembro, não no meio do ano. Também será o maior evento esportivo já realizado no Oriente Médio – e em um país conservador de maioria muçulmana. Tudo isso sem considerar a covid-19.
Ingressos para a Copa do Mundo da Fifa de 2022: quanto custam e como comprar?
Um assento para uma partida da fase de grupos custa a partir de 250 riais (aproximadamente US$ 68) para turistas internacionais, mas os residentes do Catar terão descontos especiais e podem pagar apenas 40 riais (aproximadamente US$ 10). Um lugar privilegiado na final de 18 de dezembro custará 5.850 riais (aproximadamente US$ 1.606).
O primeiro lote de ingressos vai ficar à venda de 19 de janeiro a 8 de fevereiro. Os torcedores podem solicitar partidas individuais ou pacotes de partidas em várias categorias de preço. Se as solicitações excederem os ingressos disponíveis para qualquer partida e categoria, os torcedores serão selecionados por sorteio aleatório. O segundo lote será vendido por ordem de chegada.
Quando as chaves forem sorteadas em abril, o processo de solicitação funcionará de maneira semelhante. Feito isso, os ingressos restantes ficarão disponíveis em uma fase de venda de última hora e por meio de uma plataforma de revenda de ingressos até a final.
E como é o Catar?
O Catar é um país minúsculo. É menor que Sergipe, o menor estado brasileiro, e a maior parte e sua população de 2,7 milhões de habitantes vive na capital, Doha, ou em seus arredores. Nenhuma das partidas será disputada a mais de 50 quilômetros da cidade, fato que organizadores apontam indicar a probabilidade de o torneio ser ecologicamente correto e até permitir que os torcedores assistam a mais de uma partida em um determinado dia.
A maioria das atrações do Catar está localizada na costa do Golfo Pérsico, desde o norte da orla “Corniche” de Doha, passando por uma ilha artificial chamada The Pearl, até chegar a um novo desenvolvimento urbano chamado Lusail. Fora da área metropolitana de Doha, boa parte do país é deserto – caracterizado por dunas de areia ao sul e uma paisagem plana e rochosa no resto do país.
Os estádios terão ar condicionado?
O Catar reformou um estádio existente e construiu sete novos para o torneio – um projeto de US$ 10 bilhões que atraiu controvérsia pelo tratamento dado aos trabalhadores da construção civil.
Todos os estádios utilizarão tecnologia ou design de refrigeração, embora nem todos sejam totalmente climatizados. Dito isso, o clima será relativamente agradável durante as semanas do torneio. Ao contrário dos meses de verão, quando as temperaturas podem chegar a 42°C durante o dia, a média de temperatura máxima em meados de novembro no Catar é de 29°C. Em dezembro, o clima fica ainda mais fresco.
Hotéis e acomodação: onde os turistas vão ficar?
Os organizadores locais tiveram que inventar algumas maneiras criativas de acomodar os 1,2 milhão de visitantes que devem chegar ao Catar ao longo do torneio – número equivalente a quase metade da população do país.
Além de hotéis e apartamentos para aluguel, as autoridades fretaram dois cruzeiros da MSC Cruzeiros, que oferecerão um total de 3.898 cabines durante o evento. Os organizadores também dizem que fãs mais aventureiros poderão acampar no deserto em aldeias designadas, embora não tenham divulgado detalhes.
O Catar é um país muçulmano. É possível consumir álcool durante a Copa do Mundo?
O Catar não é um país que não vende álcool, mas o governo restringe sua venda. Bebidas alcoólicas são servidas em restaurantes selecionados, normalmente anexados a hotéis. Um único depósito administrado pela Qatar Airways vende vinho, cerveja e destilados (assim como carne de porco) para residentes estrangeiros, desde que tenham permissão da controladora. Os organizadores ainda não confirmaram se o álcool estará à venda dentro dos estádios, mas estará disponível nas áreas designadas para torcedores.
Espera-se que homens e mulheres cubram os joelhos e os ombros em locais públicos. Shoppings, parques e prédios oficiais rotineiramente negam a entrada de pessoas que desrespeitam o dress code. No entanto, normas muito mais flexíveis são aplicadas em lugares que atendem a executivos estrangeiros, incluindo muitos hotéis de luxo e a The Pearl. Algumas mulheres usam bermudas e regatas nesses lugares, e usar biquínis na piscina não será passível de críticas.
O Catar é seguro para a Copa do Mundo?
Muito. O país ocupa o 29º lugar entre 163 países no Índice da Paz Mundial, ficando à frente de Espanha, Itália e Reino Unido.
O Catar não está próximo das zonas de conflito do Iêmen, Síria e Iraque. E também mantém laços cordiais com o Irã, o que significa que está um pouco isolado da crises em Teerã. Sede da maior base militar americana no Oriente Médio, o país vem aumentando sua cooperação com os Estados Unidos no combate ao terrorismo regional, incluindo o pagamento de um programa de capacitação de combate ao terrorismo antes da Copa do Mundo.
E para as mulheres, a comunidade LGBTQ+ e as minorias raciais?
Na prática, as mulheres do Catar possuem menos liberdades do que os homens, mas as turistas do sexo feminino provavelmente não encontrarão muita discriminação escancarada. As mulheres geralmente são tratadas com respeito em locais públicos.
Os organizadores pregaram abertura para pessoas de todas as orientações sexuais antes do evento e até disseram que permitirão que bandeiras de arco-íris sejam hasteadas nos estádios. Ainda assim, a conduta entre pessoas do mesmo sexo é criminalizada pela lei do Catar e passível de prisão, embora os gays dentro da comunidade de estrangeiros namorem e vivam juntos discretamente. Outras comunidades são menos tolerantes. Gays e lésbicas do Qatar contaram a grupos de direitos humanos que são forçados a esconder suas identidades de gênero.
A Relatora Especial das Nações Unidas sobre formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata constatou que os estereótipos raciais e étnicos, principalmente para pessoas da África Subsaariana e do Sudeste Asiático, são predominantes na vida privada e pública. Ela descobriu que o perfil racial se estende ao sistema de justiça e recebeu relatos de pessoas que tiveram acesso negado a shoppings e parques com base em sua aparência. Na prática, essa discriminação é comum para trabalhadores migrantes, mas para turistas, pode ser diferente.
Vai rolar de tudo na Copa do Mundo?
Um grande ponto de discussão entre os moradores é o grau em que as leis locais serão aplicadas durante a Copa do Mundo. Embora previsivelmente a tolerância do vandalismo seja baixa, outros tipos de comportamento considerados aceitáveis em outros lugares podem ser desaprovados e tratados com mais severidade no Catar. Por exemplo, demonstrações públicas de afeto – mesmo entre casais heterossexuais – são um tabu no Catar.
Um organizador disse no ano passado que o governo está explorando opções sobre como lidar com violações de modéstia e decoro, como embriaguez pública e indecência. Resta saber se as autoridades vão relaxar sua abordagem para evitar críticas internacionais.
--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
- Neymar investe R$ 6 milhões em compra de NFTs
- Musk diz que vai comer no McDonald’s se aceitarem Doge
- Herdeira da Disney: ‘Boicote empresas pelos direitos dos trabalhadores’
© 2022 Bloomberg L.P.
