Bloomberg Línea — O unicórnio MadeiraMadeira anunciou, nesta quinta-feira (27), que abrirá um centro tecnológico de desenvolvimento de móveis no Brasil. Em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), o novo espaço em Curitiba terá mais de 5000 m². Lá, o marketplace de vendas de móveis e artigos para casa vai pesquisar e desenvolver protótipos de novos produtos.
Segundo Daniel Scandian, CEO e cofundador da empresa, o centro poderá reduzir o tempo de criação até comercialização de um móvel de seis meses para um mês.
“A indústria no Brasil não tem um padrão. A gente tem pouca coisa que é controlada pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), que tem mais relação com a parte de segurança. Temos um problema muito grande no nível de qualidade de fornecedores”, disse.
Com pólos de sofisticação distintos pelo Brasil, o MadeiraMadeira queria garantir uma melhor qualidade dos produtos para os clientes a um preço acessível. Inspirados pela americana Ikea e pela WayFair, empresa de Niraj Shah, investidor da startup desde 2012, Scandian pensou em um centro tecnológico para controlar as etapas do processo de desenvolvimento dos produtos. A empresa pretende lançar 200 novos móveis por mês em 2022.
“Teremos estúdios de co-criação junto com os clientes e fornecedores. Conseguimos fazer protótipos de estofaria, de marcenaria, serralheria”, explica o CEO. O MadeiraMadeira quer ter até 45 pessoas trabalhando no novo centro tecnológico. Hoje, ao todo, o unicórnio tem 2.560 pessoas e até o final do ano espera contar com 3.200 funcionários.
Cerca de dois milhões de produtos são comercializados no marketplace da startup, que até hoje, terceirizava o desenvolvimento dos móveis. “Às vezes tinha que ter uma adaptação que não estava planejada e o nosso pessoal viajava quatro, cinco vezes para poder chegar a uma conclusão e garantir a qualidade do produto. Agora isso será feito dentro de casa, desde o desenvolvimento, design até a prototipagem”.
A área vai funcionar apenas para desenvolvimento de produtos. A fabricação seguirá sendo feita por fornecedores terceirizados.
O centro terá um espaço para a montagem dos protótipos dos móveis e três estúdios de fotografia para mostrar os detalhes do produto, além de um laboratório de testes que segue normas de qualidade dos Estados Unidos e da Europa.
“Usamos muito dados de consumo para os nossos clientes. Fazemos o home testing, que é uma metodologia que a Nike usa, em que enviamos para clientes e funcionários para poder testar o produto, dar feedback. É um processo que a gente acredita que vai elevar o nível de padrão da categoria de móveis e decoração”.
Segundo Scandian, o diferencial da startup está nos produtos com preços “democráticos”. Como uma empresa de tecnologia, os dados são “o novo petróleo” para saber o que os consumidores buscam.
Ele conta que a empresa conseguiu mapear a diferença de comportamento do consumidor na pandemia: pessoas indo para outras cidades e mudando o tamanho da casa ou apartamento.
“Conseguimos acompanhar isso com velocidade trazendo inovação [para os produtos], misturando tecnologias de MDF, pintura, madeira maciça, tecido. Coisas que no Brasil só a classe alta tinha acesso, a gente está desenvolvendo e democratizando”.
Com o novo centro, a ideia é tornar a operação mais eficiente na qualidade de desenvolvimento e confecção, logística e forma de comercialização dos produtos. A estratégia para 2022 conta ainda com 112 lojas físicas da marca própria da startup, a CabeCasa.
Implementadas desde o ano passado, as lojas do MadeiraMadeira estão em 12 das 27 unidades federativas do País: São Paulo (58), Minas Gerais (10), Rio Grande do Sul (11), Paraná (8), Goiás (5), Santa Catarina (5), Espiríto Santo (4), Pernambuco (2), Rio de Janeiro (2), Bahia (1), Rio Grande do Norte (1) e Distrito Federal (5).
As lojas funcionam em um modelo de showroom integrado com a plataforma do MadeiraMadeira, de forma que o cliente pode ir na loja, conversar com o vendedor e depois concretizar a venda de forma online.
Somados, os novos investimentos (centro tecnológico e lojas) ultrapassam os R$ 100 milhões. O cacife para tudo isso vem do aporte de US$ 190 milhões do SoftBank e Dynamo que a empresa recebeu em 2021.
O MadeiraMadeira pretende ir às compras em 2022
Com pouco mais de 15 centros de distribuição no Brasil, as entregas mais rápidas do MadeiraMadeira são feitas em até dois dias, o que Scandian considera um prazo suficiente para a categoria de móveis. “A gente continua aumentando a nossa logística proprietária”, disse o CEO. No ano passado, a empresa comprou a iTrack Brasil, que opera com rastreamento de carga.
A startup agora conta com uma área interna dedicada a olhar M&As estratégicos para este ano. Segundo o CEO, empresas que operam com tecnologia para o varejo e logística estão na mira.
Tudo preparado para o IPO, mas não há pressa para o mercado de capitais agora
Com valuation de mais de US$ 1 bilhão, o MadeiraMadeira agora olha um IPO nos Estados Unidos. Mas, antes disso, a empresa precisa ter uma receita relevante em dólares. “Temos que remar muito mais porque o dólar acaba com o real, que está depreciando, mas com certeza a gente tem uma expectativa de fazer um IPO lá fora”, disse Scandian.
No Brasil, o MadeiraMadeira diz ter cerca de 20% de market-share na categoria online. O executivo espera crescer essa porcentagem para 45% antes de partir para o mercado de capitais.
Para Scandian, enquanto há empresas que se prejudicam pela necessidade da saída para gerar liquidez aos investidores, o MadeiraMadeira não está com pressa. “Depende muito da janela [para o IPO] e do tamanho da empresa. É difícil falar quando, mas o mais importante é falar que a gente está pronto. Temos os números trimestrais revisados, tudo em compliance. Mas, logicamente, a gente vê uma janela muito complicada no curto prazo. Queremos esperar para ver o que vai acontecer. Temos um grupo de investidores que não tem pressa para ‘sair’. Isso nos favorece e nos dá paciência para escolher a melhor data”.
Em 2020, o MadeiraMadeira dobrou as vendas de 2019. Já ano passado, a empresa cresceu, mas não tanto quanto no ano da pandemia. “Não dá para comparar com o aumento da penetração em 2020. [Em 2021] tivemos uma ‘ressaca’ de consumo das categorias, mas continuamos mantendo a nossa média anual de 70% de crescimento”, disse o CEO.
Scandian vê 2022 como um ano desafiador, mas com muita oportunidade para o e-commerce, já que, em ano de crise, as vendas pela internet têm um apelo melhor de preço ao consumidor. “Isso é uma característica positiva para o nosso canal de venda, apesar do cenário geral [de alta de juros e baixa confiança do consumidor]”.
LatAm sim, mas ainda há espaço para crescer no Brasil
Mesmo com mais pessoas migrando do offline para as compras digitais, o Brasil “ainda está no início do e-commerce”, segundo Scandian. Ele explica que a pandemia acelerou esse processo, mas que para a categoria de móveis e decoração, apenas 10% dos brasileiros compram online.
“Vemos agora um crescimento normal da penetração do e-commerce, entre 1 a 1,5% ao ano. Em 2021 chegamos a 10-11% e este ano talvez chegaremos a 12%”, disse.
“A nossa intenção é ser uma empresa da América Latina, acreditamos na oportunidade em países como México e Colômbia, até utilizando o Brasil como exportador da categoria para a região”.
Leia também:
Kaszek e Canary lideram rodada de US$ 5,7 mi na brasileira Sooper
Nas alturas: iFood é liberado para decolar com drones de delivery