Bloomberg — O JPMorgan (JPM), que obteve a maior receita com comissões de banco de investimento na América Latina, planeja contratar mais de 500 pessoas na região para ganhar mais participação de mercado.
“Com exceção dos mercados de renda fixa, tivemos o melhor ano em 2021 para todos os negócios que temos na América Latina”, disse Alfonso “Poncho” Eyzaguirre, que é presidente do banco para a América Latina e Canadá desde março, em uma entrevista. “E queremos continuar crescendo.”
Embora o JPMorgan tenha conquistado o primeiro lugar em 2021, outros bancos de Wall Street também se beneficiaram de fortes investimentos dos fundos de venture capital em empresas de tecnologia da região e da volumosa emissão de ações de empresas brasileiras. O Goldman Sachs (GS) disse que teve um ano recorde em mercados globais e banco de investimento na América Latina.
Os planos de contratação do JPMorgan para os próximos três anos estão centrados principalmente em Buenos Aires. As mais de 500 novas contratações se somarão aos atuais 3.850 funcionários do banco situados em seis países da América Latina: Chile, Colômbia, Peru, Argentina, Brasil e México, segundo Eyzaguirre, que também é o chefe do banco de investimento da América Latina. As prioridades incluem pagamentos, negócio no qual o banco está investindo pesadamente, bem como gestão de recursos de terceiros e de fortunas, disse ele. O JPMorgan possui corretoras locais no Brasil, México e Chile.
Com receita de US$ 239 milhões, o JPMorgan passou do segundo para o primeiro lugar em comissões ganhas com assessoria em fusões e aquisições e coordenação de emissão de ações e dívida para empresas da América Latina e no Caribe, segundo a empresa de pesquisa Dealogic, com sede em Londres. O total de receita na região aumentou 50% para US$ 2,17 bilhões, o maior valor desde o recorde de US$ 2,68 bilhões em 2007, disse a Dealogic.
“O Brasil foi a força motriz por trás dos volumes crescentes na região, representando dois terços do total da receita de banco de investimento em 2021, e conseguimos ganhar participação de mercado no país mesmo considerando a presença de concorrentes locais muito fortes”, disse Eyzaguirre.
Principais transações
Entre suas transações mais emblemáticas, o JPMorgan liderou um empréstimo-ponte de R$ 7,8 bilhões para a Aegea, que faz parte do grupo que colocou propostas ganhadoras na privatização da empresa de água e esgoto do Rio de Janeiro, a Cedae.
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Também participou de um empréstimo-ponte de US$ 1,5 bilhão e de uma carta de crédito de US$ 500 milhões para a MC Brazil Downstream Participações, uma unidade do fundo soberano de Abu Dhabi Mubadala, quando adquiriu a Refinaria Landulpho Alves da Petrobras (PETR4). O banco também esteve entre os coordenadores de um título de dívida externa de US$ 1,8 bilhão lastreado em um projeto e garantido pela empresa.
Fora do Brasil, transações importantes incluem a oferta pública inicial de US$ 618 milhões da plataforma de pagamentos uruguaia dLocal, assim como sua oferta adicional de US$ 888 milhões. O banco também coordenou a venda em bloco de ações da empresa de vendas on-line MercadoLibre (MELI), de US$ 1,8 bilhão.
No Brasil, o JPMorgan subiu para o terceiro lugar no ranking de comissões de banco de investimento, disse a Dealogic. Os negócios incluíram assessoria à empresa de saúde Notre Dame Intermédica na fusão de R$ 54 bilhões com a Hapvida (HAPV3).
O JPMorgan também está investindo agressivamente em fintechs na região. O banco com sede em Nova York anunciou em junho a intenção de comprar participação de 40% no brasileiro C6 depois de adquirir uma fatia minoritária no FitBank um ano antes também no Brasil.
“Em 2022, acreditamos que a região terá um ano desafiador, já que a Covid não está indo embora, o Fed deve reduzir estímulos e aumentar juros, os bancos centrais locais também estão subindo taxas e teremos nossos próprios problemas idiossincráticos da América Latina, principalmente na frente política”, disse Eyzaguirre.
As eleições presidenciais do Brasil em outubro e da Colômbia em maio, bem como uma proposta para mudar a Constituição no Chile, devem aumentar a volatilidade, disse ele.
‘Gigante adormecido’
Mesmo que os negócios de mercados de capitais de renda variável no Brasil tenham retração, os investidores de private equity podem querer aumentar sua exposição ao país, de acordo com Eyzaguirre. “Com diversificação de negócios e geografias, você pode enfrentar esses ciclos e se sair bem”, disse ele.
O México, por exemplo, é um “gigante adormecido” que recuperará sua importância relativa nos negócios de banco de investimento da América Latina depois de representar apenas 11% em 2021, uma fatia pequena em relação ao tamanho de sua economia, disse Eyzaguirre.
“A indústria de tecnologia está nascendo lá”, disse ele. “Esperamos ver algo semelhante ao que aconteceu no Brasil, onde explodiu.”
O esforço de diversificação do JPMorgan inclui a contratação de 80 engenheiros nos próximos três anos para seu negócio de pagamentos, que combina gestão de caixa e soluções de pagamento para clientes corporativos, instituições financeiras e governos.
“Estamos contratando na Argentina uma equipe de tecnologia dedicada à região para acelerar a implantação de recursos de pagamentos locais na América Latina”, disse Eyzaguirre, que também é membro do comitê operacional global corporativo e de banco de investimento do JPMorgan.
O banco também planeja trazer produtos adicionais de gestão de recursos de terceiros para a América Latina, principalmente fundos negociados em bolsa, os chamados ETFs, e está assinando contratos adicionais com distribuidores locais e usando seus próprios canais, disse ele.
Cerca de 450 das novas contratações serão no centro regional de Buenos Aires, onde o JPMorgan já tem 2.400 funcionários atendendo ao banco corporativo e banco de investimento globalmente.
A América Latina “é volátil, mas é dinâmica e com muitas oportunidades”, disse Eyzaguirre.
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