Bloomberg — Uma enxurrada de dados sobre a economia dos Estados Unidos, aumento de salários e preços está prestes a esquentar um debate já acalorado sobre a persistência da inflação.
O índice de custo do emprego, que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, citou em dezembro como uma das principais razões para o mudança do banco central para uma postura mais agressiva sobre a inflação, deve registrar um ganho no quarto trimestre quase no mesmo nível do aumento recorde dos três meses anteriores.
Prevê-se que relatórios separados do governo mostrem que o indicador de preços preferido do Fed avançou no ritmo anual mais rápido em quase 40 anos e que o crescimento econômico melhorou no final de 2021.
“Se a história de que isso é passageiro ainda não tinha sido completamente demolida, mais evidências de pressão e inflação salariais devem finalmente colocar um ponto final nisso”, disse Michael Feroli, economista-chefe no JPMorgan para os Estados Unidos.” É assim que normalmente esperamos que a inflação aumente, não por causa de alguns problemas com fábricas de semicondutores ou portos.”
Isso explica por que as autoridades do Fed devem sinalizar ainda hoje que estão prontos para aumentar as taxas em março.
Os economistas esperam que as métricas de inflação diminuam este ano à medida que os problemas da cadeia de suprimentos se normalizem, mas até que ponto isso vai realmente acontecer depende não apenas das cadeias de suprimentos, mas também dos salários. O ritmo acelerado da inflação observado nos últimos meses reflete uma combinação de fatores, incluindo gargalos no transporte, restrições de capacidade e demanda por bens impulsionada por estímulos.
Uma série de fatores, incluindo infecções por covid-19, responsabilidades relativas aos cuidados dos filhos e aposentadorias antecipadas, reduziram o número de trabalhadores disponíveis do país, impulsionando as empresas a aumentar os salários para atrair e reter funcionários. Para muitas delas, isso está resultando em preços mais altos para os consumidores.
A fabricante de tintas Sherwin-Williams está aumentando os preços em 12% na próxima semana para compensar os custos mais altos. Os custos trabalhistas estão se acelerando com mais velocidade do que nos anos anteriores e alguns trabalhadores estão vendo os salários subirem dois dígitos, disse a empresa em uma ligação em 14 de janeiro.
“Ninguém está satisfeito com os aumentos de preços no momento, mas este é um mercado em que nossos clientes estão acomodando os novos preços”, disse o CEO John Morikis na teleconferência.
Uma pesquisa de janeiro da National Association for Business Economics mostrou que mais da metade dos entrevistados disse que suas empresas aumentaram os preços no quarto trimestre. E muitas empresas não veem as pressões inflacionárias desaparecendo tão cedo.
Mais da metade dos CEOs em todo o mundo espera que a inflação elevada dure até 2023 ou além, de acordo com uma pesquisa do Conference Board. Em uma teleconferência recente de resultados, o CFO da Procter & Gamble, Andre Schulten, disse: “As pressões inflacionárias são amplas, com poucos sinais de alívio no curto prazo”.
Os números mensais de sexta-feira são projetados para mostrar que o índice de preços de gastos com consumo pessoal subiu 5,8% em dezembro em relação ao ano anterior, o maior desde 1982. Isso é quase três vezes a taxa-alvo do Fed.
Preços altos, preocupações com cadeias de suprimentos e um aumento nos casos de Covid-19 no final do ano também afetaram os gastos dos consumidores. O consumo provavelmente aumentou no quarto trimestre em comparação com o período anterior, mas uma retração nos gastos no último mês do ano indica um impulso limitado para o crescimento no início de 2022.
O Produto Interno Bruto, previsto para quinta-feira (27), deve ter crescido 5,3% anualizado nos últimos três meses do ano, refletindo em grande parte a reposição de estoques esgotados da empresa.
Powell tem afirmado que o Fed está observando de perto quaisquer sinais de uma espiral de preços e salários, um termo usado para descrever um ciclo auto-alimentado no qual os trabalhadores pedem salários mais altos para ajudar a compensar o impacto da inflação em seu poder de compra. Em um esforço para proteger os lucros, as empresas aumentam ainda mais os preços, alimentando o ciclo.
Este é apenas o começo de uma recuperação salarial, portanto, resta saber se uma espiral de preços e salários está se consolidando, disse Brett Ryan, economista sênior do Deutsche Bank para os dos EUA. “Essa é uma história diferente, e isso leva um tempo para acontecer.”
Mas “é outro sinal para o Fed de que eles estão - se não muito perto - de seu objetivo máximo de emprego”, disse Ryan.
O ICE - Índice de Custo de Emprego - é uma medida mais ampla de compensação e reflete as mudanças tanto nos salários quanto nos custos dos benefícios. E, ao contrário da medida de rendimentos divulgada no relatório mensal de empregos, o ICE não é distorcido por mudanças de emprego entre ocupações ou indústrias. O aumento de 1,3% no terceiro trimestre foi o maior em dados comparáveis desde 2001.
No geral, o ICE subiu 3,7% no período de 12 meses encerrado em setembro. Os salários e vencimentos aumentaram 4,2% no mesmo período.
Muitos economistas esperam que as autoridades do Fed anunciem um aumento de 25 pontos-base na taxa de juros em março, que seria o primeiro aumento desde 2018. Mas a economista da Bloomberg, Anna Wong, diz que um ganho anual superior a 4,5% em salários e vencimentos no relatório do ICE de sexta-feira (28) é o tipo de coisa que poderia fazer com que um aumento de 50 pontos-base em março deixe de ser uma possibilidade remota para ser uma uma proposta mais concreta.
“Eles estão muito preocupados com a espiral salário-preço”, disse Wong.
– Com a contribuição de Chris Middleton.
– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, localization specialist da Bloomberg Línea.
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