Bloomberg Línea — Na semana passada, a BRF (BRFS3) comunicou ao mercado que irá emitir de 270 milhões a 324 milhões de novas ações ao mercado. Isso significa ampliar em até 40% a base acionária da empresa, em uma jogada que pode render à BRF cerca de R$ 8 bilhões. Essa pode ser uma das raras emissões a acontecer em 2022. Mais de 10 empresas já engavetaram os planos de IPO na B3.
Nos bastidores do processo de emissão está um jogador que tem se mostrado discreto, mas sempre atento a todos os movimentos e possibilidades disponíveis. A Marfrig Global Foods (MRFG3) é a maior acionista individual da BRF e tem seu fundador e controlador, Marcos Molina, o personagem fundamental que pode ditar novos rumos para ambas as empresas.
Veja mais: BRF escolhe 11 bancos para oferta de ações de até R$ 7,9 bi: Fontes
A Marfrig tem hoje 31,66% das ações da BRF. Fontes próximas a Molina garantem que sua empresa acompanhará o follow-on em seu limite máximo, sinalizando que não está disposta a ser diluída e abrir mão de qualquer tipo de participação que já tenha conquistado na BRF. Para manter sua fatia atual, a Marfrig teria que dispor de até R$ 2,36 bilhões, considerando a possibilidade de o lote adicional de ações também ser colocado à venda e o valor do fechamento de ontem da ação da BRF.
Dado que a Marfrig não abrirá mão da sua participação atual, circula no mercado o debate se Marcos Molina estaria disposto ou não ampliar ainda mais sua fatia no bolo acionário da BRF. Um dos argumentos entre aqueles que defendem o aumento é a possibilidade, quase única, de driblar a famosa “poison pill”, ou seja, não efetivar uma OPA (Oferta Pública de Aquisição das Ações).
O estatuto da BRF prevê que o acionista que detiver 33,33% das ações da empresa se obriga a realizar uma OPA, oferecendo um prêmio aos demais detentores dos papéis. Contudo, a regra da OPA não se aplica, entre outras situações, no caso de uma “subscrição de ações da Companhia, realizada em uma única emissão primária, que tenha sido aprovada em Assembleia Geral de acionistas da Companhia”, conforme texto do estatuto da BRF.
Veja mais: Como a grande indústria da carne alimenta a destruição da Amazônia
Nesse debate, existem ainda aqueles que apostam que não há necessidade da Marfrig aumentar sua participação na BRF, porque ela já é, de longe, a maior acionista. Enquanto a empresa de Marcos Molina já detém 31,66% do total de ações, Petros, Previ e Kapitalo Investimentos possuem, respectivamente, 7,01%, 6,13% e 5,02% e foram o bloco dos controladores. Os membros do conselho e diretores da BRF possuem juntos 0,87%, 0,5% das ações estão em tesouraria, 19,81% são referentes às ADR’s e 28,98% estão em negociação na bolsa.
Na última segunda-feira, teve início o período para que os acionistas informem se pretendem acompanhar a emissão parcial ou totalmente ou mesmo se não seguirão o follow-on, tendo sua participação na BRF diluída. O prazo de reserva termina na próxima sexta-feira, pois, na segunda (01/02), será fixado o preço por ação e concluído o procedimento de bookbuilding na sequência.
Mesmo sem ter todas as cartas na mesa para decidir se aumenta ou não a participação da Marfrig no capital da BRF, Molina ainda tentar entender a jogada feita pela Petros. Logo após a aprovação da emissão pela assembleia de acionistas, o representante do fundo de pensão dos funcionários da Petrobras apresentou um parecer feito pelo ex-presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) Marcelo Trindade, em que ele conclui que existem sim brechas para que seja cobrado um ágio no preço das ações, caso a Marfrig chegue a 33,33% do capital da BRF.
Veja mais: O que significa a joint venture da BRF com o fundo soberano saudita?
Segundo uma fonte próxima a Molina, acompanhar o follow-on e manter a participação da Marfrig na BRF é algo certo. Contudo, o executivo não estaria disposto a comprar uma briga jurídica com um importante acionista da empresa.
Leia também
Goldman vê Vale pagando dividendo alto em 2022 com retomada da China