Bloomberg — Bill Gates e Melinda French Gates estão mudando o controle de sua fundação de US$ 50 bilhões, uma das organizações filantrópicas mais poderosas do mundo, cumprindo uma promessa feita depois que anunciaram sua separação no ano passado.
A Fundação Gates está adicionando quatro novos membros ao seu conselho de administração: seu CEO Mark Suzman; o bilionário do Zimbábue, Strive Masiyiwa; Thomas Tierney, cofundador do Bridgespan Group, um dos consultores mais poderosos do setor sem fins lucrativos; e Minouche Shafik, ex-funcionária do Banco Mundial, que agora é diretora da London School of Economics.
“Estamos honrados que esses três indivíduos profundamente conhecedores e respeitados tenham concordado em se juntar ao conselho da fundação”, disse Suzman, 53 anos, em comunicado na quarta-feira (26). “Eles trazem um incrível histórico de impacto em negócios globais, filantropia e desenvolvimento.”
A fundação com sede em Seattle disse que pode haver até nove membros no futuro. As conversas estão “em andamento sobre como trazer mais pessoas à lista inicial para melhorar a representação em termos de gênero, geografia e especialização”.
Os novos membros juntam-se a Gates e French Gates no conselho, adicionando uma medida de diversidade a um grupo anteriormente composto por um pequeno círculo de amigos e familiares. Isso incluiu o pai de Bill, que morreu em 2020, e Warren Buffett, que doou mais de US$ 30 bilhões para a entidade filantrópica. Logo após o anúncio do divórcio, o chefe da Berkshire Hathaway, anunciou que estava deixando a fundação, enfatizando que era porque ele tinha um “papel inativo”.
O homem de 91 anos, no entanto, há muito procura evitar conflitos e, na época em que ele saiu, o processo do divórcio estava se tornando cada vez mais amargo. Surgiram relatos pouco lisonjeiros sobre a infidelidade de Gates, laços com o agressor sexual morto, Jeffrey Epstein, e afirmações de que seu gestor financeiro, Michael Larson, tornava o ambiente de trabalho tóxico.
A fundação implementou medidas para garantir que continuaria funcionando, anunciando que o ex-casal adicionaria US$ 15 bilhões à doação de US$ 50 bilhões nos próximos anos e acrescentou uma alternativa no caso de não conseguirem trabalhar juntos: French Gates deixaria o cargo após dois anos.
Se ela sair, French Gates, de 57 anos, receberá dinheiro de Gates, de 66 anos, por seu trabalho filantrópico, que é separado da doação da fundação. Gates já transferiu bilhões de dólares em ações de empresas para French Gates, que está construindo sua própria empresa de investimentos filantrópicos, a Pivotal Ventures.
Com bilhões de dólares por ano em doações, a fundação opera em todo o mundo com foco em saúde, gênero e educação. O mundo filantrópico tem especulado se um novo conselho – o corpo diretivo da organização – mudaria sua abordagem de doação.
O anúncio inicial também aumentou as expectativas de que levaria a uma maior diversidade, um problema no mundo da filantropia do big money.
Edgar Villanueva, fundador do Decolonizing Wealth Project, disse que isso é particularmente importante para a Fundação Gates por causa de sua influência global.
“O que eles fazem no mundo cria um grande impulso para o setor, então todos os olhos estão voltados para eles”, disse ele este mês.
Masiyiwa é fundador e presidente executivo da Econet Global, uma empresa de telecomunicações que opera na África, Ásia, Europa e América Latina. A Econet oferece serviços de telefonia, banda larga e satélite, e também é um importante provedor de pagamentos móveis, um foco do trabalho da Fundação Gates na África, expandindo os serviços financeiros para os pobres.
Masiyiwa disse no comunicado que trabalha com a fundação há 20 anos, “começando com esforços para melhorar a produção agrícola de mais de 400 milhões de pequenos agricultores na África, para melhorar os meios de subsistência das pessoas mais pobres da África e do mundo”.
Shafik, a única outra mulher no conselho além de French Gates, trabalhou para o Banco Mundial, no Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido e é ex-vice-governadora do Banco da Inglaterra.
Shafik, que nasceu no Egito, estudou nos Estados Unidos e foi nomeada baronesa do Reino Unido em 2020, atualmente é diretora da LSE.
“Passei minha carreira trabalhando em algumas das grandes instituições internacionais e acadêmicas do mundo porque, como Melinda e Bill, percebo que os problemas mais difíceis que a humanidade enfrenta não se limitam a um único país ou setor, mas são desafios universais que exigem razão, empatia e cooperação”, disse ela no comunicado.
Tierney fundou a Bridgespan em 2000 - na época em que a Fundação Gates foi formada - depois de administrar a consultoria de gestão Bain & Co. A Fundação Gates trabalhou com a Bridgespan, que se tornou mais proeminente recentemente por seu papel em ajudar MacKenzie Scott a distribuir bilhões de dólares em ritmo recorde.
Suzman, ex-jornalista e funcionário das Nações Unidas ,que cresceu na África do Sul do apartheid, ingressou na organização em 2007 e foi promovido ao cargo mais alto em fevereiro de 2020. Suzman, que é branco, disse em uma carta, na quarta-feira (26), que trazer diversidade para a equipe da fundação, bem como a suas doações tornou-se uma de suas principais metas.
A diversidade também é uma prioridade ao adicionar novos membros ao conselho.
“Estamos tendo conversas ativas sobre como aumentar nossa lista inicial para melhorar a representação em gênero, geografia e especialização”, escreveu Suzman em sua primeira carta anual para a fundação, um trabalho normalmente feito por Bill e French Gates.
Reagindo aos novos membros na quarta-feira (26), Villanueva disse que é um passo na direção certa, mas que ainda é pouco e que é preciso ir mais longe.
“Gostaria de ver uma oportunidade para as pessoas que são da comunidade, atuando em campo”, disse ele, acrescentando que enquanto Gates e French Gates estiverem no comando, haverá um desequilíbrio de poder. “Em última análise, ainda é uma fundação familiar, o dinheiro da sua família, você ainda está sentado no cadeira de presidente.”
Isso é comum quando as fundações familiares adicionam membros ao conselho, disse ele.
“É muito improvável que eles tragam alguém que seja uma ameaça à estrutura de poder.”
Um “ethos tecnocrático” dominou a Fundação Gates por muito tempo, e uma ampliação no conselho pode “se tornar uma oportunidade de incorporar em sua liderança perspectivas mais centradas na comunidade”, disse Benjamin Soskis, associado de pesquisa sênior do Centro de Organizações Sem Fins Lucrativos e Filantropia do Urban Institute.
“Ninguém espera que um conselho maior perturbe totalmente as abordagens e prioridades de longa data da fundação, mas trazer um pouco da crítica externa para a própria fundação seria uma coisa boa”, disse Soskis, cujo trabalho foi financiado pela fundação no passado.
– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.
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